Na passada semana, após declarações retoricamente musculadas do ministro Mariano Gago (e com alguma promessa de acção mas “apenas” em caso de “abusos”), o presidente do Instituto Superior Técnico (IST) decidiu levar a ideia ao nível seguinte e proibir as praxes nas instalações do IST.
Seguramente não por ser feroz opositor da praxe, mas certamente por lhe cheirar a sarilhos em potência. Como ele com certeza sabe, e sabe bem, as praxes são um caldeirão em ebulição, palco das maiores irracionalidades e arbitrariedades que estudantes cometem a estudantes. O único controlo que há na praxe, e como muitas vezes repetem os praxistas, é o “bom-senso”. Ora, basta observar apenas 5 minutos de praxe para perceber que quando se mistura álcool, pressões de grupo, comportamentos de massas, sede de vingança, e ainda para mais quando tudo parece ser legitimado pelas pessoas e pelo meio, o apregoado “bom-senso” se perde pelo caminho e dá lugar aos comportamentos condenáveis e patetas que conhecemos.
Proibindo as praxes, em vez de as discutir e colocar em causa, o presidente do IST trilha o caminho mais fácil. Escolheu a melhor forma de fingir fazer alguma coisa, ao mesmo tempo que não altera nada: proibe-se aqui, mas faz-se já ali ao lado! E desta forma, em caso de problemas, pode sempre argumentar que não é da sua responsabilidade porque não autorizou as práticas. Tapa o sol com a peneira e sacode a chuva do capote!
Podendo à primeira vista parecer contraditório, o M.A.T.A. sempre manifestou a sua oposição tanto às praxes quanto às tentativas sobre as legislar ou proibir. Se por um lado pensamos que regular as praxes por decreto na tentativa de impedir os excessos é impossível (dada a sua natureza sempre violenta e sempre arbitrária), por outro sempre nos manifestamos contra a sua proibição por acreditarmos que recusar a praxe deve partir de uma escolha individual e colectiva e tendo por base uma discussão alargada na escola e na sociedade. Para nós a questão nunca foi impedir as pessoas de participarem na praxe, mas sim de criar toda uma vivência e ambiente que façam com que as pessoas queiram elas próprias recusar participar na praxe e a condenem. E é esse desafio, difícil e trabalhoso, que o presidente do IST se absteve de abraçar. “Daí lavo as minhas mãos” diz-nos ele.
P.S. - No final deste texto, é já sabido que a Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL) decidiu trilhar o mesmo caminho, tomando a mesma medida. Tal como no IST, um pequeno passeio pelas instalações permite-nos perceber o quão “para inglês ver” esta medida se está a revelar. Outras medidas e outras respostas são necessárias. Concretizando e propondo: assumir que as praxes não são manifestações bem-vindas na escola, disponibilizando informação aos alunos aquando da sua inscrição; promover e apoiar acções de integração alternativas como exposições, convívios, actividades culturais, passeios por Lisboa, estruturas de apoio aos estudantes recém-chegados, ... ; organizar o confronto de ideias com a praxe (melhor forma para a desacreditar) através de debates e sessões de esclarecimento; dar seguimento jurídico e apoio psicossocial a todas as pessoas que se queixem e sejam vítimas da praxe. Acima de tudo importa perceber a cada momento quais são as necessidades e as vontades dos alunos da faculdade e da comunidade escolar e com tod@s construir essas respostas.
Vitor Ferreira
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Praxes: da proibição ao seu desrespeito
Publicada por m.a.t.a. em terça-feira, setembro 30, 2008
Etiquetas: Opiniões
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Eheh! Tinha de ter a arroba! Boa Vitor! Bom texto.
pah, tens alguma razão, mas é ainda assim uma resposta admirável do técnico e da FCUL. Basta ver o que se passa na U Minho, em que nem proíbidas foram. Em vez disso, os professores são aconselhados a denunciar se quiserem e forem incomodados.
Enviar um comentário