segunda-feira, 12 de outubro de 2009

«O que eu penso das praxes», por Teresa Cadete

Este é o segundo de muitos textos que o MATA decidiu pedir a várias personalidades, ligadas ou não ao meio universitário, e que terão como tema «O que eu penso das praxes». Na coluna lateral do nosso blog, os nomes dessas pessoas aparecerão listados para que seja mais fácil encontrar a opinião de cada um no nosso blog.

Teresa R. Cadete (n. 1947) é professora catedrática da Faculdade de Letras e faz parte do Departamento de Estudos Germanísticos. Tem dezenas de estudos publicados nas áreas da Teoria e História da Cultura e dos Estudos Schillerianos e traduziu também Schiller e Nietzsche. É também autora de romances, que publica com o nome literário de Teresa Salema. Ver mais aqui.



NA MESMA GALERA, OU SOMOS TODOS PRAXADOS

A carnavalização do mundo já nos toca na pele. Todos somos praxados ao vermos alunos a fugir às nossas aulas para se submeterem a rituais sadomasoquistas e apenas conseguimos proferir umas frases críticas com as quais sabemos de antemão que não vão concordar, porque: “Quem quer trajar, tem de praxar”.

Não vale a pena defender a proibição do intolerável. Não vale a pena repetir diante de quem pode até não ser mas que se faz néscio em momentos em que o tribalismo mimético se torna essencial à sobrevivência simbólica, à consolidação de um grupo. A Faculdade de Letras transforma-se, durante as primeiras semanas de aulas, em hordas de hooligans e vítimas, todos convencidos que estão muito distraídos e contando com a tolerância dos docentes por só mais tarde iniciarem rituais decerto mais chatos como preencherem fichas, informarem-se sobre programas das cadeiras, bibliografias, métodos de avaliação.

O que corre mal aqui não se soluciona com uma seca proibição, que talvez aliviasse por momentos a alma de quem se sente ofendido pelo facto de semelhantes práticas estarem a decorrer numa faculdade onde é suposto que se forme o espírito crítico. Pelo facto de semelhantes práticas serem importadas, coimbrices relativamente recentes.

A violência voltou aos espaços que deveriam ser de intervalo, convívio, leitura e lazer, não de ofensa directa ao trabalho de quem quer estudar e aprender ensinando.

Qual a solução?

Talvez não exista – enquanto receita de cozinha. Mas se a violência se extravasou, então é tempo que os críticos da praxe se mobilizem antes do início da mesma e adquiram visibilidade, apontando também alternativas. E que, já agora, as vão discutindo ao longo do ano para não ficarem pesarosos ao verem como as praxes sobem cada ano de tom em idiotice e ordinarice.

Continuamos na mesma galera – remando, até quando?

3 comentários:

Susana Reis disse...

Toda a razão.

Fred disse...

O problema realmente esta no "ate quando".

Porque quando se chega ao ponto de uma praxe que seja matar um aluno (ver caso da Lusiada de Vila Nova de Famalicao), devia ser suficiente para se banir uma pratica que no fundo e completamente dispensavel, leva, muitas vezes, a abusos que podem acabar com a vida de alguem.

Se entretanto a morte de uma pessoa nao e mais do que suficiente para dar uma palmadinha nas maos das pessoas que defendem a praxe... entao isto vai continuar assim ate que alguem que seja filho de alguem importante acabe realmente magoado.

Anónimo disse...

Sofrível -