sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Piaget condenado a pagar 40 mil euros a aluna vítima de praxe

Primeira indemnização decidida pelo tribunal contra escolas e a favor de estudantes humilhados em praxes
notícia aqui

O Tribunal da Relação do Porto condenou o Instituto Piaget a pagar uma indemnização de cerca de 40 mil euros a uma aluna vítima de actos de praxe, considerados degradantes e humilhantes. O acórdão, que diz respeito a factos ocorridos em 2002, em Macedo de Cavaleiros, considera que constitui ilícito civil a conduta de uma instituição do ensino superior que, embora conhecendo o conteúdo de um código de praxe ofensivo, intimador e violador da dignidade da pessoa humana, permite ao mesmo tempo que continue a ser aplicado.

Por outro lado, frisam os juízes, tal instituição tem o dever específico de respeitar, fazer respeitar e promover direitos fundamentais, como o respeito mútuo, a liberdade, a solidariedade e a dignidade da pessoa humana, pelo que incorre na obrigação de indemnizar quem tenha sido ofendido pelas praxes académicas, relativamente aos danos patrimoniais e morais. O Instituto Piaget informou que não vai comentar a decisão, mas que dela vai apresentar recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.

Esta é a primeira decisão conhecida em que uma instituição é condenada a ressarcir um aluno vítima de praxes académicas.
A acção foi proposta por uma ex-aluna do curso de Fisioterapia, Ana Damião, que se queixou de praxes violentas, degradantes e humilhantes e de nada ter acontecido depois de denunciar os factos aos responsáveis pela escola, que até lhe aplicou uma sanção disciplinar "pela forma subjectiva e excessiva como relatou os factos". Ana Damião teve que anular a matrícula e afastar-se da cidade, onde era alvo de frequentes ofensas e insultos por ter denunciado o caso.

Numa primeira decisão, o Tribunal de Macedo de Cavaleiros acabou por não lhe dar razão, já que, embora confirmando os factos, acabou por absolver a escola considerando não ter ficado provado que a aluna se tenha recusado a submeter-se às actividades da praxe. Na decisão de recurso, os juízes da relação fazem uma severa apreciação desta decisão, considerando que nela se "confunde de forma simplista a não recusa com o consentimento" ao mesmo tempo que "não valorizou a ambiência de medo, constrangimento e ansiedade" vivida pela aluna.

O acórdão agora conhecido afirma mesmo que "mal andou o tribunal [de Macedo de Cavaleiros]" ao afirmar que "as praxes académicas constituem um fenómeno público e notório e do conhecimento geral", uma vez que tal "não permite concluir que autora [a aluna] ou qualquer cidadão comum conheça o teor dessas práticas: como simular actos sexuais com um poste, simular um orgasmo, exibir a roupa interior, proferir expressões de elevada grosseria ou ser chamado de bosta".

A indemnização, de 38.540 euros, acrescidos de juros desde o início do processo, resulta dos danos morais e patrimoniais sofridos por Ana Damião, já que perdeu o ano e foi forçada a sair da escola, tendo entretanto concluído outro curso numa escola de Chaves. A sua advogada, Elisa Santos, considera que, além de fazer justiça, a decisão é também "um prémio para a atitude extraordinária e corajosa" mantida por Ana Damião.

(Público,
05.12.2008)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

quem disse que as escolas não têm nada a ver com as praxes, enganou-se!

A Ana Sofia Damião foi a primeira rapariga que ousou levar o tema das praxes para uma sala de tribunal.

Foi praxada em 2002 e 6 anos depois (no dia 24 de Novembro de 2008) o Tribunal da Relação do Porto condenou o Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros a pagar uma indemnização à Ana, por danos morais e patrimoniais.

Este foi o segundo caso que levou os tribunais a condenarem as "praxes académicas". Mas foi a primeira vez que foram atribuídas responsabilidades a uma instituição de ensino superior que escolheu compactuar com as praxes e com a "seita" que as organiza.


I - Constitui ilícito civil a conduta de uma instituição do ensino superior que embora conhecendo o conteúdo de um “Código de Praxe” ofensivo, e intimador, violador da dignidade da pessoa humana, permite que o mesmo continue a ser aplicado.
II - Tal instituição tem o dever específico de respeitar, fazer respeitar e promover direitos fundamentais, como o respeito mútuo. A liberdade, a solidariedade, a dignidade da pessoa humana.
III - Como tal a instituição tem a obrigação de indemnizar quem tenha sido ofendido pelas ditas praxes académicas, relativamente aos danos patrimoniais e morais.

(sumário do acórdão do Tribunal da Relação do Porto)


É de saudar a coragem da Ana Sofia Damião, que não desistiu - com todas as dificuldades que lhe foram levantadas em todo o processo.

A persistência da Ana, assim como a da Ana Santos (que acabou por ver condenados 7 dos seus "praxistas", há poucos meses atrás), foi a fórmula que tornou possível mais esta vitória. Foram as duas pioneiras e vitoriosas.

Quem se lhes seguir já tem o caminho facilitado.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Évora: estudantes manifestam-se... pela praxe e tradição???

Estudantes de Évora protestaram contra restrições às praxes
Público (nº 6790, 02.11.2008, pág. 24) - M.A.Z.

O Dia da Universidade de Évora foi ontem marcado por um protesto de estudantes contra as limitações impostas pelas autoridades académicas à prática das praxes. Cerca de 600 alunos juntaram-se no claustro maior da instituição, trajados a rigor e empunhando cartazes a apelar à "tradição académica". A música das tunas deu lugar ao silêncio e o acto de estender as capas para que o cortejo académico passe por cima delas foi substituído por um virar de costas aos docentes. Para o Conselho de Notáveis, órgão constituído por alunos das diferentes licenciaturas, esta foi uma acção que visou mostrar a sua indignação com as medidas tomadas pela reitoria. "Esta foi a forma encontrada para mostrarmos que somos a favor da tradição académica e da praxe, devendo a Universidade assumi-la como sua, respeitá-la, e compreendê-la, ao invés de a afastar e rejeitar, uma vez que a praxe vai continuar a existir", afirmou Hugo Quintino, membro daquele conselho. O reitor Jorge Araújo disse, por seu lado, que os alunos estavam no seu direito de se manifestar, lamentado, contudo, o facto de "não reagirem relativamente a coisas muito mais graves que acontecem, dando a ideia de que a capacidade de indignação dos estudantes se resume às praxes". Jorge Araújo salientou que as praxes protocolares não estão proibidas, "o que está proibido são as alarvidades como gritar, chafurdar, sujar e todas as práticas que no fundo podem atentar contra a saúde física e psíquica dos alunos".

Ler mais em comentário a este post

segunda-feira, 3 de novembro de 2008


O estranho texto da JCP

A JCP, o RJIES e as praxes
Jornal Mudar de Vida - Diana Dionísio - Domingo, 2 Novembro, 2008

A Juventude Comunista Portuguesa fez um texto intitulado «RJIES – proibição das praxes», que está no seu blog e que enviou para a imprensa. Na semana passada, pelo menos nas paredes da Faculdade de Letras de Lisboa, apareceram uns cartazes impressos a tinta azul com o título Comunicado e esse mesmo texto, assinado pela JCP. Nesse texto, a proibição das praxes e o RJIES (o novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior que, sem se chamar “Regime de Privatização do Ensino”, tirou os estudantes nos órgãos de discussão e decisão das escolas e os trocou por representantes de empresas) são metidos no mesmo saco, são “a mesma coisa”, e o apelo é para que todos os estudantes (depreende-se: os que lutam contra o RJIES e os que lutam pelas praxes) se unam.

A JCP dá tanta importância à praxe (e está tão metida nela) que se dá ao trabalho de escrever um texto sobre isso. Isto revela, aliás, que as praxes andam mesmo a ganhar muito poder dentro das escolas e muito tempo e espaço da cabeça dos estudantes – facto triste e perigoso a que se deve dar atenção.
Mas os membros da juventude comunista estão também preocupados com a “outra” luta… e por isso querem juntar todos. Hum… e até dá jeito: olhem lá o pessoal todo das praxes numa manifestação! Uooou! As grandes massas de gente seguidista a engrossar as magras fileirinhas de pessoas que querem lutar por uma escola pública, livre, gratuita, para todos, sem mercado.

E pronto, já têm uma bela estratégia de manipulação de massas! É só criar um novo grito: «a proibição das praxes é um atentado à liberdade dos estudantes!» Para eles tem tudo que ver com o RJIES, é mais uma ameaça do RJIES. Há que ver, já agora, que ainda por cima isto é mentira: o RJIES não proíbe as praxes. Estas recentes “lutas”, RGAs, protestos contra a proibição das praxes só nasceram porque o Mariano Gago foi o primeiro ministro que teve a ousadia de falar sobre elas e contra elas, e o que disse foi que não deixaria de averiguar os abusos. Ele também não proibiu nada. Quem proibiu foram alguns directores de algumas faculdades (cheios de medo de serem responsabilizados, pois sabem muito bem de que é que as suas casas gastam!). Esses proibiram que houvesse praxes dentro das suas instalações, coisa que nem sempre chegou a acontecer na prática – veja-se o Instituto Superior Técnico, por exemplo, onde continuou tudo na mesma apesar da proibição.

Acho incrível que se ache que a luta por uma outra escola – uma escola que não seja mercado, uma escola em que as pessoas se relacionem em pé de igualdade e em que busquem por conhecer novas coisas – e a “luta” por podermos ser carneiros e burros e irmos atrás das praxes seja considerada a mesma coisa. Para mim, são o oposto. Também o ministro Mariano Gago devia pensar um pouco sobre isto, quando se afirma contra as praxes mas acaba com a democracia nas escolas e dá as faculdades às empresas, de mão beijada. Mas o ministro é do poder, faz o que o poder lhe manda, já se sabe. O que me inquieta de facto são aqueles com quem eu deveria estar na luta por mudar o mundo, jovens estudantes que dizem também querer lutar contra o RJIES, neste caso. E acham que o conseguem fazer enquanto milhares de estudantes-avestruzes têm a cabeça enfiada em baldes de esterco?! E que o conseguem fazer precisamente com esses que têm lá a cabeça e que andam a lutar para que não se acabe a tradição de tapar a boca, os olhos, os ouvidos e o nariz aos estudantes?!

As praxes ensinam a deixar o sentido crítico na cama quando saímos de casa e a cumprir as ordens que recebemos dos outros – desde que sejam superiores hierárquicos, claro. As praxes são o contrário do pensamento, da igualdade, da fraternidade, do salto por cima dos muros. As praxes são o prato de sopa já inventado e já gasto que reflecte no seu fundo de loiça tudo o que nos vende (ou até oferece, se for preciso!) a nossa sociedade capitalista, carneirista, individualista, mesquinha, cinzenta, parca de novas ideias e de atitudes diferentes e livres e com capatazes empenhados em fazer esconder a todo o custo que mudar de vida é possível.

http://www.jornalmudardevida.net/?p=1287


O texto da Juventude Comunista Portuguesa vai abaixo:

NOTA DE IMPRENSA
RJIES - proibição das praxes

2008-10-10

Está a ser discutida nas várias Instituições de Ensino Superior a aplicação do novo Regime Jurídico, proposto pelo actual Governo PS/Sócrates e que, tal como a JCP já afirmara, será o passo que faltava para a privatização do Ensino Superior em Portugal.

Já se verifica, através dos novos estatutos aprovados na maioria das instituições, que é drasticamente reduzida a participação dos estudantes nos novos órgãos de gestão, nomeadamente no Conselho Geral, que passa a ser o principal órgão de deliberação. A par desta situação, verifica-se a entrada das “entidades externas de reconhecido mérito”, que ocupam 30% do Conselho Geral (muito mais que o número de estudantes), e que na generalidade, não são mais que representantes de empresas e grupos económicos a ingerir na vida das instituições, segundo os seus interesses, que são naturalmente os da obtenção do lucro. É criada na maior parte dos locais, a figura do provedor do estudante, que sob a capa de “ajudar” os estudantes a resolver os seus problemas, deixam a claro o objectivo de substituição do papel das Associações de Estudantes. O Governo promove ainda a transformação das Instituições em fundações de direito privado, que é legitimada por este Regime Jurídico.

No contexto deste Regime Jurídico, verifica-se que em vários dos novos estatutos criados encontram-se restrições relativamente a actividades académicas, como a praxe, nomeadamente no que diz respeito ao seu tempo de duração e aos locais em que pode ser feito, que em algumas instituições acaba por ser a maior parte do seu espaço. Segundo o que está estipulado, a frequência às aulas não pode ser posta em causa para a realização destas actividades. Em caso de não cumprimento, os estudantes estão sujeitos a processos disciplinares. A JCP considera que tais restrições são uma ingerência na vida dos estudantes, e que é a eles que cabe as decisões no que diz respeito às suas actividades académicas. Estas restrições revelam o perigo e o precedente de impedimento de qualquer tipo de actividade, nomeadamente as de carácter reivindicativo.

A JCP apela a que os estudantes se unam na luta contra este Regime Jurídico que põe em causa a gestão democrática e promove a privatização do Ensino Superior, assim como a luta contra todas as políticas de direita que põe em causa o seu acesso e frequência universal, a luta por um Ensino Superior Público, gratuito, de qualidade e democrático para todos!

O Secretariado da Direcção Central do Ensino Superior da JCP

http://www.jcp-pt.org/noticias.php?id=420&categoria=3&categoria2=0&categoria3=0

sábado, 1 de novembro de 2008

Sr. Gago, acha que alguma vez o desfecho seria diferente?

Escola de Leiria afasta hipótese de praxe estar na origem de hospitalização de aluno

Aqui fica um parágrafo curioso desta notícia:

O jovem de 18 anos começou a ter os primeiros sintomas após o tradicional cortejo académico, realizado na quarta-feira, dia 22. “Na terça-feira tivemos um jantar de curso tranquilo com professores e depois fomos para o recinto. Ele estava bem e no dia seguinte, no cortejo, aparentemente também estava bem. Após o baptismo* começou a sentir dores de cabeça e muito frio. O padrinho levou-o então para sua casa. Deram-lhe banho e tentaram aquecê-lo com um cobertor. Como continuava com dores de cabeça, pediu para telefonar aos pais”, descreve Rui Andrade, presidente da Associação de Estudantes da ESTG.

*o baptismo é aquele "acontecimento" em que se levam as pessoas para um sítio com água, muita água, e se molham essas pessoas da cabeça aos pés. Quer esteja ou não uma condição meteorológica compatível.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

a investigação é só para confirmar que o rapaz não foi para o hospital por causa das praxes...

...mas porque será que as praxes deixam sempre dúvidas? não é isso suficiente para se perceber que as praxes e as vontades de quem praxa são arbitrárias e que, por isso, TUDO pode acontecer? e o facto de TUDO poder acontecer não é suficiente para se achar que não devem existir praxes?

(de Jornal de Notícias)

Aluno sofre uma ruptura de aneurisma após praxe


Um aluno da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria sofreu a ruptura de um aneurisma cerebral, depois de uma praxe académica. A escola pondera a abertura de um processo de averiguação. Apesar dos receios da família, não está provada relação directa entre o incidente e o ritual.

Luís (nome fictício) tem 18 anos e é aluno do primeiro ano do curso de Engenharia Electrónica da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Politécnico de Leiria. Na passado dia 22, o jovem participou nas actividades de recepção ao caloiro - um desfile pelas ruas e o "baptismo", num jardim da cidade. Começou a queixar-se de fortes dores na cabeça e vómitos, acabando por ser transportado ao Hospital de Santo André, naquela cidade.

Fonte daquela unidade explicou que o aluno deu ali entrada, cerca das 21 horas, "com referência, pela pessoa que o acompanhava, de consumo elevado de bebidas alcoólicas". Permaneceu internado até à manhã do dia seguinte. Segundo o hospital não apresentava qualquer queixa nessa altura.

Mas a mãe do jovem contou ao JN que "as dores não passaram e foram-se intensificando".

Por isso, no sábado, voltou ao hospital. Foi-lhe diagnosticada, então, uma hemorragia intracraniana resultante da ruptura de um aneurisma cerebral (ver caixa), tendo sido transportado ao serviço de neurocirurgia do Centro Hospitalar de Coimbra, onde foi submetido a uma intervenção cirúrgica, na última terça-feira, que se prolongou por mais de sete horas. Permanece internado.

A mãe explica que, até sábado, ninguém sabia que o jovem tinha um aneurisma. E mostra-se convencida de que as actividades realizadas durante a praxe académica "poderão ter contribuído" para a ruptura.

"É certo que a ruptura de um aneurisma pode acontecer em qualquer circunstância, mas o que os alunos são sujeitos nas praxes - os pinotes, os banhos de água fria - podem provocar danos a quem tenha problemas de saúde, mesmo que não saiba". Por isso, adverte os outros pais para que, sempre que possível, "evitem que os filhos andem nestas coisas".

Carlos Neves, responsável da ESTG, afirmou ao JN que a escola está a ponderar abrir um processo de averiguação para apurar o que se passou naquela praxe. Ontem, o responsável ouviu os familiares do aluno, a Comissão de Praxes da escola e outros jovens que participaram nas actividades.

"Por aquilo que nos foi dito até agora, não se terá passado nada de anormal, mas estamos a averiguar se haverá uma relação directa entre a praxe e o acidente", afirmou.

Carlos Neves sublinhou que, apesar dessas actividades serem externas à escola, os responsáveis da ESTG procuram "controlar e observar", de forma a evitar eventuais excessos.

Rita Genésio, da Comissão de Praxes, contou que na véspera da praxe (terça-feira à noite), Luís terá assistido a dois concertos, integrados no programa de recepção ao caloiro. "Não terá dormido nessa noite e, quando iniciou as actividades, devia estar muito cansado", afirmou, assegurando que no dia de praxe "não houve excessos".

(mais notícias deste caso aqui, aqui e aqui e ainda aqui)

Manifestem-se, que faz bem à saúde! #3

(de O Mirante online)

Estudantes protestam contra proibição de praxes na Agrária

O presidente da Escola Agrária diz que os estudantes não cumpriram o que estava acordado. Na Escola de Enfermagem também não houve praxes, por decisão dos estudantes.

A direcção da Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS) proibiu as praxes aos caloiros neste ano lectivo, o que motivou um ruidoso protesto de alunos daquela e de outras escolas durante a sessão solene de abertura do ano lectivo do Instituto Politécnico de Santarém. Uma cerimónia que decorreu no dia 24 de Outubro no auditório da ESAS ao mesmo tempo em que cá fora algumas dezenas de alunos entoavam canções e passavam de mão em mão bolas feitas de bosta.

Alguns “exageros” terão estado na origem da decisão, mas o presidente da direcção da escola preferiu não entrar em pormenores. Jorge Justino apenas confirmou ao nosso jornal que as praxes foram efectivamente canceladas. O responsável diz que os estudantes não cumpriram o acordo estabelecido previamente com a direcção da ESAS sobre o desenvolvimento dessas actividades. Uma linha de orientação que havia sido aprovada após reuniões entre as duas partes e onde terão sido estabelecidos alguns limites para evitar situações desagradáveis como a que redundou na condenação de alguns alunos em tribunal após queixa apresentada por uma caloira.

Ana Paula Graça, presidente da Associação de Estudantes da Escola Agrária, também não quis especificar que exageros estiveram na origem da decisão e garantiu que os estudantes vão continuar unidos nos protestos em prol das praxes. Nesse dia, à falta de caloiros, alguns alunos veteranos da ESAS simularam praxes entre eles, onde não faltaram as bolas feitas de bostas de vaca que circularam de mão em mão. Os alunos da Agrária não vão participar no desfile do caloiro, que agrega todas as escolas do IPS, em sinal de protesto pela suspensão das praxes.

Na Escola Superior de Enfermagem de Santarém também não houve praxes este ano, por decisão da associação de estudantes e da comissão de praxes. O presidente da escola, José Amendoeira, garantiu ao nosso jornal que essa foi uma decisão dos estudantes e que não houve qualquer proibição ou imposição por parte da direcção da escola, para além dos limites que devem existir nas actividades de integração dos novos alunos.

No entanto, na sessão de abertura do ano lectivo do Politécnico de Santarém, o presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Enfermagem, João Diogo Gonçalves, falando em nome de todos os alunos do IPS, tinha deixado o apelo às direcções das escolas para serem sensíveis às reivindicações dos alunos em nome das tradições académicas.

“Deixo o apelo a todos os órgãos directivos das diferentes escolas e do próprio Instituto Politécnico para que sejam sensíveis na forma como lidam com esta questão, pois acredito que todos querem chegar a um entendimento. E aos estudantes apelo que sejam responsáveis na forma como manifestam os vossos pontos de vista mas nunca desistam de defender aquilo em que acreditam. Não se deixem levar pelo conformismo e lutem por estas tradições que unem os estudantes[não é contradição? a praxe é conformista e conservadora...!], disse João Gonçalves, que foi muito aplaudido por dezenas de estudantes do IPS que entraram no auditório quando começou a falar.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Família de Diogo Macedo quer reabrir o processo

Família de estudante morto depois de praxado quer reabrir processo-crime
Público (n.º 6784, 27.10.2008, pág. 8) - Natália Faria

Mãe de Diogo Macedo espera que, no decurso da acção cível, surjam novos elementos que permitam apurar responsabilidades na morte do estudante de 22 anos, em Outubro de 2001

Foi marcada para 14 de Novembro a próxima sessão do julgamento da acção cível interposta por Fátima Macedo, mãe de um jovem que morreu em Outubro de 2001, alegadamente na sequência de uma praxe a que foi sujeito na Universidade Lusíada, em Famalicão.
Fátima Macedo reclama uma indemnização de 210 mil euros à Minerva - fundação que detém a Lusíada. No entanto, segundo adiantou ao PÚBLICO a advogada Sónia Carneiro, o que a família espera é que no decurso desta acção surjam novos elementos que permitam reabrir o processo-crime que o Ministério Público (MP) arquivou, em Janeiro de 2004, por incapacidade de determinar quem foram os responsáveis pelas agressões que acabaram por provocar a morte de Diogo Macedo.
"Houve uma investigação criminal, que durou três anos, mas que se mostrou inconclusiva porque o Ministério Público conseguiu determinar que o Diogo foi vítima de agressões mas não conseguiu apurar a autoria dessas agressões", recorda Sónia Carneiro, dizendo-se convencida de que "a investigação ficou aquém do que poderia ter ido".

Muro de silêncio
Porque não têm "capacidade investigatória para apurar novos elementos", os advogados da família decidiram, em Janeiro de 2007, avançar com a acção cível agora em julgamento, esperando que, sete anos volvidos, "as testemunhas consigam 'lembrar-se' do que aconteceu durante a praxe".
O muro de silêncio que se criou entre os elementos da tuna da Lusíada, a Académica, onde Diogo Macedo, então com 22 anos, tocava pandeireta, terá sido um dos entraves ao processo. Na sessão da passada quinta-feira, o próprio juiz largou um desabafo acerca da "impossibilidade de quebrar o muro de silêncio" em torno daquela morte. De facto, as três testemunhas ouvidas continuam a afirmar-se incapazes de descrever o que se passou na noite em que Diogo foi praxado. "Há uma espécie de amnésia...", lamenta Carneiro.

Caloiro na tuna
Factos: Diogo andava no 4.º ano do curso de Arquitectura, mas nunca passara de caloiro na tuna, sendo por isso frequente vítima das praxes perpetradas pelos colegas.
Na noite de 7 de Outubro de 2004, uma segunda-feira, preparava-se para jantar em casa quando recebeu um telefonema que o levou a ir ao local onde a tuna estava a ensaiar.
Por volta das 23h30, os pais receberam um telefonema a avisar que o Diogo tinha sido transportado para o hospital de Famalicão. Dali seguiu para o Hospital de São João, no Porto, onde entraria em coma profundo.
A máquina que o ligava à vida acabaria por ser desligada a 15 de Outubro. Na sessão de quinta-feira, a médica legista que elaborou o relatório da autópsia confirmou que "as lesões infligidas ao Diogo contraíram--lhe o cerebelo, lesão que o levaria a desfalecer e, mais tarde, a entrar em coma", segundo relatou ao PÚBLICO Sónia Carneiro. Já as testemunhas, elementos da tuna Académica à data dos acontecimentos, confirmaram apenas que Diogo foi praxado - mais exactamente obrigado a fazer flexões e agredido com uma revista no pescoço - tendo sido encontrado mais tarde inconsciente na casa de banho.

Houve suspeitos, mas nenhuma prova
Andreia Sanches

O relatório da autópsia do cadáver de Diogo Macedo desfia um rol de lesões: um hematoma extenso no cerebelo; fractura da primeira vértebra cervical; duas escoriações no lábio; uma escoriação na orelha direita; múltiplas equimoses no tórax; múltiplas equimoses na região lombar; uma equimose no testículo...
Houve um inquérito, ouviram-se testemunhas (estavam 19 pessoas no edifício onde o jovem perdeu os sentidos antes de ser transportado para o hospital), a polícia tinha suspeitos. Aliás, um colega de Diogo chegou a ser constituído arguido. Mas, em 2004, o Ministério Público (MP) concluiu que era impossível "imputar à acção de qualquer pessoa concreta" a produção das "lesões traumáticas crânio-encefálicas e cervicais" que determinaram a morte do jovem de 22 anos.
Diogo nunca passara de caloiro na tuna - era "tuninho" na gíria. A 8 de Outubro de 2001 participou num ensaio, perdeu os sentidos, foi transportado para o hospital e acabou por morrer no dia 15. Ao longo desses dias esteve em coma.
No dia do funeral, a 16 de Outubro, a cerimónia foi interrompida por um oficial de justiça. Um médico do Hospital de São João lançara a suspeita de que Diogo teria morrido na sequência de uma praxe violenta. A autópsia então feita revelou as lesões fatais. O médico, esse, suicidou-se pouco depois. "Fica assim por explicar os motivos que o levaram a veicular tal suspeita", lê-se no despacho de arquivamento do MP.
A universidade falou com os alunos, mas não instalou qualquer procedimento formal para averiguar os factos, uma vez que a Polícia Judiciária já estava a investigar. A tuna negou qualquer acto de violência. E, a 18 de Fevereiro de 2004, uma equipa da Inspecção-Geral do Ensino Superior foi à Lusíada para ver se o assunto "estava apaziguado". Concluiria que mesmo que Diogo tivesse sido agredido, não era possível apurar se tal teria acontecido nas instalações da universidade.
Já o Ministério Público acredita que o que quer que tenha determinado a produção das lesões que mataram Diogo "terá ocorrido com elevado grau de probabilidade" nas instalações da Lusíada entre as 22h15 e as 22h30 de 8 de Outubro de 2001.


domingo, 26 de outubro de 2008

Já cheira mal, esta conversa, mas...

...aqui ficam mais dois posts sobre a "merda" de Évora. É que, realmente, não somos só nós a achar que as praxes são coisas... hummm... estranhas e cheias de contradições.


Do Arrastão, por Pedro Sales:

A cóltura da bosta
O presidente da Associação de Estudantes da Universidade de Évora não compreende o inquérito instaurado pelo reitor às praxes realizadas num dos pólos da Universidade, avisando que elas vão continuar. Afinal, trata-se de um “hábito antigo” que “é uma manifestação cultural que deve ser respeitada”. Mais a mais, como se percebe, os abusos “não têm lugar no nosso conceito de praxe”. Na Universidade de Évora os alunos do primeiro ano podem ter que rastejar nos excrementos dos animais, mas fazem-no com todas as condições de higiene e controlo de qualidade. Podem ser fezes, mas não é uma merda qualquer. Aqui não há abusos, como se sabe. Cultura que é cultura, só com excremento de asno de primeira qualidade. O presidente da associação de estudantes sabe do que fala.

Do Antropocoiso, por Paulo Granjo:
A malta curte é merda
Li a coisa há um par de dias num daqueles jornais gratuitos mas, como não a encontrei online em lado nenhum, pensei que vocês não iam acreditar se eu me limitasse a contar.
O Arrastão forneceu agora um link para uma notícia do DN, pelo que já não passo por mentiroso. É assim:

O presidente da associação de estudantes da Universidade de Évora (a bela terra onde nasci, helàs) ficou muito agastado por, no seguimento de queixas de alunos, o reitor ter proibido umas praxes na escola de regentes agrícolas que deus tenha, cujo ponto alto era fazer os caloiros rastejarem na bosta dos animais, pontualmente apimentada pela de algum praxista que estivesse mais aflito.

Diz o chavalo que a malta gosta tanto da coisa que até há gente do 2º ano que pede pelas alminhas que os deixem também chafurdar no esterco.
Para além do mais, acrescenta, «é uma manifestação cultural que deve ser respeitada».

Eu até sei que aquela antiga escola, agora pólo da Universidade, tinha a tradição de acolher como alunos os filhos mais ineptos dos latifundiários do tempo da outra senhora - o que arrastava consigo um ethos, uma elevação intelectual e um refinamento de gostos como aqueles que costumamos encontrar, nos filmes, entre os membros mais volumosos das equipas universitárias de football americano.

Supunha que a origem social e o nível mental dos alunos se tinham alterado com o tempo, mas não imaginava que tanto tinha sido preservado do ethos original. Tirando as ovelhas negras que se queixaram à reitoria, parece que ainda hoje, ali, a malta gosta é de merda.
Apesar disso - acreditem num antropólogo, mesmo sem que ele cite uma lista infindável de exemplos escabrosos em defesa da sua afirmação - o facto de uma coisa ser uma «manifestação cultural» não quer dizer que deva «ser respeitada».

E, se esta descoberta for muito chocante, eh pá... Encham a banheira de bosta e vão curtir e relaxar um bocado.

sábado, 25 de outubro de 2008

opiniões vindas directamente de Évora

(via "Mais Évora")

As palavras da Vera

(...)
O problema no meio disto tudo não são as praxes, são as pessoas.
(...)

e as do "manoelinho"
Na verdade não é como dantes, porque está muito pior: agora o caloiro aprende as virtudes da prepotência e da estupidez, para vencer na vida. Aprende a obedecer aos chefes, por mais burros que sejam. É a lei do mais forte e do mais estúpido. Se não é fascismo, o que será?
(...)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

e ainda sobre o caso de merda... ops... o caso de Évora...

Este post do blog Mais Évora, uma Nota sobre praxes em Évora, fala da "Efervescência de cortejos" e de "O que pensam os polícias".

E no 5 Dias, o Luís Rainha escreve:

Praxes merdosas

Eles fazem bicha, de sorriso alarve no rosto, à espera de serem lambuzados com merda. Depois, correm para o início da bicha à espera de mais. Quando a bosta se esgota, ainda uma esperança resta: para o ano podem ser praxados de novo. As praxes da Universidade de Évora são assim. Segundo um cromo da associação de estudantes local, trata-se de «uma manifestação cultural que deve ser respeitada». Assim a modos que como os touros de Barrancos, mas sem touros, só com as bostas. Para o chefe dos supostos coprófilos, «uma praxe bem feita respeita as pessoas, integra, é esse o objectivo». Bem; se calhar o curso em questão tem como objectivo formar assessores políticos. Assim, vão-se logo habituando às agruras da profissão.



A "solidariedade" é obrigatória e tem hora marcada...

... e dá sempre jeito para esconder as outras coisas mais duvidosas e fazer parecer que as praxes não são assim tão más e, por conseguinte, que é bom obrigar (ou coagir) pessoas para fazer coisas supostamente "boazinhas"...

Uma notícia que saiu no diário de trás-os-montes diz que a Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária de Bragança vai fazer recolha de bens para entregar a instituições de solidariedade social. (vejam este post)

Outra notícia, da Rádio Brigantia, diz que a Associação Académica do Instituto Politécnico de Bragança organizou uma corrida de solidariedade, com direito a Rosa Mota, onde participaram cerca de 1000 estudantes. (e mais este post)


Bruno Miranda, o presidente da Associação Académica do IPB, explica o objectivo que o objectivo desta corrida passa por "acariciar e dar mais apoio às instituições de Bragança".

Já os donativos recolhidos vão ser entregues a instituições como o Patronato, a Igreja dos Santos Mártires, APADI, obra do Padre Miguel, entre outros.


Os caloiros que ontem correram nesta praxe salientaram a vertente solidária da iniciativa. "Somos boas pessoas e queremos, acima de tudo, ajudar", diziam. "Trouxemos roupa e leite", exemplificavam alguns alunos.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Muito gosta essa gente de merda...

Évora: Alunos apresentaram queixa depois de rastejarem no esterco Correio da Manhã, 22 Out. 2008

O reitor da Universidade de Évora, Jorge Araújo, proibiu as praxes nos espaços da instituição e instaurou um processo de inquérito para serem accionados mecanismos disciplinares contra os autores dos actos violentos praticados sobre os novos alunos ocorridos anteontem no espaço agro-pecuário do Colégio da Mitra. Segundo apurou o CM, os veteranos terão desobedecido às ordens da reitoria ao obrigarem caloiros dos cursos agrícolas a rastejarem em excrementos de animais.

"Os alunos sentiram-se humilhados e alguns apresentaram queixa. Houve também queixas dos funcionários", referiu uma fonte da instituição.

Num despacho enviado ontem pela Reitoria, Jorge Araújo refere que num comunicado de 22 de Setembro já tinha sido apelado ao bom senso dos estudantes para que as tradicionais praxes excluíssem qualquer acto de violência física e psicológica.

"Infelizmente o apelo não foi respeitado e hoje [anteontem] verificaram-se actos de violentação das mais elementares regras de decoro e da higienepotencialmente causadoras de prejuízo grave para a saúde", acrescenta o reitor.

Contactado pelo Correio da Manhã, o presidente da Associação Académica da Universidade de Évora, António Gualdino, não quis comentar o caso, por desconhecer o seu teor.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pode haver liberdade para humilhar?
Jornal Público (20.10.2008) - Rui Moreira (Economista)

Apeteceu-me interromper a cerimónia, chamar-lhes pinguins viúvos e urubus e incentivar os caloiros a vingarem-se...

Há dias, à porta do Instituto Português de Oncologia, deparei com uma grande algazarra, que desrespeitava a proximidade do hospital. Tratava-se de uma daquelas miseráveis cerimónias iniciáticas a que se convencionou chamar de praxe. No caso, um grupo de jovens, envergando t-shirts com dizeres aberrantes, autoflagelava-se dando saltos idiotas e gritando palavras de ordem humilhantes, amestrados por um grupo de "gauleiterzinhas" com ar pedante. Ao vê-las, desengraçadas, disformes e desfeadas pelo negro das capas e pelas meias de vidro, lembrei-me de Jô Soares, apeteceu-me interromper a cerimónia, chamar-lhes pinguins viúvos e urubus de galocha e incentivar os caloiros a vingarem-se...

Esta irritação parecerá excessiva mas percebi, pelo que ouvi à minha volta, que não era o único a quem aquele espectáculo degradante incomodava. Aliás, incomoda também o ministro, que recentemente fez comentários oportunos e severos sobre o tema, advertindo que não toleraria mais excessos. Infelizmente, disse-o em vão, porque a hierarquia das instituições de ensino superior é cúmplice das associações de estudantes e incapaz de pôr cobro a esta prática. Veja-se o caso do infame Instituto Piaget, em que os abusos e excessos das praxes foram conhecidos através da denúncia de uma ex-aluna, onde a direcção começou por aprovar uma directriz que proibia as praxes durante a recepção aos caloiros mas logo a seguir recuou, submetendo-se a uma auto-intitulada Comissão de Tradições Académicas que, imagine-se, ameaçara com uma manifestação...

Detesto falsas tradições. Não gosto sequer das tunas, porque, com raras excepções, não têm piada nos seus exibicionismos e nas suas zarzuelas néscias que nos impingem em cerimónias públicas e eventos sociais. No caso da capa e batina, não se trata apenas de uma questão de estética, porque qualquer pessoa tem o direito de se mascarar como entende: o que me aflige e assusta é que muitos dos que as envergam não percebam, sequer, as origens obscurantistas do traje e que este constitua hoje um uniforme obrigatório em práticas violentas e humilhantes.
As praxes são, por tudo isto, uma prática a banir. Não proponho, naturalmente, que sejam proibidas, porque o país já não aguenta proibições que depois não são acatadas e porque isso só contribuiria para as incentivar na clandestinidade. Mas é indispensável que os caloiros saibam que elas não são obrigatórias e que sejam apoiados no sentido de se sentirem protegidos e de poderem denunciar, se for o caso, quem cometer algum abuso.

A integração dos recém-chegados à universidade não é compatível com a humilhação e a violência, nem se pode perpetuar o princípio da hierarquização da barbárie por antiguidade. Recordo-me da forma como fui recebido, em Inglaterra, quando lá cheguei para estudar. Lembro-me do apoio da Student's Union, dos Serviços Sociais da Universidade e dos tutores. Gostava que em Portugal, onde imitamos tanta coisa má que nos chega do estrangeiro, também conseguíssemos, de quando em vez, replicar o que é bom. Principalmente, tudo aquilo que tem a ver com as liberdades.

http://jornal.publico.clix.pt/

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Errata do último post: Quem é que disse que não era permitidas praxes dentro do Piaget de Viseu? Quem disse, enganou-se (não é, sr. director?)

Piaget acedeu a pedido dos alunos e permitiu praxes (IOL Diário)

(...)
Inconformados, cerca de 30 alunos envergando o traje académico e alguns caloiros concentraram-se esta manhã junto aos portões do instituto, no Alto do Gaio, aproveitando a abertura do ano lectivo, mas a manifestação acabou pouco depois, na sequência de uma reunião com a direcção.
«Apresentámos o plano de actividades do ano passado e deste ano e como nunca houve queixas aqui dissemos que queríamos poder usufruir do espaço. Responderam que confiam em nós e que podemos continuar», contou aos jornalistas a presidente da Comissão de Tradições Académicas, Marisa Andrade.
(...)

Lição nº 1 para as/os estudantes:
Afinal parece que as manifestações não são assim tão demodée e que até dão algum resultado.

Lição nº 1 para as/os directores das escolas de ensino superior:
Afinal parece que as meninas e os meninos "da praxe" fazem de vocês o que querem... Basta juntarem-se umas poucas dezenas de pessoas à porta da escola que vocês, directores, lhes vão logo comer as papinhas na mão. Será que elas e eles têm mel? (Ou será o fel dos interesses escondidos?)

Manifestem-se, que faz bem à saúde! #2

Alunos do Piaget contra fim de praxe (Jornal de Notícias)

A Direcção do Instituto Piaget avisou os alunos, por telefone, na sexta-feira, de que este ano não serão permitidas praxes dentro dos muros da escola.

Estudantes denunciam "machadada" na tradição e ameaçam protestar.

O primeiro sinal de "indignação" será dado esta manhã, no campus do Alto do Gaio, em Viseu. Às 10 horas, na abertura solene do ano lectivo, "doutores" e caloiros prometem manifestar-se à porta da instituição.

"Não arredaremos pé enquanto a direcção não vier à rua explicar as suas razões para o fim anunciado dos rituais de praxe", avisa Marisa Andrade, presidente da Comissão de Tradições Académicas (CTA).

(...)

Um dos actos de praxe previstos, "de grande utilidade para quem chega", é a visita às instalações proporcionada aos caloiros pelos colegas "doutores".

(...)

P.S. Só para assinalar que, pelos vistos, as pessoas da "comissão de praxes" (que aqui tem outro nome... se calhar é uma coisa diferente...) não sabem mesmo que é possível fazer uma visita à escola sem praxes à mistura. É capaz de ter que se pensar muito para descobrir como é isso possível. Olhem, vai uma sugestão: e se a manifestação contra a proibição das praxes fosse pela escola e não à porta ("sem arredar pé")? Uma manifestação não é (ou melhor, não tem que ser como) as praxes.

domingo, 12 de outubro de 2008

Um relato...

via Filosofia de Curral

(...)
Vou-vos descrever agora aquilo que eu já vi nas praxes: cabelos cortados, simulações de sexo, exibição dos genitais, caras enfiadas em excremento de cavalo, longas caminhadas com os pés descalços, raparigas obrigadas a vestir a roupa interior por cima de toda a outra, caloiros bombardeados com tudo quanto é imundice, extorsão de dinheiro, ameaças de agressão física, ingestão de bebidas altamente alcoólicas contra-vontade, deglutição de papel higiénico, humilhação pública extremada sob as mais diversas formas. Tudo isto, no perímetro das instalações da escola onde estudei, com o conhecimento da Direcção da mesma. Integração? Convivência académica? Vão mas é dar banho ao cão e vender essas patranhas a quem vo-las compre. Gostava que algum iluminado me explicasse de uma forma plausível o nível de integração que pode atingir alguém que é obrigado a enfiar a sua cabeça dentro de um balde de merda.
(...)

sábado, 11 de outubro de 2008

Não falta aqui qualquer coisa?

Humm... será a parte da "tradição"?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Manifestem-se, que faz bem à saúde!

Praxes limitadas no Politécnico (jornal O Ribatejano)


As cinco associações de estudantes do Instituto Politécnico de Santarém (IPS) aproveitaram a cerimónia de inauguração do relvado sintético da Escola Superior Agrária para se manifestarem a favor da praxe e contra aquilo que chamam de "atentado contra a liberdade da praxe". Os estudantes queixam-se que foram limitados nalgumas praxes, sobretudo no caso da Escola Superior de Enfermagem, onde só a intervenção da presidente do Instituto terá permitido resolver a situação. Nesta escola, chegou mesmo a ser decidido pelos alunos a não participação no desfile de caloiros pelas ruas da cidade, que já está marcado para o próximo dia 12, situação que acabou por se resolver. [Há aqui qualquer coisa errada... as pessoas vão deixar de fazer algo que dizem ser tradição porque estão a favor da tradição? Paxaroxal, não?]
(...)
Os alunos defendem a praxe como tradição da academia e como forma de integração na cidade e consideram que "não se pode olhar para as praxes apenas como humilhações".[Apenas! Significa: não só, mas também.] "Todos são livres de decidir serem ou não praxados. Além disso, ninguém é obrigado a sair à noite e a faltar às aulas para participar na praxe", refere Nuno Almeida, presidente da Associação de Estudantes da Escola de Gestão e porta-voz dos estudantes neste processo. "A praxe é uma forma de darmos a conhecer o Instituto e a cidade aos mais novos. Nós somos responsáveis por eles, desempenhamos o papel de mãe e pai nesta integração da cidade porque eles não conhecem nada", afirma Nuno Almeida.
(...)
[E fica toda a gente tão aflita com a "indignação" das pessoas pró-"tradição", que têm mesmo que se justificar...]
Jorge Justino, presidente da Escola Agrária, garante que não houve limitações à liberdade de praxe [a não ser as próprias limitações à liberdade que são inerentes à própria praxe] e que apenas foi pedido para que não existissem "brincadeiras violentas".
(...)
Abel Santos, da Escola de Desporto, diz também que (...) "não se pode ser radical e cortar totalmente com estas actividades que são tradição" [Tradição? Ah! É como aquela "tradição" de violentar pessoas com merda de animais... é verdade!]
(...)
Maria João Cardona, da ESES, é declaradamente anti-praxe embora respeite as tradições. [Pois... mas as tradições não são "tradições"...]
(...)
"Em 2006, procurámos definir princípios orientadores para as praxes e que todos os anos procuramos divulgar e fazer lembrar aos responsáveis pela praxe", refere Lurdes Asseiro, frisando que este ano não houve nenhum tipo de limitações extras.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

o fenómeno da "praxe social"

Para os defensores da "praxe", os tempos são de dificuldade: o Mariano Gago avisa que as pessoas que praxam e as que não prestam auxílio têm que ter atenção ao que fazem; proíbem-se as praxes dentro do Técnico (IST), de Ciências (FCUL) e agora também talvez no Algarve.

Por isso é preciso inventar outras formas de manter as hierarquias e os vários poderes, sem que as pessoas "lá em casa" achem muito mal o que se vai fazendo a quem acaba de entrar no ensino superior.

Depois da história da doação de medula óssea e da limpeza da praia, aparecem hoje mais duas "praxes sociais": a limpeza da mata (que já repete o sucedido no ano passado) e a plantação de 8 (oito!) árvores e a gincana contra os comportamentos de risco.

Ficam várias perguntas por fazer. Nomeadamente esta: estas praxes chamam-se praxes? e porquê?

Talvez isso nos ajude a pensar no assunto e a encontrar outras perguntas. E talvez essas perguntas evitem a necessidade visceral de dizer "os alunos só são praxados se quiserem".

Nós, por aqui, vamos procurar mais perguntas. E procurar possíveis respostas.
Porque quando as coisas mudam, nós mudamos com elas (ou será ao contrário...?).

é sempre bom quando os amigos partilham coisas. mas nem sempre podem ser boas partilhas...

fui almoçar e antes e dps de ir observei que uma das "brincadeiras para promover a amizade" é meter 1 miuda sentada no chão e rodea-la por uns 10 batmans a gritar umas merdas quaisquer.

Este comentário vem directamente do Parque das Nações.
As pessoas que encenavam tal peça são da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.

Não vale fingir que estas coisas não foram ditas... porque este ano estas coisas foram ditas em quase todas as reportagens...

Alunos praxados comentam esta prática
Jornal Barlavento

O «barlavento» procurou saber a opinião, acerca das praxes, de quem está no cerne da questão e falou com Ana Grilo, uma das caloiras do curso de Ciências de Comunicação.

Para a recém-chegada à UAlg, «as praxes estão a ser divertidas e, realmente, ajudam à integração e criam um grande espírito de entreajuda entre quem está a ser praxado».
Ana Grilo adianta que nunca se sentiu ofendida, mas «um pouco humilhada no primeiro dia, que é o mais assustador».

Já Marco Maurício é académico (3ª matrícula na UAlg), do mesmo curso, e acha que as praxes, «quando são levadas na normal direcção, servem como forma de integrar os novos alunos em tempo recorde, de desinibir quem chega e de incitar o espírito de turma e de responsabilidade», mas admite que existem praxes abusivas e que «justificam a imagem negativa que esta tradição tem aos olhos de muita gente».

O aluno considera ainda que, muitas vezes, as praxes funcionam como forma de vingança. «Há pessoas que ficam “loucas” com o poder que lhes é concedido e aproveitam estas duas semanas para se libertarem das frustrações e das humilhações que sofreram quando foram praxadas».

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Comunicado da Alternativa Libertária

Chegou-nos este comunicado de um grupo de estudantes anti-praxe de Lisboa. Aprecíamos o eco que começa a fazer-se ouvir contra uma prática degradante da condição humana como o é a praxe. Abaixo a praxe! Abaixo a tradição académica!

«Anos consecutivos de praxe violenta, humilhante e sexista deitam por terra os esforços dos defensores da praxe, apresentada como uma forma tradicional de integração. Nada podia ser mais falso, a praxe nos moldes em que existe na maior parte das universidades de Portugal é uma espécie de violência doméstica tolerada e que tem como objectivo a subserviência dos caloiros (considerados como inferiores) aos seus colegas mais velhos, veteranos ou não (considerados superiores). Toda uma panóplia de alarvidades teóricas baseadas em princípios medievais são a fonte de inspiração de quem praxa: fazer e ter amigos é a mais comum.
Não é preciso pensar muito para chegar a uma conclusão simples, se para ter 'amigos' tenho que me sujeitar a coisas degradantes como simular sexo, comer merda, ser pintado ou dizer de joelhos 'caloiro é pior que cão', prefiro não ter esses 'amigos' e ter outros que não estabeleçam uma 'amizade' depois de me humilharem.
Portugal é um país de modas, a praxe é uma moda e não uma tradição.Se há tradição de praxe apenas pode ser remetida para o caso de Coimbra. No entanto, o argumento de tradição (embora seja uma invenção) por si só também não convence. Existem boas e más tradições, tal como existem bons e maus costumes e a praxe a par do bullyng é um mau costume e algo a que nos devemos opôr totalmente.
A praxe já matou, a praxe já violou, a praxe já deixou marcas para toda a vida como amputações de membros e marcas psicológicas profundas. A praxe anula o sentimento académico de igualdade e união e incentiva o circo foclórico labrego, vazio de espírito crítico. Não é por acaso que as Associações de Estudantes de Portugal são as menos activas da Europa e só se preocupam com festas, galas,praxes e carreirismo politico.
Por estas razões apelamos a todas caloiros que rejeitem a hierarquia imposta por quem é igual a vocês. Apelamos ao boicote e à denúncia daquilo que é a tortura instutucional da praxe.»

Alternativa-libertaria@riseup.net

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Caricatura da praxe!

Veio a público um vídeo que se revela uma bela caricatura da praxe! No extremo, é onde seguir ordens cega e acriticamente nos pode levar! Das praxes aos ditadores pode ser apenas uma questão de proporção e oportunidade...

Caridade por obrigação é caridade?

Ensino Superior: Praxe aos alunos de Medicina transformada em acto de solidariedade no combate à leucemia

Um grupo de estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa vai transformar hoje a praxe aos novos alunos num acto de solidariedade no combate à leucemia, com uma acção de rua às 16:00, no Cais do Sodré.

A Comissão Organizadora da Recepção ao Caloiro da Faculdade de Medicina de Lisboa (FML) pretende "com esta iniciativa inédita sensibilizar a população para a angariação de dadores de medula óssea".

Esta acção tem o apoio da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (ACPL), do Centro Nacional de Dadores de Células e Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão (CEDACE) e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que disponibiliza o equipamento necessário.

"Há ainda alguns mitos sobre a doação de medula óssea, nomeadamente que se trata de um processo doloroso. Com esta acção pretendemos sensibilizar a população para a importância deste acto e angariar dadores", explica Diogo Martins, da Comissão Organizadora da Recepção ao Caloiro da FML.

No Cais do Sodré será instalada uma unidade móvel da SCML para colheita de amostras de sangue - efectuada pelos técnicos do CEDACE - a quem se disponibilizar integrar o banco de dadores de medula óssea.

A falta de dadores de medula óssea é um dos grandes entraves à luta contra a leucemia. Desde 2002, ano em que surgiu a ACPL, o número de dadores passou dos 1.800 para mais de 132 mil. O objectivo é alcançar os 160 mil dadores até ao final do ano.

Lisboa, Portugal 01/10/2008 06:43 (LUSA)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

50 alunos do politécnico assistidos no hospital com problemas gastrointestinais



Bragança

Cinquenta alunos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) foram hoje assistidos na urgência da unidade hospitalar de Bragança com problemas gastrointestinais de causas ainda desconhecidas




Segundo confirmou fonte hospitalar à Lusa, 50 estudantes foram atendidos na urgência, mas apenas três ficaram em observação para receberem soro, por se encontrarem mais debilitados.

A fonte esclareceu ainda que «nenhum dos estudantes apresentava desidratação ou problemas de maior» e que «alguns procuraram assistência hospitalar mais por precaução, perante os sintomas dos colegas».

Vómitos, diarreias, febre, arrepios e cólicas eram alguns dos sintomas que vários alunos, a esmagadora maioria caloiros, começaram a sentir ao início da manhã de hoje, segundo contou à Lusa Filipa Carvalho da Associação Académica do IPB.

A maioria dos afectados frequenta a Escola Superior Agrária, de acordo com outras duas alunas, que acompanharam os colegas ao hospital, Elisabete e Sandra Pinto.

Segundo contaram, os alunos com sintomas jantaram, terça-feira à noite, na cantina do politécnico e por terem este facto em comum, inicialmente suspeitou-se de uma intoxicação alimentar.

O administrador dos serviços sociais do IPB, Osvaldo Régua, disse à Lusa que esta possibilidade está a ser averiguada, mas mostrou-se convencido de que é «remota».

No jantar de terça-feira, segundo disse, foram servidas quase 600 refeições e apenas um número reduzido de alunos acordou com os sintomas.

«O próprio pessoal da cantina comeu o mesmo e não apresenta qualquer problema», afirmou.

Mesmo assim, o IPB enviou para análise laboratorial amostras da comida servida, nomeadamente amêijoas, que serviam apenas de acompanhamento ao prato principal, mas que surgiram no topo das desconfianças dos alunos.

O administrador garantiu que a cantina está sujeita a «um processo rigoroso de controlo» pelo que considera «estranhoque o problema esteja relacionado com a refeição».

Acredita mais na hipótese de uma virose por a maioria dos alunos afectados serem caloiros da Escola Superior Agrária, que, no momento, participam nas praxes com rituais, nomeadamente em lameiros e noutros locais em que podem ficar expostos a este tipo de situações.

Lusa / SOL


A praxe é saudável! Principalmente para os alunos do 1º ano que vão mergulhar voluntariamente na lama enquanto os doutores assistem.

- Youri Paiva

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Praxes: da proibição ao seu desrespeito

Na passada semana, após declarações retoricamente musculadas do ministro Mariano Gago (e com alguma promessa de acção mas “apenas” em caso de “abusos”), o presidente do Instituto Superior Técnico (IST) decidiu levar a ideia ao nível seguinte e proibir as praxes nas instalações do IST.

Seguramente não por ser feroz opositor da praxe, mas certamente por lhe cheirar a sarilhos em potência. Como ele com certeza sabe, e sabe bem, as praxes são um caldeirão em ebulição, palco das maiores irracionalidades e arbitrariedades que estudantes cometem a estudantes. O único controlo que há na praxe, e como muitas vezes repetem os praxistas, é o “bom-senso”. Ora, basta observar apenas 5 minutos de praxe para perceber que quando se mistura álcool, pressões de grupo, comportamentos de massas, sede de vingança, e ainda para mais quando tudo parece ser legitimado pelas pessoas e pelo meio, o apregoado “bom-senso” se perde pelo caminho e dá lugar aos comportamentos condenáveis e patetas que conhecemos.

Proibindo as praxes, em vez de as discutir e colocar em causa, o presidente do IST trilha o caminho mais fácil. Escolheu a melhor forma de fingir fazer alguma coisa, ao mesmo tempo que não altera nada: proibe-se aqui, mas faz-se já ali ao lado! E desta forma, em caso de problemas, pode sempre argumentar que não é da sua responsabilidade porque não autorizou as práticas. Tapa o sol com a peneira e sacode a chuva do capote!

Podendo à primeira vista parecer contraditório, o M.A.T.A. sempre manifestou a sua oposição tanto às praxes quanto às tentativas sobre as legislar ou proibir. Se por um lado pensamos que regular as praxes por decreto na tentativa de impedir os excessos é impossível (dada a sua natureza sempre violenta e sempre arbitrária), por outro sempre nos manifestamos contra a sua proibição por acreditarmos que recusar a praxe deve partir de uma escolha individual e colectiva e tendo por base uma discussão alargada na escola e na sociedade. Para nós a questão nunca foi impedir as pessoas de participarem na praxe, mas sim de criar toda uma vivência e ambiente que façam com que as pessoas queiram elas próprias recusar participar na praxe e a condenem. E é esse desafio, difícil e trabalhoso, que o presidente do IST se absteve de abraçar. “Daí lavo as minhas mãos” diz-nos ele.

P.S. - No final deste texto, é já sabido que a Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL) decidiu trilhar o mesmo caminho, tomando a mesma medida. Tal como no IST, um pequeno passeio pelas instalações permite-nos perceber o quão “para inglês ver” esta medida se está a revelar. Outras medidas e outras respostas são necessárias. Concretizando e propondo: assumir que as praxes não são manifestações bem-vindas na escola, disponibilizando informação aos alunos aquando da sua inscrição; promover e apoiar acções de integração alternativas como exposições, convívios, actividades culturais, passeios por Lisboa, estruturas de apoio aos estudantes recém-chegados, ... ; organizar o confronto de ideias com a praxe (melhor forma para a desacreditar) através de debates e sessões de esclarecimento; dar seguimento jurídico e apoio psicossocial a todas as pessoas que se queixem e sejam vítimas da praxe. Acima de tudo importa perceber a cada momento quais são as necessidades e as vontades dos alunos da faculdade e da comunidade escolar e com tod@s construir essas respostas.

Vitor Ferreira

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Diz-se que a festa é feita para "receber", mas é organizada pela Super Bock

Estudantes em “flagrante delitro” na semana em que as praxes voltaram à agenda
Público,26-09-08


A festa dedicada aos caloiros no arranque do ano universitário não está directamente ligada às praxes. Não as promove, mas também não as proíbe. Por isso, é inevitável ver chegar grupos de caloiros acompanhados pelos novos colegas orgulhosamente trajados a rigor. Gritam, fazem-se ouvir e cantam músicas, de gosto mais ou menos duvidoso.

Esta semana, o tema das praxes voltou a ser falado depois da recomendação enviada às universidades pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da proibição de fazer praxes decretada pelo presidente do Instituto Superior Técnico. No meio do turbilhão de capas pretas há uns mais atentos do que outros à polémica, mas, no final, o discurso é sempre o mesmo: “Os caloiros estão aqui porque querem, nós não obrigamos ninguém a ser praxado. Damos-lhes uma boa oportunidade para fazerem coisas que nunca pensaram, como gritar e fazer palhaçadas no meio da rua”, defende Sofia que frequenta o 2º ano de Medicina da Universidade de Lisboa. “Desenvolvem amizades e ligações fortes que duram durante o curso porque vivem momentos únicos e fortes de união”, justifica ainda a estudante.


Há mais coisas curiosas na notícia: para quem não saiba, ainda há quem acredite que o "Código da Praxe" é mesmo um "documento" regulador de alguma coisa. Será que regula, por exemplo, que uma pessoa que acabou de entrar na faculdade não seja alvo de insultos piores que "verme" ou "besta"? Ou regula que os estudantes da mesma Universidade têm estatutos diferentes, mas não mais diferentes do que o que está escrito?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O que se vai vendo nas praxes

Este é o primeiro de uma série de relatos (para a qual esperamos todas as contribuições que por aí houver) do que se vai vendo nas praxes.
Se há quem insista a dizer que é divertido, basta estar com um pouco de atenção e facilmente se percebe que o tédio e a desilusão (para quem ainda estava iludido) é o que mais se vê por aí.

Ponnette escreveu: «As praxes de hoje ao meu lado, aqui na janela, consistem no seguinte: há um grupo de praxados há mais de uma hora e meia de pé, com as mãos atrás das costas, a olhar para o chão. Os veteranos estão um pouco ao lado a beber cervejas e jogar futebol e nem sequer olham para os "caloiros". (...) Apetece-me gritar-lhes: "Vão-se embora! Está um dia tão lindo! O que é que estão aí a fazer?!"Também era bom ter aqui uma câmara. Para filmar o nada. Quer dizer, um nada cheio de conteúdo, de ideologia e de horror.»

Mais tarde Ponnette enviou novo mail onde dizia: «Ah, e agora já deixou de ser há "mais de uma hora e meia" para "mais de duas horas". Eles ainda ali estão. Sem fazer nada! É mesmo verdade. Em pé. Os "veteranos" estão a jogar à bola e à apanhada em frente a eles. É isto que se passa. Os que estão de plantão já dobram as pernas, agarram o pescoço, estão cheios de dores no corpo. E o mais incrível disto tudo... é que NÃO SE VÃO EMBORA!!! E uma coisa garanto: se eu lhes fosse perguntar, era IMPOSSÍVEL eles dizerem que a praxe não tinha sido uma seca. Eles estão há duas horas de pé, sem fazerem nada e com um ar bué enfadado. Não podem falar uns com os outros sequer, mãos atrás das costas, coçam-se a medo.»

Isto passa-se na Cidade Universitária em Lisboa.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Agora a Cidade Universitária está mais bonita!

Murais pintados na noite de 21 de Setembro de 2008!


Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa




Cantina do ISCTE (nº2) na Cidade Universitária

sábado, 20 de setembro de 2008

Praxes ou Pré-xes?

Acabou ontem a semana de inscrições nas faculdades, por entre vozes que diziam "Estou um bocado nervosa" ou "É uma mudança na minha vida" .

Desculpa? As praxes ainda não começaram?
Então e os gritos "IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINNNNFORMÁAAATIIICAAA!!!!" e os " Sexo, Orgia, só em Geografia (ou Sociologia, ou Agronomia, ou Psicologia, ou qualquer curso acabado em "ia" - que não são poucos)" que não descansaram a Cidade Universitária?
Ou isto ainda não é praxe mesmo? Se calhar, agora, praxar é "sensibilizar" para a doação de medula óssea ou "sensibilizar" para questões ecológicas.

Realmente a "tradição" está muito mudada! (Um dia destes alguém se apercebe disso e começa a chamá-la "inovação"...)


terça-feira, 16 de setembro de 2008

As cedências à praxe

Grupos de estudantes correm por estes dias às filas das matrículas nas universidades para ameaçar os recém-chegados com brincadeiras da «Praxe», em nome da integração. Especialistas alertam os mais novos que entrar na brincadeira é voluntário e que mesmo depois há limites

Marco Pinto Barreiros, especialista em psicologia social e das organizações, realça que este género de comportamentos surge «no cumprimento de uma das necessidades mais básicas do ser humano que é a de se sentir parte de um grupo».

«Os limites de cada um são diferentes, mas todos estamos dispostos a ceder alguma coisa e por isso é que estamos a ver jovens que até descreveríamos como tendo uma personalidade forte a submeterem-se a determinados comportamentos que podem ser descritos como humilhantes, com o simples propósito de virem a fazer parte de um grupo», explicou à Agência Lusa.

Pinto Barreiros sublinhou ainda que «as praxes são levadas a cabo por um grupo de estudantes e todos sabemos que as pessoas ultrapassam um bocadinho os seus limites, na medida daquilo que normalmente são capazes de fazer, quando estão em grupo».

Na óptica da «vítima», muitas vezes o que sucede também é que «as pessoas acabam por perpetrar comportamentos que não fazem parte da sua paleta habitual de comportamentos e isso acaba por gerar posteriormente uma situação de revolta».

«Tentam voltar para trás e geralmente é tarde, já há um sentimento de turba criado naqueles que estão a executar a praxe e que normalmente não deixam ou deixam com muita relutância que a praxe pare ou seja interrompida», sublinhou.

Para o especialista o importante é que quem vai submeter-se à praxe saiba exactamente o que lhe vai acontecer, de forma a pesar os prós e os contras, para escolher livremente submeter-se ou não, porque depois de iniciado o processo é mais difícil «controlar a massa humana constituída».

O especialista em Direito Constitucional e professor universitário Jorge Miranda considera que «a praxe em si, entendida como uma forma de integração do aluno na escola, não é mau».

«O problema é quando acontecem, como têm acontecido nos últimos anos, casos em que as praxes se tornam violentas, contrárias à dignidade da vida humana, usam processos que são contrários à vontade das pessoas, até sob formas pornográficas absolutamente inadmissíveis, em que grupos de estudantes põem em causa direitos liberdades e garantias de outros estudantes», destacou.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior anunciou no passado dia 10 que será dado conhecimento ao Ministério Público de qualquer «prática de ilícito» nas praxes e serão utilizados os meios necessários para responsabilizar civil e criminalmente quem não evitar os danos ocorridos, conforme escreveu numa carta enviada a todas as instituições de ensino superior públicas e privadas.

Jorge Miranda destaca que qualquer aluno tem desde logo o direito de não querer estar sujeito a qualquer tipo de praxe e o direito de não estar sujeito a praxes com violência, abusos sexuais e outras tentativas de degradação da pessoa.

«Em primeiro lugar ninguém pode ser obrigado e no caso de a pessoa aceitar, a praxe tem de se desenvolver dentro dos limites aceites pela própria pessoa», acrescentou, salientando que «não pode servir para justificar verdadeiros crimes que estudantes comentem sobre outros estudantes».

Para Ana Feijão, do Movimento Anti-Tradições Académicas (MATA), tem havido desde 2003 mais atenção para os abusos na praxe, devido a casos ocorridos no Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros e em Santarém, mas situações em que estudantes ultrapassam os limites continuam a existir.

«Tem havido uma linguagem mais moderada, mesmo dos praxistas, mas os casos de exagero continuam a existir porque são baseados num sistema em que há uma hierarquização e não uma verdadeira integração» do novo estudante, destaca esta responsável do movimento MATA, salientando que a praxe, em muitos casos, «nem sequer é uma verdadeira tradição porque só surgiu nos anos oitenta».

«Querem fazer parte do estereótipo do estudante, vestir aquele fato, sair às quintas-feiras para o Bairro Alto ou equivalente noutras cidades e pensam que é assim, porque a própria escola não lhes dá outras alternativas de integração», disse, salientando medidas adoptadas pelo Instituto Politécnico de Leiria, entre as quais a criação, em 2003, de um Provedor do Caloiro, para apoiar os novos estudantes, e um regulamento com normas para os actos de praxe no Campus.

«A simulação de actos sexuais, por exemplo, muita gente não acha nada de mal porque está vulgarizado nos meios académicos», disse.

Filipe Santos é responsável na Academia de Lisboa por uma equipa que está a elaborar o primeiro Código de Praxe a englobar todas as tradições das faculdades das «cinquenta e tal» instituições de ensino superior da cidade.

«Esse trabalho está a ser feito e está a ser difícil, muito complicado mesmo. Cada faculdade terá a sua tradição e não quer de alguma forma perder a cultura que tem», disse.

Destacando que não existe em Lisboa uma única comissão de praxe de forma que cada faculdade faz o seu trabalho individual, refere que a comissão está «a trabalhar para que todas as situações mais anómalas sejam prontamente resolvidas» porque tem de «existir um elemento mediador para todas as questões que possam surgir».

«Todo o novo código está pensado para que todos os abusos e situações mais anómalas sejam punidas visto que a praxe não passa por uma vingança, tem um espírito integrante e é para isso que deve existir. Doutra forma não faz sentido», considerou, admitindo que este documento possa estar nas faculdades «não este, mas durante o próximo ano».

Rosário Salvado, Lusa

sábado, 13 de setembro de 2008

O que é a praxe? Resposta de Mariano Gago

"A degradação física e psicológica dos mais novos como rito de iniciação é uma afronta aos valores da própria educação e à razão de ser das instituições de ensino superior e deve pois ser eficazmente combatida por todos, estudantes, professores e, muito especialmente, pelos próprios responsáveis das instituições"

(carta enviada pelo ministro Mariano Gago, no dia 10 de Setembro, a todas as instituições de ensino superior públicas e privadas)

domingo, 17 de agosto de 2008

O futuro aí à porta (como sempre, aliás)...

Fizemos uma maratona. Mas a nossa maratona durou um pouco mais do que as dos atletas das maratonas de 42km.
Treze horas depois de começarmos, aparece a primeira curta-documentário do M.A.T.A. (ainda a caminho dos retoques finais).

Enquanto ela não entra em circulação, fiquem com esta, que foi apresentada na festa "Não resistir só e não só resistir", em 2006.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Próxima reunião do MATA.

REUNIÃO: a próxima é na 4ª feira, dia 18, às 17h30, no Stadium (atrás da Cantina Velha, contornando esta pelo lado esquerdo).
Continuaremos a discutir os mesmos temas da última reunião.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

As praxes...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Próxima reunião do MATA

A próxima reunião é
na próxima 4f, dia 11 de Junho
pontualmente às 17h30*
na Cantina Velha (Cidade Universitária)

* tem de ser mesmo pontualmente, porque a partir das 18h o senhor da porta já não deixa entrar ninguém sem cartão!


A Ordem de Trabalhos é a seguinte:

1 - discutir o panfleto do secundário
2 - aprofundar as ideias para o início do ano, incluindo fazedura do documentário
3 - ...
4 - ...

(Se levarem 2 euros, podemos jantar a seguir.)

terça-feira, 3 de junho de 2008

É já amanhã...!

reunião aberta e informal
dia 4 de maio * feira
17h30
esplanada da Facul.CiênciasSociaisHumanas
Av. Berna * metro Campo Pequeno ou Praça de Espanha

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sobre a violência e a necessidade de transformar a Escola

O país recebeu a notícia em choque, ao ritmo das imagens que foram sendo repetidas em loop psicadélico bem regado com histerismo, alarmismo e tiques repressivo-autoritários. Telejornais, jornais, “opinion-makers”, críticos, políticos oportunistas… A verborreia estéril encheu-nos ainda mais os ouvidos do que as imagens nos saturaram os olhos! Aquela estranha dança da professora e da aluna, intermediada por um telemóvel, presenciada por uma turma divertida, visualizada por um país em espanto. É a sociedade do espectáculo, da mediatização, da manipulação. Para acabar o ciclo só falta fazerem o toque de telemóvel “Dá-me o telemóvel já!”…

Mas choque para quem? Só para quem não está nem nunca esteve na escola! Só para quem pensa na escola como um micro-cosmos ou uma realidade social paralela e alheada de tudo o resto. Só para quem não quer ver o falhanço do modelo meritocrático, anti-democrático e profundamente exclusivo em que transformaram a escola pública. Penso que a única coisa que nos deveria chocar foi o aproveitamento mediático e o cavalgamento político da sempre “querida e bem-vinda” insegurança, ao melhor estilo da direita e da direitinha.

Desconstruindo o senso comum e as politiquices, analisando as implicações:

- todos os estudos apontam, baseados nos dados disponíveis sobre a violência escolar, que de facto o número de denúncias tem aumentado mas devido ao número de queixas efectivas (a discussão pública sobre o tema aumenta a consciencialização) e muito improvavelmente devido a um aumento efectivo de práticas violentas - cai por terra, portanto, o carácter alegadamente recente e de “onda” de violência veiculado

- mistura de atitudes completamente diferentes tão diferentes como a “não aceitação” de regras, a postura crítica, a indisciplina, o bullying e a violência - dando a ilusão que é tudo o mesmo e não analisando as motivações e as causas, assistimos hoje a um processo de “delinquentização” de tudo o que não se enquadra na norma e na conformidade

- naturalização (e generalização) dos fenómenos violentos tendo como perspectiva o contexto social, étnico, religioso e sexual da escola e dos seus alunos, ou seja, uma espécie de “só há violência porque são pobres, porque são pretos, porque são ciganos, porque são de más famílias, porque são mal educados, porque são rapazes, ou porque são maus alunos” – os estudos indicam, pelo contrário, que a violência é transversal às escolas com alunos de todos os estratos sociais (escolas onde predominam alunos de classe alta também têm estes problemas), etnias, religiões, sexo e percursos escolares

- ignora que democratização do acesso ao ensino não se traduziu numa democratização do sucesso escolar, do processo de aprendizagem e das sociabilizações dentro da escola - ocultando por isso a falência do actual modelo pedagógico, social e organizacional da escola

Ao contrário do que vemos, lemos e ouvimos vindo de todos os “pseudo-qualquer coisa” peritos em desinformação, não se pode negar o carácter multidimensional e variável da violência escolar e dos seus contextos.

Mas sem dúvida que o mais preocupante são as respostas que a sociedade, iludidada por este “senso-comum politicamente construído” e que baseia o seu apoio nos medos mais básicos e irracionais do ser-humano, se propõe na sua maioria a dar: a abordagem policial repressiva.

Em primeiro lugar importa dizer que esta abordagem denota desde logo a rejeição de toda a teoria e análise social, rejeita a pedagogia e rejeita a escola enquanto possível meio de resolução ou atenuação dos problemas sociais que a maior parte das vezes ela própria gera. Ela parte do princípio que a violência na escola é algo de externo a esta, algo que a “infecta”, e que atribui a minorias ou a maus alunos. É a resposta típica e generalizada do “sistema” quando não consegue dar resposta aos problemas que gera: reprimir, afastar, negligenciar. “Separar o trigo do joio”. E entretanto os vigilantes, os cartões de acesso, os polícias e as câmaras entram pela escola e são apresentados como “A solução” (o programa Escola Segura é disso um bom exemplo). Nada de novo: é a casa fortificada, a escola prisão, a Europa fortaleza. E no entretanto, temos toda uma geração a sociabilizar e a aprender a “cidadania” sob a batuta da vigilância e do policiamento…

A resposta e a proposta que temos que fazer é outra, diametralmente oposta, que vá ao fundo das questões. Por oposição ao policiamento temos que responder com um projecto de pedagogia (num sentido de interacção e de aprendizagem, não de paternalismo). É transformar a escola num espaço que promova não só a democratização do acesso mas sim a democratização do “sucesso” escolar, social e pessoal. Esse sucesso tem de ter muitas formas e muito diferentes, e consequentemente muitas formas de ser avaliado, opondo-se ao método meritocrático gerador de exclusões. Isso envolve a transformação radical da escola:
- integração dos estudantes na gestão das instituições da escola e no planeamento dos seus currículos
- novas e diferentes propostas e oportunidades formativas
- alteração da relação de autoridade baseada na dualidade do professor enquanto poder e mestre e o aluno enquanto subjugado e aprendiz
- boas condições materiais e físicas dos espaços e equipamentos
- professores motivados, com um contrato estável e com formação continuada
- recreios e os tempos livres como espaço de sociabilização e de aprendizagem da amizade, do amor, da cidadania, do livre pensamento, da crítica, da intervenção
- uma escola aberta à comunidade, que nela se quer inserir e intervir

Sim, de facto a sociedade está no seu todo mais violenta. Porque as explorações, as opressões e as contradições a isso conduzem. Mas negar a escola como ela própria co-geradora dos conflitos e problemas que nela se vivem, é aceitar que tudo está bem lá dentro. É aceitar que exclua quem não se adequa. É aceitar a escola enquanto selecção e reprodução. É aceitar a escola meritocrática, exclusiva, formatadora e autoritária. É abster-se de a querer transformar. Enfim, é aceitar tudo como está.

Então e a praxe? Embora com iconografias e simbologias diferentes, ela por aí anda no secundário e no superior. E onde se enquadra aqui todo o discurso sobre a violência? Onde estão os mesmos que tão violentamente atacam os que acusam de praticar a violência? Porque violenta para o corpo, para a mente, para as crenças, para os direitos e para as diferenças todos sabemos que a praxe é, embora nem todos o queiramos admitir.

Aqui se revela uma contradição fundamental. Aqueles que exigem a “tolerância zero” perante fenómenos extremos de manifestação de relações, tensões e injustiças sociais, como é o caso da violência nas escolas, são exactamente os mesmos que apologizam a praxe (e a violência que irremediavelmente a acompanha) enquanto processo uniformizador, integrante, estabilizador e conformista.

Não se trata, portanto, da violência em si mesma, mas sim do que ela significa e do que representa. Se representar a não aceitação, a manifestação, a expressão, o inconformismo, a explosão, então deve ser violentamente (mais uma vez) reprimida e afastada. Se for um Carnaval divertido, recambulesco, marialva, pimba, paternalista, sexista, racista, homofóbico, anti-democrático, hierárquico, e se ainda por cima for um negócio que rende muito dinheirinho aos compadrios, ora, como recusar fórmula tão apetecível? A violência é um excesso, indesejável mas que por vezes acontece, dizem eles… Sem o dizerem, dizem-no: a praxe é violência!

Cerra-se as fileiras, ordena-se que se acabe com os “excessos”: acaba-se com a violência visível e intensifica-se a violência silenciosa, modera-se o discurso e mantém-se as práticas.

Resumindo: é um projecto político, social e cultural, conservador e classista, para a escola.

Como transformar este projecto de escola que exclui e violenta, como combater a praxe normativa e integrativa, como o fazer tendo sempre em vista a transformação da escola, do meio e da sociedade, rompendo com os consensos, colectivamente, abertamente, propositivamente, provocativamente, inconformadamente, divertidamente e apelativamente? Acho que a resposta é só uma: com as mãos…e a mente! Reflexão e acção!