sábado, 22 de dezembro de 2007

Chamem a Polícia! Se for autoritária.

Há quem pense na "autoridade" como solução para vários problemas, maiores ou menores, que vão surgindo pelo caminho.
Recordemos apenas dois exemplos.
No início dos anos 90, duas as principais manifestações sociais - em 1993, milhares de estudantes contestavam a lei das propinas; em 1994, milhares de condutores buzinavam contra as portagens da Ponte 25 de Abril - terminaram com forte repressão por parte dos agentes da "autoridade". No dia 25 de Abril de 2007, as comemorações do Dia da Liberdade acabaram com violência policial.

Há poucos dias, João Cardoso Rosas retomou o tema.

Não se passa um dia sem que veja na minha universidade grupos de alunos do primeiro ano a serem praxados pelos mais velhos. Apesar de as autoridades académicas terem chegado a um acordo com os representantes dos alunos no sentido de restringir as praxes realizadas no “campus” às duas primeiras semanas de aulas, elas não abrandaram ainda, catorze semanas depois do início do ano lectivo. Isto significa que os dirigentes da instituição estão formalmente numa posição de autoridade, mas não têm autoridade efectiva.

Segundo o seu artigo, não só as praxes são um exemplo de como se exerce autoridade, como também são motivo para que os responsáveis pelas escolas retomem o seu papel disciplinar.
Em poucas palavras, também nos parece que a autoridade é um problema. Mas o problema é quando ela existe, ou quando alguém acha que é necessária. O problema é que ela é trocada por responsabilidade e responsabilização (ou não?).

A autoridade é uma imposição. Da "verdade" que tem que ser aceite por todas as pessoas; da forma "correcta" de fazer as coisas; "custe o que custar".
A nostalgia da autoridade dos nossos universitários devia ser uma lição para todos aqueles que têm de exercê-la, especialmente os pais, professores, polícias e políticos em funções. Numa sociedade democrática a autoridade não é nunca um valor em alta. Mas também é verdade que as principais instâncias de socialização - família, escola, espaço público - não podem subsistir sem a autoridade efectiva daqueles que as dirigem. O facto de as ruas das nossas cidades, as escolas e, por vezes, até as famílias se terem convertido em campos de batalha não é senão o resultado da erosão da autoridade.

De facto, é mais fácil criar um sistema que mantenha a ordem do que tentar perceber como se conciliam as diferenças. É mais fácil aceitar a forma antiga de fazer as coisas e pensar que tem mesmo que ser assim.
Mas tem mesmo que ser assim?
Não passarão os princípios da Democracia ao lado de "autoridade"?
Quem "dirige" sabe mesmo a forma certa de fazer as coisas?
Não é possível a vida em sociedade sem "códigos de conduta"? Será que a vida em sociedade é compatível com a autoridade de uns sobre outros?
E quem é que manda? Quem é mandado? Pau-mandado?




sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Praxes na Assembleia da República

No momento em que o M.A.T.A. atraiu mais de uma centena de pessoas a um debate organizado pelo G.A.E. (Grupo de Acção Estudantil), a uma sala do I.S.C.T.E. - sítio onde, como em todos os outros, «as praxes são diferentes» -, o plenário da Assembleia da República ouviu falar de praxes.

Será uma discussão para continuar?



E já agora, querem descobrir as diferenças das praxes do I.S.C.T.E.?



Boa Sorte! Quando descobrirem, digam.
(Aparentemente, a única diferença é a excessiva obsessão por cenas sexuais, com uma dose considerável de sexismo e homofobia.)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Aluno fica paraplégico na sequência de praxes

Aluno de 20 anos ficou paraplégico
Estudante da Escola Superior Agrária de Coimbra "deslizou pelo declive de livre vontade"
11.12.2007 - 18h39 Maria João Lopes

O estudante de 20 anos da Escola Superior Agrária de Coimbra ferido durante as praxes, no final de Novembro, acabou por ficar paraplégico. Apesar de não mexer as pernas, existe ainda a esperança de que possa recuperar o movimento dos braços e, por isso, vai ser transferido do Hospital dos Covões em Coimbra, onde continua internado, para uma unidade de saúde especializada em reabilitação, em Cantanhede, explicou a directora clínica do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC), Deolinda Portelinha.
“O jovem apresenta alguma mobilidade nos braços e existe a expectativa de que a possa recuperar totalmente”, afirmou ao PÚBLICO, acrescentando que, no futuro, deve ser feito “todo o investimento” na reabilitação deste jovem que, até por se encontrar completamente “consciente”, apresenta grandes hipóteses de “evolução favorável”.
O grave acidente que deixou este jovem paraplégico aconteceu no passado dia 28 de Novembro, no contexto das praxes académicas. Apesar de não ser “caloiro” e de frequentar o 3º ano de Engenharia do Ambiente, o estudante participava nas actividades da praxe, durante as quais os alunos deslizavam de um declive entre dois terrenos, com cerca de dois metros, para uma vala com lama e palha.
Muitos estudantes o fizeram, muitos se lançaram do declive, mas foi este jovem que, na sequência da queda, sofreu um traumatismo vértebro-medular, com diversas fracturas, na região cervical. “Foi um acidente que podia ter acontecido a qualquer um”, afirmou o presidente da Associação de Estudantes daquela escola, José Eugénio Lopes, que estava no local no dia do acidente.
Apesar de lamentar o sucedido, José Eugénio Lopes continua a afirmar que a associação “não tem qualquer responsabilidade na organização da actividade e no incidente” e que o jovem deslizou pelo declive de livre vontade, não tendo sido obrigado por ninguém a fazê-lo. Até porque, frisa, o estudante “não era caloiro” e naquele dia as praxes “destinavam-se unicamente aos alunos do primeiro ano”. Admite, porém, que aquela actividade – escorregar pelo declive até à vala – é comum durante as praxes e que vários estudantes a fizeram durante o dia.
O PÚBLICO tentou, por isso, contactar o conselho directivo da escola para saber se tencionam proibir a actividade, mas os professores recusaram prestar declarações. Apesar de já na altura do acidente, em Novembro, não terem prestado declarações à imprensa, os membros do conselho directivo enviaram uma nota a lamentar o “acidente ocorrido” durante as “actividades da Real Praxe”. No comunicado, garantiam que tiveram o “maior cuidado no sentido de evitar eventuais exageros, que pusessem em causa a dignidade e a saúde dos alunos submetidos às actividades praxísticas”. Mas, admitiam, “não foi possível evitar este acidente”.
Depois da queda, o jovem teve que ser operado no Hospital dos Covões - que faz parte do CHC -, e, apesar de a intervenção ter estabilizado a fractura cervical, os médicos chegaram a temer que o jovem ficasse tetraplégico, deixando de mexer os braços e as pernas. Porém, e apesar de ter perdido o movimento das pernas, o jovem “tem alguma mobilidade nos braços” e, segundo Deolinda Portela, poderá recuperá-la na totalidade com a fisioterapia que irá agora iniciar no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais, na Tocha (Cantanhede).
No final de Novembro, depois deste acidente e de outro muito semelhante em Elvas, que envolveu um aluno do primeiro ano, o M.A.T.A. - movimento anti-“tradição académica” – reagiu e, em comunicado enviado à imprensa, acusou o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, de nada fazer para resolver a questão da praxe académica: “(...) espanta-nos que no início da sua legislatura o ministro Mariano Gago tenha manifestado total repúdio perante estas práticas, tendo chegado a caracterizá-las como fascistas, mas que rapidamente tenha adoptado uma postura de total silêncio sobre o assunto.”

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1313473&idCanal=58

Debate ISCTE

Quinta-feira, dia 3, às 15h30,
no auditório 2 do Edificio Velho do ISCTE

Debate sobre PRAXE,

com a presença do Presidente da Comissão de Praxe do ISCTE e com o M.A.T.A.

Vamos debater, discutir, partilhar, criticar, ideias, opiniões e conceitos.
Aparece!


segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Mural


sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Mais uma vez "acidentes" da praxe são notícia

No passado dia 28 de Novembro, em Elvas e Coimbra assistiu-se, mais uma vez, aos efeitos da praxe, desta feita não só na vida estudantil, mas também na vida de pessoas. Tal como se passou com a Ana Sofia Damião e a Ana Santos, a vida dois jovens nunca mais será a mesma depois de sujeitos às "brincadeiras" da praxe.
Em Coimbra, no contexto da "Real Praxe", Luís Vaz, 20 anos, estudante de Engenharia do Ambiente na Escola Superior Agrária de Coimbra, ter-se-á lançado de um escorrega, com um desnível de 2 metros, para um "lago" de lama e palha. A queda resultou em lesões vertebro-medulares a nível da coluna cervical, sendo que neste momento o estudante se depara com a possibilidade de uma tetraplegia permanente.
No mesmo dia, em Elvas, também no contexto das actividades de recepção ao caloiro, João Pedro Farinha, estudante do 1º ano na Escola Superior Agrária de Elvas, após o "tradicional" rally tascas, terá sofrido uma queda de uma altura de 20 metros, perante o olhar atónito dos seus colegas.
O que é apontado como uma brincadeira, moderada e desejável, é-o apenas no discurso, porque as suas práticas traduzem um total desrespeito pelas liberdades e direitos das pessoas que nelas participam. Na nossa opinião, tal apenas vem demonstrar que as estruturas que a praxe tem vindo a organizar numa tentativa de legitimização, institucionalização e moderação (que surgiram como resposta às pressões de uma opinião pública cada vez menos disposta e menos tolerante perante as "brincadeirinhas" da praxe), não são mais que uma operação cosmética a algo que na sua essência não é mascarável: a subjugação dos estudantes pelos estudantes.
É imperativo que a comunidade escolar (estudantes, professores e funcionários), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a sociedade reflictam sobre estes fenómenos.
Aliás, espanta-nos que no início da sua legislatura o ministro Mariano Gago tenha manifestado total repúdio perante estas práticas, tendo chegado a caracterizá-las como fascistas, mas que rapidamente tenha adoptado uma postura de total silêncio sobre o assunto.
Chamar brincadeira e integração a algo que permite a prática de actos bárbaros e transforma estudantes, supostamente iguais entre si, em executantes de práticas selvagens e arbitrárias obriga a que a sociedade portuguesa, que se diz livre e democrática, reflicta urgentemente e de forma muito séria sobre as praxes.

M.A.T.A. - movimento anti-"tradição académica"

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O que não mata engorda

O MATA ainda não matou ninguém. Nem está a pensar fazê-lo. O nome, que alguns tanto acusam de ser agressivo, mostra a vontade que um pequeno grupo de estudantes teve de provocar alguma agitação nas águas estagnadas (senão regressivas) do meio universitário no início dos anos 90. É interessante pensar que os mesmos que tanto se indignam com a agressividade da palavra «mata» são os mesmos que insistem que as praxes e a tradição académica são dóceis brincadeiras e que quem não precisa delas é porque não gosta de brincar.
Mais de dez anos já passaram desde o início do MATA. Com o agravar da apatia das gentes que nos rodeiam e das aparentemente imparáveis correntes de massas sonâmbulas, sentimos cada vez mais a necessidade de lançar gritos dissonantes, de afiar bicos que rebentem as bolhas em que vivemos e de dizermos o que pensamos sem medo de ferir consensos e incomodar os poderes.
A luta contra a praxe não é para nós um fim, por si só. Se nos indignamos com ela e com os trajes negros em que roçamos ao passar nos corredores da faculdade e na rua, é porque a chamada “tradição académica” não sabe ser senão um veículo dos valores mais conservadores, sexistas, autoritários e passadistas que pode haver. Em vez disso, gostávamos de encontrar nas faculdades mais espaços de discussão sobre o que aí se passa e o que se passa no mundo, sobre aquilo que interessa às pessoas que nelas vivem várias horas dos seus dias. Em vez de organizar praxes, preferimos organizar actividades em que todos se sintam iguais com as suas diferenças e onde possamos criar objectos que reforcem o nosso desejo de mudar as nossas formas de estudar, de nos divertir e de viver.
Partindo dessa vontade, o MATA já criou, colou e distribuiu centenas de cartazes e panfletos e pintou dezenas de murais, já organizou vários debates e duas festas (sem quaisquer patrocínios de cervejeiras ou outras empresas!) e editou oito Toupeiras, um vídeo e o cd Não resistir só e não só resistir, que junta as músicas de várias bandas pouco tradicionais que continuam a não querer acomodar-se. Descobrimos que para fazer coisas basta ter mãos e cabeça, e vontade de não estar sozinho. Agora que o sabemos, experimentem dizer-nos para parar!