Em resposta ao comentário/post feito por Sir Giga (no nosso blog aqui e no seu blog aqui). Espero ajudar para uma reflexão sobre a praxe.
Começo por citar algumas declarações que fizeste, tanto no post como no comentário, para de seguida contrapor:
- "as mesmas [hierarquias], para além de constituírem um imperativo sociológico, são uma imposição da nossa própria biologia, tendo sido, aliás, aprimorada ao longo de milénios pela evolução"
Não há nada na biologia humana que defina que têm de exitir hierarquias e muito menos hierarquias definidas antes do nascimento. Existem características que nos distinguem enquanto indíviduos, mas nada que defina à partida que uns têm direitos sobre os outros. Se uns são mais capazes numa determinada função outros serão noutra qualquer. Considerando que todas as ocupações humanas tem igual valor e são todas socialmente importantes, não me parece que deva existir alguém que pela função que desempenha deva ter mais direitos do que os outros, por mais importante que essa função seja. Aliás, a nossa Constituição reflecte esta posição. O Primeiro-ministro, ou o Presidente da República, tem tantos direitos quantos os outros têm. E estes não podem decidir sobre os outros para além das competências que lhes foram entregues pelo cargo que ocupam. É certo que muitas vezes eles tentam influenciar outros devido à sua posição. Mas isso é considerado eticamente incorrecto pela nossa sociedade, bem, e pelos nossos tribunais – normalmente chama-se abuso de poder. Se quisermos conduzir esta discussão quanto à necessidade de classes sociais, quanto à necessidade de haver uns que dominam e de outros que são dominados, a discussão será muita. Limito-me a dar a minha opinião – não são necessárias classes sociais para que as pessoas se entendam (podia acrescentar que a existência de classes determina o confronto entre elas e portanto a instabilidade social, e a história demonstra-o...) Poderia acrescentar também que considero a existência de hierarquias artificiais (artificiais, porque não reflectem a qualidade de determinado indivíduo para ocupar / desempenhar determinada função) e rígidas (porque estão pré-definidas) um dos maiores impedimentos para o desenvolvimento humano. Nas praxes o que se verifica é isso mesmo – uma hierarquia artificial e rígida que ser ve apenas para conceder os que ocupam um degrau acima poderes sobre os que ocupam os degraus abaixo. Para subir esses degraus e adquirir os poderes e direitos extraordinários (ou seja, a mais do que os que estão abaixo têm) não é necessário adquirir qualidade alguma, basta ganhar “anos de casa”. Não me parece um sistema muito lógico...
- "a adesão às mesmas [praxes] é completamente voluntária, sendo indefensável que haja coacção a esse respeito." (post)
"Há chantagem? Não, chantagear com quê? Há condicionalismos? Pois claro." (comentário)
Estas duas citações são ligeiramente contraditórias mas, enfim, vamos ao que interessa. O primeiro contacto dos novos alunos de uma faculdade com a sua instituição de ensino superior é a formulação de uma escolha que não é fácil de se fazer. E essa escolha é feita sob pressão. Um grupo de pessoas que já se conhecem (normalmente trajadas) aborda um grupo de pessoas que ainda não se conhecem, e coage este último a participar na praxe. Praxe esta onde, para quem vai ser objecto dela, ainda não se sabe o que vai acontecer. E se não se optar por ela mais nenhuma outra opção temos. Logo, não se pode dizer que é uma escolha. Dizer o contrário seria o mesmo que dizer que votar numas eleições onde apenas concorre um partido do qual não se conhece o seu programa governativo nem as pessoas que dele fazem parte é fazer uma escolha. A "escolha" é feita também sob a coacção de uma série de falsos argumentos. São os tradicionais argumentos da praxe, pouco honestos e invariavelmente repetidos na praxe de diferentes faculdades. «Se não fores à praxe...»: «...não farás amigos.», «...vais ter mais dificuldade em conhecer a faculdade.», «...não poderás usar traje.», «...não terás apontamentos por onde estudar.», «...não poderás ir aos jantares de curso ou à Festa do Caloiro.», «...não terás descontos noutras actividades da recepção ao caloiro.», «...não participarás num momento único da tradição académica onde apenas os estudantes universitários podem participar.», e por aí fora. Ouvindo estes argumentos dificilmente se conseguirá ter a iniciativa para sair dali. Se se conseguir ser-se-á automaticamente rotulado de anti-praxe e quase sempre forçado a assinar um papel a admiti-lo (quando, possivelmente, apenas não se quer ter nada a ver com aquilo). A partir do primeiro momento em que se entra na praxe já não nos pedem nada, exigem-nos. Quem praxa dá ordens, quem é praxado às ordens obedece. E estas ordens são para cumprir ou para sofrer as consequências da desobediência. Os castigos são vários, desde o singelo fazer flexões, ao rebolar pela lama, levar com comida (ou outras coisas) na cara, ouvir os colegas gritar aos ouvidos, simular actos sexuais, ou enfentar o «"Tribunal" de praxe» onde tudo parece poder acontecer. O consentimento tem de ser com base em informação, sem coacção e com tempo (não pode ser naquele momento em que os veteranos querem e quando toda a gente está a olhar para nós). Na praxe não se pode optar por fazer apenas esta ou aquela coisa. Está-se lá para obedecer a tudo, quer se goste ou não. Nos dias seguintes pode-se decidir não ir à praxe. Na verdade esta hipótese também não é uma verdadeira escolha porque o que acontece é que na maioria dos casos decide-se não ir à faculdade e assim fugir à praxe. Parece, pois, que a praxe veda o caminho à universidade para quem não quer ser praxado. Esta falta de liberdade característica da praxe, praticada em qualquer instituto de ensino superior e seja ela mais ou menos violenta, é o que a define como algo contra os princípios de uma sociedade que se quer livre, justa e solidária.
- "um grupo ao qual [o Diogo] aderiu voluntariamente (e no seio do qual, tanto quanto sei, se divertiu à grande durante anos) e rodeado por seus amigos."
É verdade que o Diogo aderiu voluntariamente à Tuna. Era músico e tinha gosto em continuar a praticar música na Universidade. Infelizmente, as universidades de uma forma geral só apoiam a música na forma de Tuna e isso fez com que a ela aderisse. No entanto, não se divertiu à grande como tu dizes. O que se sabe desta história é que ele estava farto de ser praxado e queria sair da tuna. Também se sabe que ele não estaria rodeado de amigos. Ficou sozinho por uns bons momentos perante aqueles que o praxaram insistentemente ao longo dos anteriores 4 anos e que o impediam de ser tuno, apesar de já estar há tempo suficiente na tuna para tal, e que o fizeram tomar a decisão de sair. Resumindo, ele estava num ambiente hostil e sabia-o. As conjecturas que teces em seguida são demasiado absurdas e contraditas por várias declarações que lemos na reportagem da Felícia e ao longo das várias notícias que já saíram sobre o caso (é visto a descer as escadas por um colega, sabe-se que não terá ensaiado quando ficou sozinho na sala com os tunos, bater com a pandeireta na cervical com força suficiente para se aleijar a sério, é um pouco complicado,...). Mas sem dúvida que nunca saberemos como tudo decorreu e todos os cenários específicos serão sempre especulação, embora me parece que um cenário geral provável é o de que tenha sido em consequência da praxe que terá sofrido as lesões, que se verificaram na autópsia, e que resultaram na sua morte.
- "Embora não acredite que tenha mais legitimidade ou autoridade moral que qualquer outro nesta discussão, não deixarei de atestar a minha autoridade e credibilidade no que diz respeito a este assunto".
Apesar de a primeira metade da frase ser muito bonita a segunda metade tira-te logo a máscara. Na verdade, o teu pretensiosimo tresanda em todo o post...
- “De facto, os estudantes são, à luz da lei, iguais em direitos e deveres, e é bom que assim seja. Já à luz da Praxis, à qual aderem SE FOR ESSA A SUA VONTADE, não."
O facto de fazeres esta declaração demonstra que reconheces que a praxe é uma prática fora da Lei e que tem essa pretensão. Mas, independentemente de os caloiros aderirem livremente ou não à praxe, nada dá o poder - aliás, a Lei, como tu disseste, retira esse poder -, aos veteranos ou à tradição académica ou a seja ao que for, de os tratar de forma diferenciada e com direitos e deveres distintos, seja em que circunstâncias for. O cariz despótico da praxe é demasiado evidente - uns dominam e outros são dominados, até ao fim do curso!!
- "O facto de alguém ter uma atitude perversa num determinado momento e contexto, não torna esse contexto, por si, perverso. O facto de alguém ter comportamentos condenáveis a pretexto das praxes, não torna a verdadeira Praxe, em si, condenável."
É engraçado que os exemplos que tomaste (desporto, casamento e trabalho) são alvo de medidas legislativas “especiais” para prevenção do crime que deles pode advir e proteger a parte mais fraca. No casamento, reconheceu-se que é crime público uma agressão em contexto matrimonial, existem linhas de apoio à vítima de abuso doméstico, as penas são mais pesadas,… No desporto, nos jogos onde é elevada probabilidade de confrontos entre claques, a segurança policial é maior. Levantam-se cordões policiais, seguem-se as claques, identificam-se os indivíduos mais perigosos,… No trabalho é a mesma coisa. Tenta-se (ou tentava-se, que isto o novo código de trabalho encostou-nos à parede) proteger a parte mais fraca da relação laboral, o trabalhador. O que isto nos diz é que, nos contextos em que há uma parte com poder sobre a outra, a primeira tenderá sempre a abusar da segunda. Então porquê criar um contexto destes com a praxe? A integração não pode ser feita de igual para igual? É menos divertido para quem?
Se bem que talvez seja difícil, neste momento, abolir o casamento ou o trabalho assalariado, a praxe talvez já não o seja...
Agora, para acrescentar algum humor a este longo post/comentário, pego na última frase do teu post e faço-lhe umas pequenas alterações:
Como nota final, peço que não se aproveitem deste caso para defender as praxes no geral. São contextos ABSOLUTAMENTE distintos e é completamente desonesto, bacoco e dum chico-espertismo lamentável pegar num caso como este, descontextualizá-lo e extrapolá-lo para construir um argumento (falacioso, claro está) a favor das praxes ou pior, para aceitar a Praxe (vulgo, "Tradição Académica") como tradição e prática decorrente da vida de adultos, livres, maiores e vacinados.
(Porque na verdade é a reacção que se vê tomar por quem defende a praxe quando estes casos acontecem. Demarcam-se deles, renegam-nos como uma consequência da praxe e aproveitam para dizer que a praxe é só maravilhas - a verdadeira praxe, aquela que não se vê por aí.)
Começo por citar algumas declarações que fizeste, tanto no post como no comentário, para de seguida contrapor:
- "as mesmas [hierarquias], para além de constituírem um imperativo sociológico, são uma imposição da nossa própria biologia, tendo sido, aliás, aprimorada ao longo de milénios pela evolução"
Não há nada na biologia humana que defina que têm de exitir hierarquias e muito menos hierarquias definidas antes do nascimento. Existem características que nos distinguem enquanto indíviduos, mas nada que defina à partida que uns têm direitos sobre os outros. Se uns são mais capazes numa determinada função outros serão noutra qualquer. Considerando que todas as ocupações humanas tem igual valor e são todas socialmente importantes, não me parece que deva existir alguém que pela função que desempenha deva ter mais direitos do que os outros, por mais importante que essa função seja. Aliás, a nossa Constituição reflecte esta posição. O Primeiro-ministro, ou o Presidente da República, tem tantos direitos quantos os outros têm. E estes não podem decidir sobre os outros para além das competências que lhes foram entregues pelo cargo que ocupam. É certo que muitas vezes eles tentam influenciar outros devido à sua posição. Mas isso é considerado eticamente incorrecto pela nossa sociedade, bem, e pelos nossos tribunais – normalmente chama-se abuso de poder. Se quisermos conduzir esta discussão quanto à necessidade de classes sociais, quanto à necessidade de haver uns que dominam e de outros que são dominados, a discussão será muita. Limito-me a dar a minha opinião – não são necessárias classes sociais para que as pessoas se entendam (podia acrescentar que a existência de classes determina o confronto entre elas e portanto a instabilidade social, e a história demonstra-o...) Poderia acrescentar também que considero a existência de hierarquias artificiais (artificiais, porque não reflectem a qualidade de determinado indivíduo para ocupar / desempenhar determinada função) e rígidas (porque estão pré-definidas) um dos maiores impedimentos para o desenvolvimento humano. Nas praxes o que se verifica é isso mesmo – uma hierarquia artificial e rígida que ser ve apenas para conceder os que ocupam um degrau acima poderes sobre os que ocupam os degraus abaixo. Para subir esses degraus e adquirir os poderes e direitos extraordinários (ou seja, a mais do que os que estão abaixo têm) não é necessário adquirir qualidade alguma, basta ganhar “anos de casa”. Não me parece um sistema muito lógico...
- "a adesão às mesmas [praxes] é completamente voluntária, sendo indefensável que haja coacção a esse respeito." (post)
"Há chantagem? Não, chantagear com quê? Há condicionalismos? Pois claro." (comentário)
Estas duas citações são ligeiramente contraditórias mas, enfim, vamos ao que interessa. O primeiro contacto dos novos alunos de uma faculdade com a sua instituição de ensino superior é a formulação de uma escolha que não é fácil de se fazer. E essa escolha é feita sob pressão. Um grupo de pessoas que já se conhecem (normalmente trajadas) aborda um grupo de pessoas que ainda não se conhecem, e coage este último a participar na praxe. Praxe esta onde, para quem vai ser objecto dela, ainda não se sabe o que vai acontecer. E se não se optar por ela mais nenhuma outra opção temos. Logo, não se pode dizer que é uma escolha. Dizer o contrário seria o mesmo que dizer que votar numas eleições onde apenas concorre um partido do qual não se conhece o seu programa governativo nem as pessoas que dele fazem parte é fazer uma escolha. A "escolha" é feita também sob a coacção de uma série de falsos argumentos. São os tradicionais argumentos da praxe, pouco honestos e invariavelmente repetidos na praxe de diferentes faculdades. «Se não fores à praxe...»: «...não farás amigos.», «...vais ter mais dificuldade em conhecer a faculdade.», «...não poderás usar traje.», «...não terás apontamentos por onde estudar.», «...não poderás ir aos jantares de curso ou à Festa do Caloiro.», «...não terás descontos noutras actividades da recepção ao caloiro.», «...não participarás num momento único da tradição académica onde apenas os estudantes universitários podem participar.», e por aí fora. Ouvindo estes argumentos dificilmente se conseguirá ter a iniciativa para sair dali. Se se conseguir ser-se-á automaticamente rotulado de anti-praxe e quase sempre forçado a assinar um papel a admiti-lo (quando, possivelmente, apenas não se quer ter nada a ver com aquilo). A partir do primeiro momento em que se entra na praxe já não nos pedem nada, exigem-nos. Quem praxa dá ordens, quem é praxado às ordens obedece. E estas ordens são para cumprir ou para sofrer as consequências da desobediência. Os castigos são vários, desde o singelo fazer flexões, ao rebolar pela lama, levar com comida (ou outras coisas) na cara, ouvir os colegas gritar aos ouvidos, simular actos sexuais, ou enfentar o «"Tribunal" de praxe» onde tudo parece poder acontecer. O consentimento tem de ser com base em informação, sem coacção e com tempo (não pode ser naquele momento em que os veteranos querem e quando toda a gente está a olhar para nós). Na praxe não se pode optar por fazer apenas esta ou aquela coisa. Está-se lá para obedecer a tudo, quer se goste ou não. Nos dias seguintes pode-se decidir não ir à praxe. Na verdade esta hipótese também não é uma verdadeira escolha porque o que acontece é que na maioria dos casos decide-se não ir à faculdade e assim fugir à praxe. Parece, pois, que a praxe veda o caminho à universidade para quem não quer ser praxado. Esta falta de liberdade característica da praxe, praticada em qualquer instituto de ensino superior e seja ela mais ou menos violenta, é o que a define como algo contra os princípios de uma sociedade que se quer livre, justa e solidária.
- "um grupo ao qual [o Diogo] aderiu voluntariamente (e no seio do qual, tanto quanto sei, se divertiu à grande durante anos) e rodeado por seus amigos."
É verdade que o Diogo aderiu voluntariamente à Tuna. Era músico e tinha gosto em continuar a praticar música na Universidade. Infelizmente, as universidades de uma forma geral só apoiam a música na forma de Tuna e isso fez com que a ela aderisse. No entanto, não se divertiu à grande como tu dizes. O que se sabe desta história é que ele estava farto de ser praxado e queria sair da tuna. Também se sabe que ele não estaria rodeado de amigos. Ficou sozinho por uns bons momentos perante aqueles que o praxaram insistentemente ao longo dos anteriores 4 anos e que o impediam de ser tuno, apesar de já estar há tempo suficiente na tuna para tal, e que o fizeram tomar a decisão de sair. Resumindo, ele estava num ambiente hostil e sabia-o. As conjecturas que teces em seguida são demasiado absurdas e contraditas por várias declarações que lemos na reportagem da Felícia e ao longo das várias notícias que já saíram sobre o caso (é visto a descer as escadas por um colega, sabe-se que não terá ensaiado quando ficou sozinho na sala com os tunos, bater com a pandeireta na cervical com força suficiente para se aleijar a sério, é um pouco complicado,...). Mas sem dúvida que nunca saberemos como tudo decorreu e todos os cenários específicos serão sempre especulação, embora me parece que um cenário geral provável é o de que tenha sido em consequência da praxe que terá sofrido as lesões, que se verificaram na autópsia, e que resultaram na sua morte.
- "Embora não acredite que tenha mais legitimidade ou autoridade moral que qualquer outro nesta discussão, não deixarei de atestar a minha autoridade e credibilidade no que diz respeito a este assunto".
Apesar de a primeira metade da frase ser muito bonita a segunda metade tira-te logo a máscara. Na verdade, o teu pretensiosimo tresanda em todo o post...
- “De facto, os estudantes são, à luz da lei, iguais em direitos e deveres, e é bom que assim seja. Já à luz da Praxis, à qual aderem SE FOR ESSA A SUA VONTADE, não."
O facto de fazeres esta declaração demonstra que reconheces que a praxe é uma prática fora da Lei e que tem essa pretensão. Mas, independentemente de os caloiros aderirem livremente ou não à praxe, nada dá o poder - aliás, a Lei, como tu disseste, retira esse poder -, aos veteranos ou à tradição académica ou a seja ao que for, de os tratar de forma diferenciada e com direitos e deveres distintos, seja em que circunstâncias for. O cariz despótico da praxe é demasiado evidente - uns dominam e outros são dominados, até ao fim do curso!!
- "O facto de alguém ter uma atitude perversa num determinado momento e contexto, não torna esse contexto, por si, perverso. O facto de alguém ter comportamentos condenáveis a pretexto das praxes, não torna a verdadeira Praxe, em si, condenável."
É engraçado que os exemplos que tomaste (desporto, casamento e trabalho) são alvo de medidas legislativas “especiais” para prevenção do crime que deles pode advir e proteger a parte mais fraca. No casamento, reconheceu-se que é crime público uma agressão em contexto matrimonial, existem linhas de apoio à vítima de abuso doméstico, as penas são mais pesadas,… No desporto, nos jogos onde é elevada probabilidade de confrontos entre claques, a segurança policial é maior. Levantam-se cordões policiais, seguem-se as claques, identificam-se os indivíduos mais perigosos,… No trabalho é a mesma coisa. Tenta-se (ou tentava-se, que isto o novo código de trabalho encostou-nos à parede) proteger a parte mais fraca da relação laboral, o trabalhador. O que isto nos diz é que, nos contextos em que há uma parte com poder sobre a outra, a primeira tenderá sempre a abusar da segunda. Então porquê criar um contexto destes com a praxe? A integração não pode ser feita de igual para igual? É menos divertido para quem?
Se bem que talvez seja difícil, neste momento, abolir o casamento ou o trabalho assalariado, a praxe talvez já não o seja...
Agora, para acrescentar algum humor a este longo post/comentário, pego na última frase do teu post e faço-lhe umas pequenas alterações:
Como nota final, peço que não se aproveitem deste caso para defender as praxes no geral. São contextos ABSOLUTAMENTE distintos e é completamente desonesto, bacoco e dum chico-espertismo lamentável pegar num caso como este, descontextualizá-lo e extrapolá-lo para construir um argumento (falacioso, claro está) a favor das praxes ou pior, para aceitar a Praxe (vulgo, "Tradição Académica") como tradição e prática decorrente da vida de adultos, livres, maiores e vacinados.
(Porque na verdade é a reacção que se vê tomar por quem defende a praxe quando estes casos acontecem. Demarcam-se deles, renegam-nos como uma consequência da praxe e aproveitam para dizer que a praxe é só maravilhas - a verdadeira praxe, aquela que não se vê por aí.)
33 comentários:
Sem ter paciência para ler até ao fim infindáveis comentários e respostas sobre tudo o que se está a escrever, e que mais não é do que debater o sexo dos anjos, ou a tendência partidária, ideológica ou até clubística, passo a opinar:
Se de facto é verdade que a a adesão à Praxe (escrevo com maiúsculas porque sou acérrimo defensor da Tradição Académica como parte da nossa Tradição Cultural) por vezes é "forçada", não é menos verdade que quem mais se esquiva a Ela e Dela fal mal nos corredores e vestiários das universidades, é quem mais tarde se torna no principal prevaricador e abusador (minha opinião, claro está, e respeito todos os qua a contradigam embora não me convençam com argumentos de qualquer espécie).
Já em relação às Tunas, não me lembro de ouvir dizer que se não entrares para a tuna vais "levar no toutiço", não vais ter amigos e "não vais acabar o curso porque ninguém te dá apontamentos"... Parece-me mesmo contrapruducente. NINGUÉM é obrigado a entrar para uma Tuna, muito menos é obrigado a sujeitar-se à Praxe em Tuna que não dura meia dúzia de dias, mas sim durante todo o tempo de caloiro! Caloiro em Tuna significa entrar de novo, praxei em Tuna veteranos de 13 matrículas e aqueles mais "matriculados", sempre foram sempre os que se menos queixaram. Mais ainda... NINGUÉM é obrigado a permanecer nela se se sentir abusado!
Em relação À Tuna em causa, posso ser ingénuo, mas conheço-os de hà vários anos e não acredito que pura e simplesmente o fizessem!!! São boa gente, gostam de se divertir e não consigo ver ninguém a bater até à exaustão por forma a causar morte de uma pessoa, tuno ou caloiro, independentemente do que possa ter acontecido! Consigo imaginar uma infinidade de cenários que possam ter causado a fatalidade, mas assassinato não! Desculpem se sou ingénuo ou incréulo.
Por uma praxe saudável e integradora, no melhor do Espírito Académico TransmonTano...
José Rainho, "belhote"
Arriscando-me a estar a iniciar um "ping-pong" infrutífero, dou resposta a este post em http://transmontunices.blogspot.com/2009/10/agradecendo-desde-ja-o-trabalho-que-s.html
"Se de facto é verdade que a a adesão à Praxe (escrevo com maiúsculas porque sou acérrimo defensor da Tradição Académica como parte da nossa Tradição Cultural) por vezes é "forçada", não é menos verdade que quem mais se esquiva a Ela e Dela fal mal nos corredores e vestiários das universidades, é quem mais tarde se torna no principal prevaricador e abusador (minha opinião, claro está, e respeito todos os qua a contradigam embora não me convençam com argumentos de qualquer espécie)."
E este comentário foi decerto suportado por um estudo intensivo, em diversas Universidades e não parte duma observação parcial de um ou dois casos que ele possa ter visto...
Não parte de nenhum estudo objectivo. Esses estudo, claro, não existe. Parte sim de diversos anos (já lá vão 15) entre a frequência das minhas licenciaturas, participação activa na Tuna da qual faço parte e de ser membro do Concelho de Veteranos da UTAD (onde hoje possuo o grau de Veterano Licenciatus); nos quais acompanhei ( e acompanho) intimamente as praxes que me foram e são possíveis, praxando, aconselhando, ajudando, integrando e fazendo um imenso número de amigos, mas também por vezes chamando a atenção e corrigindo práticas que claro, são desnecessárias ou reprováveis.
A escola da vida por vezes ensina-nos muito mais do que os bancos de escola, se bem que o saber empírico lá acululado é que alegadamente nos qualifica.
Bem hajas.
José Rainho, "belhote"
A propósito... ser.r.alves diz:
"Praxe esta onde, para quem vai ser objecto dela, ainda não se sabe o que vai acontecer. E se não se optar por ela mais nenhuma outra opção temos. Logo, não se pode dizer que é uma escolha."
Completamente errado. Actualmente toda a gente que vê televisão ou lê um jornal (não acredito que queiram tirar um curso superior sem fazer isso) sabe o que é a praxe.
Por outro lado, em qualquer altura, qualquer caloiro se pode desvincular dela. É como estar numa caixa de supermercado e querer deixar a cestita para trás... ninguém me obriga a pagar o que lá coloquei...
José Rainho "belhote"
"é como estar numa caixa de supermercado"
Mais uma vez encontro nos comentários dos defensores da praxe uma comparação "naturalíssima" entre as relações humanas e de amizade e as relações comerciais (supermercados, cestinha, Continente...). ver: https://www.blogger.com/comment.g?blogID=3335489430214975726&postID=4999042133982924974&isPopup=true
Meu Deus, que susto.
Vocês nunca tiveram amigos?
Pouco há a comentar a este respeito.
Gostaria apenas de fazer um ponto de ordem relativamente ao uso indiscriminado da palavra praxe - escrevem-na com maiúscula ou minúscula.
O M.A.T.A. comete um erro ao confundir "praxe" com "gozo ao caloiro", prática consubstanciada na altura da recepção ao caloiro. Para ser justo, o mesmo erro comentem os defensores da praxe.
Confesso que não tive ainda tempo para ler todo o conteúdo do blog, mas não me parece que tenha havido reacções epidérmicas a manifestações da praxe como serenatas monumentais de recepção ao caloiro ou da queima das fitas, ou às serenatas que se fazem a título pessoal, quer por tunas, quer por grupos de fados; não me parece que sejam condenados os bailes de gala, os chás dançantes. Que mal vem daqui ao mundo ou à mentalidade dos caloiros? E isto é também praxe e tradição académica.
Para já não falar dos dias da beneficência da queima das fitas ou dos peditórios a favor de instituições de solidariedade social organizados publicamente durante a recepção ao caloiro e no qual os nossos colegas-que-frequentam-o-primeiro-ano-pela-primeira-vez tomam parte activa. E isto é também praxe e tradição académica. Mas contra isto não se insurge o M.A.T.A.
Que tem o M.A.T.A. a apresentar de de minimamente parecido com isto?... Ou limita-se a reunir de vez em quando "quase sempre em Lisboa"?
Guitarras portuguesas; bandolins; cavaquinhos; bandolas; braguesas; bandoloncelos: instrumentos tradicionais (lá está a tradição outra vez...) condenados à extinção; violeiros condenados ao desaparecimentos, levando com eles séculos de técnicas de construção, se não fossem as tunas. Concordo que nem sempre estas os usam com bom gosto... Mas goste-se ou não particularmente deste tipo de instrumentos, a verdade é que eles fazem parte do património cultural português e a verdade é que graças às tunas não só não estão a desaparecer, como estão em franca expansão.
Que fez o M.A.T.A. pela defesa do nosso património artístico e musical (goste-se dele ou não, repito)?
O que o M.A.T.A. condena, também eu condeno: os abusos e crimes que em nome e com o nome de praxe se cometem todos os dias. Aplaudo os cartoons do M.A.T.A. e os slogans como "não se fazem amigos de pés atados". Aplaudo e aplaudo de pé.
Eu condeno os Gulags do tempo do Estalinismo. Creio que Francisco Louçã também o faz... Mas Francisco Louçã não pode ser acusado das vítimas do estalinismo. Ele dirá que aquilo não pode /deve ser chamado socialismo - e ele é o Secretário-geral do Partido SOCIALISTA Revolucionário (4.ª Internacional Socialista).
O Socilaismo mantém a validade, apesar de todos os abusos.
A praxe mantém a validade, apesar de todos os abusos.
Se eu dissesse que não era socialista por causa das purgas, dos gulags e do KGB, que me responderia o M.A.T.A.? Que eu era idiota? E tinha razão.
Que hei-de eu pensar, então, de quem diz que é contra a praxe por causa das barbaridades que vê à porta de tanta faculdade?...
Que há-de o M.A.T.A. pensar de Zeca Afonso? Que é um fascista? Ele que andou de capa e batina e cantou o fado e piscou o olho a tanta caloira em Coimbra? E Adriano Correia de Oliveira? E Luís Góis? E Camacho Vieira? E António Portugal? E António Brojo? São todos fascistas? São todos retrógrados? São todos imbecis e carneiros? Essa é boa...
O fim da obrigatoriedade do uso da capa e batina foi decretado em 1910... Todos estes a usaram. Todos estes foram lutadores antifascistas. Todos eles tinham uma personalidade forte e vincadíssima. Todos eles viveram de forma intensa as Tradições Académicas - as tais que o M.A.T.A. é anti.
Abraço cordial e democrático.
Na altura do fascismo usou-se a praxe e a tradição académica para combater o regime. Não sendo permitidas reuniões ou assembleias de estudantes, aproveitou-se a praxe para criticar o Salazarismo. Vestiram-se capas e batinas para, com a desculpa da tradição, que Salazar tanto defendia, se conseguir cantar contra Salazar.
A tradição académica foi usada e transformada para combater um regime ditatorial e não para defender a tradição.
Foi útil, pois foi.
Mas neste momento para que é que e como se usa a tradição académica? Provavelmente da maneira que Salazar teria gostado...
"Vocês nunca tiveram amigos?"
Grande parte dos que eu tenho foram e são feitos em Parxe. Se um dia quiseres passar por Vila Real, posso ter o prazer de to provar, e aproveitamos tomamos um café e mostro-te um pouco da realidade de Vila Real, pode ser?
"Que fez o M.A.T.A. pela defesa do nosso património artístico e musical"
Pinta murais de inquestionável gosto artístico que podes eliminar com um simples balde de tinta!
"Foi útil, pois foi."
Como no entender de alguns já não o é (e sublino a MINORIA do alguns!), embrulha-se e deita-se fora, ou guarda-se para o caso de um dia destes aparecer um outro Salazar e podermos voltar a tirar as velhas armas da prateleira.
José Rainho "belhote"
O problema é que com tanta "tradição" depressa aparecerá outro Salazar.
Bem, agora o MATA ter que fazer pela defesa do património artístico e musical é que é um argumento engraçado. Felizmente não temos essa pretensão.
Mas o problema das tunas é que abafam, pois são elas e apenas elas que são financiadas e apoiadas pelas faculdades, impedindo assim que outros grupos de outros géneros musicais surjam no meio estudantil com a mesma força com que surgiram aquelas.
Não se é contra o estilo musical das tunas, apesar de ser repetitivo e pouco original. É-se contra o monopólio cultural destas e a pretensão que têm em ser as únicas representantes da cultura que se faz no meio académico, estrangulando, à partida, qualquer outro que queira surgir.
Vocês é que se deviam estar a perguntar pelo que fizeram as tunas pelo desenvolvimento cultural, pela criação livre de preconceitos, estereótipos, ou modelos pré-concebidos prontos a usar. Repito, as universidades limitam-se a apoiar as tunas como se de um golpe anti-cultural se tratasse.
O MATA apesar de ser um grupo pequenino sem apoios financeiros, ou de outra natureza, vindos de onde quer que venham, ainda assim, fez, por exemplo, um CD com várias bandas portuguesas, não tunas claro (quem quiser pode enviar-nos um email a pedir um).
Não me importa que existam tunas. Chateia-me que só existam tunas.
Não me importa que exista gente fardada (acho ridículo que isso aconteça num meio universitário). Mas chateia-me que o traje tenha a pretensão de ser a veste de todos os estudantes do ensino superior.
Salazar o que gostava era disso mesmo, da tradição eterna. A estagnação no tempo. E foi brilhante a forma como os estudantes se aproveitaram dessa deixa para combater o fascismo.
Se aparecer outro Salazar usaremos sempre as armas que estiverem ao nosso alcance para o destronar. Mas para isso temos de estar atentos à sociedade em que vivemos e aos nossos tempos e não aos tempos do passado, recuperando tradições já extintas, alienando o pensamento livre.
Queres a tradição para quê? Para te lembrares do quão glorioso foi o passado e esqueceres de viver o presente?
A herança cultural vive-se e altera-se, não se impõe como modelo correcto de vivência.
Se queres viver no passado inventa uma máquina do tempo e vai para lá. Ou então vai para um museu e fecha-te lá dentro. Agora deixa-nos viver o presente.
Mas é claro que deixo viver o presente! Era o que mais faltava!
Curioso que o M.A.T.A tenha passado em branco as iniciativas de beneficência da praxe...
Só um idiota poderia pensar ou ter a pretensão que as tunas (ou o fado) são a única forma de expressão artística académica. Só alguém muito mal informado dirá que são as únicas a receber apoios... O Teatro Univ. do Porto, o Núcleo de Etnografia e Folclore da U. P. (NEFAP), o Coral de Letras - são o quê? Não existem?
Pois eu também lamento que não haja bandas de rock ou jazz (ou o que quer que seja) de índole universitária.
Essa de virar o bico ao prego dizendo que Zeca, Adriano, etc. se serviram das tradições para lutar contra as próprias tradições é mesmo muito boa! Repito, para quem não quis ler: no tempo de Zeca e Adriano o traje académico não era de uso obrigatório: já NÃO era obrigatório há MAIS DE 50 ANOS.
Quem é que aqui é salazarista? Que tem um conjunto de tradições que ver com política? Desde quando é que o regime salazarista fomentou a praxe académica?
Venham de lá os decretos que provam essas afirmações - fica o repto.
Até o conseguir provar, o MATA ilude-se a si próprio, repetindo o paleio estafado do Maio de 68. Não sei, muito sinceramente, qual de nós vive mais no passado.
Depois de (não) procurar (e de não encontrar o que não existe - mais uma conspiração montada pelo Rosa Casaca e pela PIDE, provavelmente), o MATA vai muito simplesmente dizer que não tem de provar nada a ninguém. Certinho como o Natal em Dezembro(outra tradição a abater - os membros do MATA nunca gozam as férias de Natal, vão sempre às aulas, mesmo no dia 25, porque o Natal é a festa da família e a família é um dos três elementos do lema do Estado Novo - Deus, Pátria e Família).
Cumprimentos democráticos.
Eu cá passei 4 anos na faculdade, o tempo do meu curso, e se só tivesse amigos da faculdade, já eram muitos, mas era uma pessoa muito infeliz. Felizmente tenho amigos da escola primária, do secundário, da família, do trabalho e de montes de outras coisas que faço.
Os meus pêsames para ti, Belhote, se só arranjas amigos por causa das praxes.
demorou até que alguém lançasse o repto da "bondade" da praxe e das acções de beneficiência. desculpem lá a minha ignorância, mas gostava de saber se antes das praxes existirem, já existiam ou não actividades de "beneficiência", e se estas só ocorrem no seio da praxe.
santa paciência, isto ouve-se com cada uma.....
Caro Pedro:
constato com pena que não sabe ler. Melhor: que não quer ler.
O repto foi a que o MATA provasse que o Estado Novo fomentou a praxe legislando sobre o assunto ou impondo-a... Consegue mostrar algum documento emitido pelo ditador Salazar ou qualquer um dos seus esbirros fascistas em que se promova e imponha a praxe académica nas universidades? Não. Porque sabem perfeitamente que não foi assim.
A praxe não é intrinsecamente boa. Nunca o disse ou escrevi - portanto ainda vai ficar muuuuuuuuito tempo à espera de que alguém lance esse repto... O que eu disse foi que da tradição académica TAMBÉM faz parte a beneficÊncia (bolas que você com esse "beneficIência" parece um tuno bêbado no bar da faculdade... quem diria!).
Parece, portanto, que a tradição académica TAMBÉM promove coisas positivas.
Quando foi a última vez que o MATA participou no "Natal dos Hospitais" ou promoveu um peditório público a favor de uma instituição de solidariedade social? Concordo consigo: não tenho paciência para ver o "Natal dos Hospitais"; no entanto, aplaudo fortemente a ideia por trás do evento...
Já agora, e só para satisfazer a minha curiosidade: àqueles que disseram que o Zeca se serviu da praxe para combater o Salazar - e que, portanto, nunca esteve naquilo de alma e coração e que foi só um disfarce, peço por muito favor que me expliquem:
a) a razão de ser da capa do álbum "Fados de Coimbra" (1981! 7 anos depois da Revolução de Abril!...) - google, facilmente se encontram imagens...
b) porque razão nesse mesmo álbum nem UM só tema é de protesto...
Seria por já estar esclerótico que na capa há três estudantes de capa e batina? E o trajado na contracapa?...
Mmmmm... razões que o MATA desconhece - e o pedro por maioria de razão. Mas, se eu sou suspeito, veja o que se diz no site da AJA (deve saber o que é e deve achar insuspeita) sobre o anti-praxismo do Zeca:
"O regresso às origens, 20 anos depois. Não chegou a ser a reconciliação, pelo simples facto de nunca ter havido da parte de Zeca um repúdio da tradição coimbrã [este também eu fiz...], mas apenas uma evolução natural derivada do 'corte epistemológico' que o cantor decidiu fazer com a praxe mais severa. Ao reassumir a sua condição de 'cantor de Coimbra' no início da década de 80, José Afonso não se limita a ser corajoso, mas está a contribuir novamente para tornar coerente a sua preocupação de sempre: manter viva a cultura portuguesa, o que não pode nem deve ser confundido com quaisquer intuitos de revivalismo saudosista. Voltando a cantar fados de Coimbra, José Afonso assume todo o seu trabalho, define-lhe os contornos, e, de novo, posiciona-se uma vez mais como provocador de emoções e agitador de mentalidades. Ao mesmo tempo, presta homenagem a Edmundo Bettencourt (este é o seu primeiro e único disco com dedicatória expressa) e ao seu contributo para a renovação e dignificação da música popular. Participação musical de Durval Moreirinhas e Octávio Sérgio. A foto da contracapa, não assinada nas diversas edições deste disco, é de Fernando Negreira.Viriato Teles"
Bem-vindos à realidade: "nunca houve da parte de Zeca um repúdio da TRADIÇÃO Coimbrã... mas apenas da praxe mais severa...". "Ao REassumir a sua condição de cantor de Coimbra Zeca ESTAVA A SER CORAJOSO"... Porquê "corajoso"? Por causa dos MATAs deste mundo, talvez, que nem percebem aquilo que são "anti". Ó Zeca, Zeca... O que fazem de ti e em teu nome... LOL!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ele há realmente com cada um (seja lá o que for que isto signifique em português...)
E com esta me despeço, com as habituais saudações democráticas.
Ressalvo, relativamente ao meu comentário anterior: [este também eu o fiz...] refere-se ao "corte epistemológico com a praxe mais severa".
E o mesmo se diga quanto à mais completa ausência de intuitos revivalistas.
Cumprimentos.
Nessa mesma página pode-se encontrar um pequeno texto auto-biográfico de Zeca Afonso (http://www.aja.pt/Autobiografia.pdf). Faço uma pequena transcrição.
«Em Coimbra as coisas mudavam lentamente. Novas remessas de estudantes, menos pitorescos mas mais conscientes do que os do meu tempo, mais devotados aos problemas que fatalmente surgiam num meio sufocado por tradição, as mais das vezes inútil, intentam, à semelhança do que já outras gerações haviam feito, romper declaradamente com o bafio, pôr de parte a quinquilharia passadista do velho romantismo do «Penedo», realizar ao nível associativo uma modernização da vida académica dentro dos limites a que os forçava o estreito meio geográfico em que viviam.»
(...)
«Nalgumas andanças por Lisboa tomei esporádico contacto com outros meios estudantis. Rapazes novos, dinâmicos, combativos, de pés bem assentes na terra, com os quais, embora de uma forma efémera, muito me foi dado a aprender. Ganhei amizades, rejuvenesci e sobretudo senti na carne a urgência de alguns problemas que até então mal tinham afectado a minha maneira de ser.
Numa disposição de espírito muito diferente da que me levara a procurar fora de Coimbra uma largueza de horizontes que a cidade me negara, renovei um pouco o meu conhecimento dos homens e dos lugares.»
É verdade, ser.r.alves.
No entanto, uma coisa não invalida a outra.
E continuam a não me explicar a razão da capa e batina num disco gravado em 81... Se o Zeca fosse radicalmente contra tudo, então até esse aspecto seria "censurado", mas o facto é que não foi. Ele foi, como eu sou, selectivamente contra alguns aspectos absurdos e obsoletos da praxe.
Como já referi noutros lugares, só um idiota se leva a sério nestas coisas da praxe. Se a tradição académica se esgota em si mesma e nas partidas (na sua maioria de péssimo gosto) aos caloiros, perde a razão de ser.
Quando o principal problema existencial de uma pessoa consiste no número de dobras que deve levar a capa, ou outra qualquer palermice do género, está tudo mal. Mas o mesmo posso dizer em relação ao futebol e praticamente a qualquer outro aspecto da actividade humana. O mal não está nas coisas em si, mas na forma como as usamos.
Segundo parece, a julgar pelas citações "contraditórias" até mesmo o Zeca pode mudar de opinião... O que só faz dele uma pessoa inteligente.
Caro sr. Eduardo,
as acções de beneficiência sempre existiram e enquanto forem necessárias neste mundo existirão, e quem quiser fá-las.
Não percebo o seu novo conceito de beneficiência por obrigação.
? Onde leu o caro André que eu falasse de beneficência por obrigação?????...
Explique-me lá esse conceito, que eu próprio também não percebo...
E, já agora, quem disse que a beneficência foi inventada pela praxe?...
Ao que parece,eu devo andar nas tunas erradas. Pertenço a duas e nunca vi um tostão furado nem de universidades nem de associações académicas. Zero apoio financeiro para transporte, para alojamento, instrumentos ou, numa delas, um evento anual com orçamento superior a 25.000 euros (e, pasme-se, não devemos nada a ninguém, antes pelo contrário). E olhem que é difícil custear estas e outras actividades culturais, quando a maior parte das actuações são "pro bono", sejam elas para a universidade e sua Academia, para a cidade, lares, escolas ou estabelecimentos prisionais. Estejam assim descansados, que o dinheiro das propinas continuará a ir para pagar dívidas à EDP e aos SMAS.
Realmente eu não entendo o MATA. Tendo, como cidadãos, o legítimo direito de apontar o dedo aos (raros) abusos de quem se aproveita das actividades de recepção aos caloiros para descarregar frustrações – actos que qualquer academista digno dessa designação condena veemente - dão no entanto constantes e contundentes tiros no próprio pé, optando por apontar baterias a toda a Tradição Académica. O mal não está em quaisquer abusos que ocorram em ritos iniciáticos, longe disso. Senão teriam que enfrentar os abusos que ocorrem a esse nível nas forças militares e de segurança ou noutros contextos (sabiam, por exemplo, que os escuteiros recebem os recém-investidos, fazendo-os correr por um “túnel” de “veteranos” com dolorosos golpes no dorso com um lenço bem enroladinho, entre outras partidas de gosto duvidoso aos novatos?). É a Tradição Académica, que é tenebrosa, fascista, anacrónica e pouco “lol”. São assim fascistas o traje, as insígnias e a pasta, as Monumentais Serenatas, a missa da benção das pastas, a latada, o cortejo, os jogos populares, as tunas, a Canção de Coimbra e seus grupos, as actividades de recepção ao caloiro (que outras há para além das “praxes”), as tertúlias, os saraus, os serrotes, os festivais e tudo mais. É a cultura que mais os incomoda. Essa cultura que dá vida a todo um sector – de outro modo falido - de fabrico artesanal de instrumentos. Essa cultura que preserva, revitaliza e divulga a sonoridade e o repertório tradicionais portugueses. Essa cultura que fascina os meus colegas estrangeiros que levam para os seus países de origem relatos apaixonados de noites mágicas, onde dezenas de milhares de estudantes, trajados a rigor, escutam com silêncio, reverência e comoção a uma serenata na Sé. Outros ficam encantados quando vão a um (bom) festival de tunas, e vêem musicos amadores que suplantam, ao nível individual ou de grupo, vocal e instrumental, a grande maioria dos artistas profissionais de música pop, rock ou ligeira que conhecem e que, teimosamente, tocam música portuguesa. Digam o que disserem, “Rock português”, por exemplo, será sempre um subproduto e constituirá sempre um desvirtuamento do original, ainda que alguns grupos possam ter, alguns méritos. Não cantamos em inglês para agradar (?) ás massas ou tentar a exportação, mas até simpatizo com quem procura fazer um produto mais próximo do original.
Poucas coisas há tão genuinamente portuguesas como o academismo, elemento indelével da cultura nacional. Mais que as touradas, garraiadas, festas da paróquia, procissões, foguetórios, Tonis Carreiras e outros que tais, sinto orgulho quando quem nos visita conheça esta faceta da mtriz identitária nacional, ainda que pouco divulgada. Mas já começa a haver quem venha ao nosso país de propósito para a Semana da Queima, apesar da inexistente divulgação institucional além-fronteiras.
Qual é então, a natureza dos problemas que tem o MATA com a Tradição Académica, em concreto? São de ordem, estética? Político-partidária? É só para meter nojo? Porque insistem em manipular a opinião pública (que, aliás, se está a borrifar para o MATA e similares, sem ofensa) com suposições, mentiras e associando falaciosamente situações que nada ou pouco têm em comum? É difícil convencer o público a abdicar de um pedaço tão querido e estimado de portugalidade? Pois é. Boa sorte com isso, pois vão mesmo precisar dela.
Cheguei a este blog, li alguns posts e comentários e estou de boca aberta.
A sociedade devia conhecer o pensamento destas abencerragens, que pelos vistos são os nossos filhos, os nossos estudantes de hoje. Pouca gente conhece o que vai na cabeça desta gente.
Trajes? Portugalidade? Tunas e serenatas por académicos "trajados a rigor"? Praxes entre uns alunos e outros? Espírito académico? Orgulho em ser estudante? (Para passado três anos ser desempregado?)
Se isto não fosse muito triste, eu diria apenas que vocês são ridículos! Dêem simplicidade à vida e julguem-se pessoas iguais às outras. O que é que um estudante académico tem mais que as outras pessoas? Porque não pode sentir-se igual não apenas ao estudante ao lado que está vestido de igual, mas de todas as pessoas que fazem o mundo? Que raio de orgulho é esse em ser estudante? Que ridículo. Dá quase vontade de rir.
Essa coisa dos trajes e das praxes torna-vos em seitas. Não percebem disso? Estão excluídos da sociedade porque se auto-excluem com as vossas parvoíces.
Felizmente, de certeza que não há só pessoas assim. E espero que as pessoas da M.A.T.A. sejam um exemplo disso. Precisamos de jovens modernos e não a puxar para o passado, que façam o país andar para a frente!
Sir Giga,
Confesso que não li toda a discussão feita neste post, não tive tempo de ler tudo.
Que existem apoios financeiros e de infraestruturas das instituições às associações académicas e de estudantes parece-me óbvio (embora não seja só daí). E isso é mais que natural. E existem AEs que apoiam incondicionalmente as praxes e as tunas, com todos os tipos de meios - conheço vários casos desses.
Em relação às outras praxes: eu sei bem que elas existem, mas não as legitimam. Sei que existem praxes militares (aliás, têm a mesma génese e forma, embora mais violenta (nem sempre)), mas isso não transforma as praxes académicas aceitáveis - são todas elas deploráveis e condenáveis, no meu entender. O mesmo em relação às praxes dos escuteiros, que passa precisamente por esse túnel após o recebimento do lenço (eu fui escuteiro durante 3 anos e actualmente penso que é uma organização que simplesmente não faz sentido, pelo menos em relação à sua estrutura hierarquizada, as ligações à Igreja Católica e por crianças e jovens a usar fardas semi-militares).
O M.A.T.A. é contra a chamada tradição académica. Criticamos a praxe, em toda a sua essência e prática; tal como a boçalidade das tunas, que se ocultam sob uma espécie de categoria intitulada "música tradicional portuguesa", quando é uma pop ranhosa com guitarras acústicas; e o traje que é símbolo da elitização do ensino, das diferenças e hierarquias inventadas entre estudantes. Não temos nada contra festivais, conversas, copos, música, serenatas, recepções e amizades entre estudantes. Mas quando integram estas coisas na praxe, sim achamos ridículo, estúpido e fascista.
Dizeres que o rock português é um "subproduto" é porque encaras a música como um produto, e não como cultura. Isso diz muito do que as tunas (que agradam as massas) na realidade são. Quando dizes que o rock é um desvirtuamento é que te tornas realmente ridículo: é um desvirtuamento do que? Mesmo quando cantado em português? Então José Afonso fez um desvirtuamento do caraças com o "Maio Maduro Maio", o José Mário Branco assassinou a "música tradicional portuguesa" (e o Luís de Camões) com o "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", e até os Xutos & Pontapés são uns hereges. Vá, ganha juízo.
A praxe nada tem haver com portugalidade (que nem sei bem o que significa), não é cultura portuguesa, não é música portuguesa, não tradição portuguesa. A praxe é uma prática boçal, fascista e hierarquizante, que não faz sentido em qualquer sociedade razoavelmente evoluída.
Ó sr. Giga,
é isto que queres preservar como grande traço de cultura?
“Pilinha”
Quando eu era pequenino,
Minha mãe disse vai, vai
Vai depressa assar sardinhas
P’ró almoço do teu pai
Refrão:
Estava a assar sardinhas, com o lume a arder
Queimei a pilinha, sem ninguém saber
Se fosse outra coisa, eu não me importava
Mas era a pilinha, que eu tanto estimava
Passei-lhe a mão pelas pernas
Para as comparar com as minhas
Ela disso ó “skinhead”
Vai mas é assar sardinhas
Refrão
Oh filha não digas isso
Anda lá deixa a sardinha
Se queres ver um skinhead
Olha p’rá minha pilinha
Refrão
Menina da saia curta
Se queres sardinhas assar
Eu não queimo a pilinha
Para consigo casar
Refrão
Ó filha não digas isso
Anda lá, deixa a sardinha
Se queres ver um “skinhead”
Olha p’rá minha pilinha
Refrão
Meninas amai o coxo
Que o coxo também se ama
Só a gracinha que tem
Ir aos saltinhos para a cama
Refrão
Mari Carmén, Mari Carmén
Já té lo decia ió
Qué los chicos de la tuna
Son lá puta qué os parió
http://taful.no.sapo.pt/cancioneiro.htm
Quanto à TAFUL, apesar de serem muito bons moços e animadíssimos, não os colocaria como o exemplo paradigmático do que entendo ser uma grande tuna(em termos meramente musicais, note-se). Há até muita gente que não goste de algum do repertório desta tuna, eu incluído (o "Ai Sr. Doutor" leva-me ao desespero). Mas têm outros méritos, ressalve-se.
Já quanto à Tuna Universitária do Minho, só alguém muito ignorante ou mal-intencionado poria "A Pilinha" como exemplo daquilo que estes senhores têm vindo a fazer há mais de vinte anos. É uma música do cancioneiro popular, brejeira QB, e que não acrescenta nada de novo. Cantam-na por ser animada e "porque o povo pede". Não gosto, mas não sou eu que tenho de gostar, nem a menina Diana, digo eu.
Mas quanto a esta formidável tuna (entre as 20 melhores nacionais, certamente, e até no TOP 10, muitos diriam), melhor mesmo é ouvi-la:
http://www.youtube.com/watch?v=U2u9TuKaVTk
http://www.youtube.com/watch?v=f1yVcIh3doM
http://www.youtube.com/watch?v=Eh8ols-1ukc
Só quem não percebe nada de música não encontra aqui méritos artísticos. Sabem o que é pôr 93 almas a tocar e cantar como um só? Todos amadores? Sem falhas, sem sintetizadores, whawas, distorções e amplificadores para disfarçar os "pregos"? E fazê-lo gratuitamente e apenas pelo amor à música, com entrega, dedicação, alegria e respeito pelo público?
De desejar, também lhe arranjo pareceres de professores de música, maestros, musicólogos e demais entendidos sobre aquilo que eles acham da qualidade musical das tunas universitárias, no geral.
Há tunas más? Há, e muitas, dentre as mais de 300 conhecidas, na minha singela opinião. A maioria delas é "aceitável?" Sim, sem dúvida, até mais do que isso. Destas trezentas, há mais de trinta tunas excelentes (bem mais do que uma por Academia)? Há, e até mais do que isso. E que tocam com tanta mestria e entrega Mozart, Vivaldi ou Brahms como chorinhos, salsas, sambas e música portuguesa, muita dela popular, para além de belos e bem orquestrados originais. E que celebram os poetas portugueses, espanhóis e sul-americanos, sejam quais forem as suas orientações políticas. E cujo repertório vai do erudito ao popular, mantendo no entanto uma sonoridade própria, distinta e imediatamente reconhecível para quem não é duro de ouvido, ou "duro de preconceito".
Seja como for, e caso a menina Diana ainda não tenha aprendido isso na escola (ou então faltou a essa aula, ou não a percebeu), não é o sentido estético de cada um que determina o que é ou não cultura. Acabem-se os ranchos folclóricos e restantes grupos etnográficos que a esquerda militante tanto quer preservar, já que a maioria das letras, estrutura e melodia das suas músicas estão ao nível do mais básico e a sua sonoridade não é de modas.
As tunas tem um papel fulcral na preservação deste património cultural, principalmente das regiões onde se sediam. Goste-se das tunas e da música tradicional ou popular ou não. Eu não gosto d`"A pilinha", nem de outras músicas do género, sejam elas cantadas por tunas, ranchos, claques desportivas ou o cantor pimba da moda. Mas quero que, como parte da tradição popular portuguesa sejam preservadas (como defendo a preservação das culturas tradicionais de outros países)
É o meu "esquerdismo" a falar mais alto. :)
As tunas (tunas em geral) são grupos de música. Os grupos de música é bom que existam. Música é cultura, diversão, arte, pensamento, poesia, movimento, etc.
Precisamente por isso, por fazerem música, não percebo como é que e porque é que as tunas académicas têm uma hierarquia tão rígida dentro delas - e tão descessária: basta olhar para toooooodos os grupos de música que existem e que não precisam de se chamar minhoca, besta, bicho, bicharoco e bichão uns aos outros nem de viverem em praxe permanente (que é o que acontece nas tunas académicas) para fazerem música uns com os outros.
Música não tem nada que ver com hierarquia, humilhação, corporativismo, grunhice e machismo.
Eu também faço música e sei muito bem que isso é dispensável, como o sabe qualquer pessoa. Grupos de música é o que mais há neste mundo e não se andam a praxar uns aos outros, nem a dizer que o que toca pandeireta está mais abaixo do que toca acordeão ou o que toca ferrinhos é uma "besta" porque só entrou no grupo há dois anos.
Quanto ao meu "sentido estético", é verdade que nem sempre o consigo pôr de lado. Mas faço notar que não é por razões estéticas que não gosto da música Pilinha. É mais por ser machista, parva, desinteressante e fazer o elogio da miséria sexual em que muita gente (e certamente quem a canta) vive. Para que hei-de querer preservar isso? Bah.
Cara Diana:
fala objectivamente do que não sabe...
Onde foi buscar que nas tunas há uma hierarquia de naipes - que as pandeiretas estão abaixo do acordeão ou que as flautas estão acima das guitarras?...
Onde foi buscar a noção de que existe uma praxe permanente ou que as pessoas passam a vida a insultar-se umas às outras?
Já alguma vez esteve num ensaio de uma tuna para saber como se passam as coisas?
Viva a liberdade de expressão... e de asnear...
Ahahahah!
Se eu contasse as vezes que as pessoas que defendem a praxe ou a tradição académica nos seus vários aspectos já me disseram coisas como «na minha escola é que é bom», «tu não sabes porque nunca viste», «tu não gostas da praxe porque nunca deves ter sido praxado», «vocês não percebem nada do que se passa realmente», «convido-te a vires ver a minha praxe para saberes como é»...
Eu acho que às tantas quem tem menos noção do que é a praxe são exactamente vocÊs, precisamente porque só olham para o vosso umbigo, a vossa escola, a vossa turma, a vossa seita.
"A minha seita é que é boa". Concordo. "Não sabes do que falas". Assino por baixo. "Não percebes nada do que se passa realmente". Amén.
A minha "seita" tocou este anos perante mais de mil pessoas que lotaram o Theatro Circo e pagou bilhete para isso. Depois dois dias seguidos no Teatro Municipal de Vila Real, também lotado, e também "a pagantes" e esta semana levantou todo o auditório da Aula Magna da UTAD para a actuação para os caloiros (ou será que eles apenas se levantaram a aplaudir porque a isso foram forçados?). Gostava de saber quem pagaria para ir a uma reunião do MATA. Mesmo de borla, quantos lá vão?
O Tony Carreira também enche o Pavilhão Atlântico dois dias seguidos, deixa estar.
Pois é, Diana...
A resposta típica de quem não sabe nem quer saber:)
A verdade é que nunca foi a um ensaio de uma tuna - coisa que não admitiu, o que seria equivalente a admitir aquilo que não quer: que fala por ouvir dizer e sem o mínimo conhecimento de causa :)
Honra lhe seja!
Como diria António Botto: "Enfim, gosto."
Pois é, Eduardo...
A resposta típica de quem acha que sabe tudo e os outros nada.
No entanto, saber o que acontece numa tuna não é assim tão complicado. Mas explique-nos, elucide-nos. É-se praxado não é? Às vezes durante vários anos certo? Existe uma hierarquia rígida que se vai subindo consoante os anos que se passam nela (para que serve uma hierarquia num grupo musical?)?
"É-se praxado não é?" É. Por vontade própria, saliente-se (ou agora levam-se caloiros da academia à força para as tunas?)
"Às vezes durante vários anos certo?" Certo, como já expliquei noutro post deste blog. E são tempos fantásticos, na minha opinião. Se quiser posso pedir a todos os caloiros da minha tuna para fazerem uma composição "O que eu acho da tuna e da minha condição de caloiro". Mas o mais provável era achar, na sua ignorância, que eu iria ter qualquer influência naquilo que eles escreveriam.
"Existe uma hierarquia rígida que se vai subindo consoante os anos que se passam nela?" A antiguidade ainda é um posto - e ainda bem - mas outros critérios há. Não estamos a falar de hierarquias lineares (como as dos lobos, por exemplo), mas de diferentes categorias de membro da tuna. Uma vez mais, remeto-o para os meus comentários a esse respeito num outro post.
Ah, e as orquestras também tem categorias e hierarquias. Nem todos são chefes de orquestra ou chefes de naipe instrumental (ou divas, já agora). A anarquia ainda lá não chegou, para pena de muitos, certamente.
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