sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mais sobre os protestos em Itália (2)

De novo, via 5dias.net, um relato de Laura Dias.

Ontem, dia 14 de Dezembro, Itália, mas principalmente Roma nunca esteve tão bela!
Para os estudantes, professores e investigadores o dia começou cedo na capital. Pelas 10h30 da manhã estes juntaram-se na Piazza Aldo Moro, perto da Universitá Degli Studi di Roma “La Sapienza”, onde se iniciou o cortejo. Estavam presente pessoas de toda a Itália, de Génova a Nápoles. O percurso do cortejo pretendia dirigir-se para as imediações da câmara dos deputados, onde se votava a moção de censura ao Governo de Berlusconi. Pelo caminho, foram-se inserindo dentro de cortejo outros grupos como por exemplo a CGIL (CGTP italiana), a FIOM (Federazionem di Operai Metalurgici), grupos de defesa da água, cidadãos de L’Aquila ou simplesmente cidadãos descontentes com o que está a suceder em Itália, mostrando que apesar de terem motivos diferentes para lutar, o objectivo era o mesmo: demonstrar o descontentamento face ao governo corrupto. Chegando à Piazza Venezia, próxima da câmara dos deputados, assisti aos primeiros confrontos entre protestantes e polícias, visto que os manifestantes queriam tentar furar a barreira policial para se puderem fazer ouvir (literalmente) pelos deputados que se encontravam em discussão e que estavam “protegidos” dos protestos pelos bloqueios policiais.
Mais ao menos na mesma altura correu a informação de que a moção de censura tinha sido reprovada por três votos, circulando assim um sentimento de desânimo entre os protestantes mas não de derrota. Sendo assim, a manifestação prosseguiu o seu caminho, com o intuito de chegar a uma outra estrada que dá acesso à câmara dos deputados, desta feita a escolhida foi a famosa Via del Corso. Quando parte de nós ia a caminho dessa rua, comecei a ver os primeiros sinais da “revolução”, ao avistar fumo preto, que constatei depois ser um carro incendiado. Nessa altura a pressão subiu de tom e parecia que a qualquer momento a polícia ia aparecer e “varrer tudo a eito”. Apesar disso, o protesto continuou e chegada à rua que dava acesso à Piazza del Popolo, que consequentemente dá acesso à Via del Corso deparei-me com um cenário único, que jamais imaginei ver em Roma. A rua e no fundo a praça tinham-se tornado em campos de batalha entre manifestantes e polícias, tendo sido criadas barricadas por parte dos manifestantes, de forma a defenderem-se melhor da polícia. Obviamente que tiveram que usar as poucas armas que tinham e foi por isso que muitos objectos foram incendiados, para possibilitar a criação de uma barreira entre a polícia e os manifestantes. A certa altura, ouvi alguém dizer que na Via del Corso e na Piazza del Popolo não se encontravam apenas polícias e Carabinieri, mas também o exército, o que demonstra claramente a violência exercida pelas “forças de ordem”, contudo eu só consegui avistar os Guardia di Finanza, que é um corpo especial da polícia italiana.
Nós que nos encontrávamos no cimo da rua começamos a criar cordões para nos podermos defender quando as barricadas fossem destruídas. No entanto, e devido à confusão a certa altura foram atiradas bombas de fumo que não consegui perceber se foram os manifestantes que estavam mais à frente a fazê-lo, devido ao caos que estava ou se foi a polícia. Nesse momento, a parte do cortejo que restava dispersou por várias estradas e acabámos por penetrar na zona conhecida como a área rica de Roma (do lado direito do rio Tibre). Após alguns minutos, a calma estabeleceu-se, mas como a manifestação se tinha dispersado, não foi possível continuar o protesto, até porque já não podíamos avançar para a Piazza del Popolo ou Via del Corso porque os acessos estavam impedidos. Foram presas cerca de cinquenta pessoas pelo facto de se oporem à política corrupta de Berlusconi e por terem decidido exercer o seu livre direito de manifestação [Ver vídeo].

Eu assisti à revolta dos estudantes italianos e não como ouvi na televisão italiana que eram os delinquentes, os desordeiros que estavam a revoltar-se. Penso que para muitos italianos já chega de repressão, já chega de corrupção, já chega de bloquear o futuro (o caso dos jovens), já chega de democracias aparentes e os acontecimentos de ontem mostraram isso mesmo. As pessoas chegaram ao limite da paciência e ontem saíram à rua em força. Agora, esperamos nós que o dia de ontem tenha sido o início. Prevê-se uma discussão da reforma da educação na câmara dos deputados nos dias 21 e 22, será que vamos voltar a ver Roma a ferro e fogo? Por fim, queria salientar ainda, que os estudantes (na sua maioria) manifestaram-se autonomamente, sem intenções partidárias por trás. Será que é a autonomia que nos falta?
Laura Dias

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

menos bolsas = mais pedidos de empréstimos bancários

Enfim, a juntar à triste realidade que vivemos quando se fala em financiamento do ensino superior e dos apoios aos que menos os podem suportar (ver post anterior), temos esta notícia, que mostra um dos resultados da política que tem sido seguida: o endividamento dos estudantes - os futuros precários ou desempregados ou, qualquer dia, futuros trabalhadores sem direito a reforma porque já não existe ou porque... morrem de velhice antes.
O Estado, pela mão do governo, desresponsabiliza-se de um dos seus mais básicos deveres: o Ensino dos seus cidadãos. Os bancos, esses, aproveitam para fazer dinheiro à custa dos que vivem na crise que eles próprios, os bancos, provocaram (lembram-se?).
Façamos comissões universitárias. Organizemo-nos e lutemos por aquilo que é nosso por direito! Vamos para a rua!


Já há 12 mil alunos a recorrer ao crédito para financiar cursos
Andrea Duarte, Diário Económico online
Os bancos já concederam mais de 140 milhões de euros em crédito a alunos do ensino superior.

Pode ser por não ter dinheiro suficiente para começar ou para acabar a licenciatura. Pode ser porque já trabalha e quer fazer um mestrado. Mas a razão que o leva dirigir-se ao banco não é tão incomum: 12.190 estudantes do superior já o fizeram. E contraíram empréstimos de valor superior a 140 milhões de euros. Os dados são do Sistema Nacional de Garantia Mútua (SPGM - Sociedade de Investimento), a entidade que funciona como "holding" deste sistema.

Este é um número que a especialista em financiamento do ensino superior, Luísa Cerdeira, considera "diminuto" face à população total dos alunos do ensino superior português, cerca de 370 mil, ou seja, apenas "representa perto de 3% dos estudantes portugueses". No entanto, lembra Luísa Cerdeira, "para um sistema que foi criado em 2007, há um certo sucesso no modo em que tem crescido anualmente". Isto é, há um público-alvo, "que não tem recursos ou tem algumas dificuldades conjunturais e recorre a essa modalidade, que tem um limite por ano e que, como tem o Governo como fiador, é versátil, já que as instituições bancárias respondem com alguma rapidez". Luísa Cerdeira lembra ainda que há uma grande coincidência entre bolseiros e alunos que pedem empréstimos.

Belmiro Cabrito, investigador da Universidade de Lisboa, considera que "os empréstimos existem a dois níveis: para responder aos problemas financeiros dos alunos e mesmo dos bolseiros ou então para promover a autonomia". Quando os bolseiros pedem empréstimos, "partem de situações económicas, culturais e sociais piores do que os outros e por causa disso ainda são penalizados em termos de juros", diz Belmiro Cabrito.
Carlos Maio, do SPGM - Sociedade de Investimento, acrescenta que "apenas para 45 empréstimos, dos mais de 12 mil concedidos, o Sistema Nacional de Garantia Mútua foi chamado a cumprir o seu papel de entidade caucionadora". Ou seja, estes 45 empréstimos, num valor "que ronda os 230 mil euros", representam uma taxa de incumprimento "baixa", de cerca de 0,37%.

O Crédito Agrícola, no entanto, acusa uma taxa de incumprimento de 2%. E considera "possível" que esta taxa suba, já que "à medida que os empréstimos deixem de estar na fase de utilização com carência de capital e entrem na fase de pagamento total de capital e juros, é provável que se sinta um ligeiro aumento do incumprimento". Os outros bancos recusam divulgar a taxa de incumprimento deste produto. O Santander Totta justifica que "só este ano é que a maioria dos estudantes termina os seus cursos, beneficiando, para já de um ano de carência de capital".

No entanto, para Luísa Cerdeira, poderá haver dificuldades da parte dos estudantes em reembolsar estes empréstimos. Apesar de haver, para esta especialista, "um grande sentido de responsabilidade, para pagar esse encargo", os diplomados do ensino superior vão entrar para um mercado de trabalho em crise. "Numa conjuntura muito desfavorável, é provável que demorem mais tempo a terem o rendimento para fazerem esse reembolso", considera Luísa Cerdeira.

Segundo o SPGM, num total de 11.058 créditos contratados, 9.307 correspondem a uma licenciatura. Os estudantes que pediram mais empréstimos são dos cursos de Enfermagem (683) e Direito (547). A maior parte dos empréstimos foram para pagar cursos no ensino superior público: 3.921 nas universidades e 2.172 nos politécnicos.

Banco a banco
BPI

"O número de empréstimos para Crédito Formação BPI com Garantia Mútua, até Outubro de 2010, foi de 706", diz fonte oficial do banco. Empréstimos que valem cerca de 9 milhões de euros e que viram, considerando apenas os meses de Setembro e Outubro, um crescimento de cerca de 43% face ao período homólogo. O valor mais pedido pelos estudantes aproxima-se do valor máximo permitido por cada ano de curso, cinco mil euros.
Crédito Agrícola
O Crédito Agrícola atribuiu, até agora, 99 empréstimos com garantia mútua. Destes, 2% estão em incumprimento, uma taxa que o banco considera que "é provável" que suba. Este ano foram concedidos 59 empréstimos e fonte oficial do banco adianta que "em 2010 verificámos uma procura superior". Os empréstimos a estudantes deste banco valem 1,3 milhões de euros e cada estudante pede, em média, 13 mil euros.
Santander Totta
"Desde 2007, financiámos mais de 3000 alunos, num total de aproximadamente 32 milhões de euros, sendo que, em média, cada aluno solicita um financiamento de 11.000 euros", diz fonte oficial do banco. O Santander deu crédito a cerca de 500 estudantes desde Agosto de 2010, o que traduz um "ligeiro aumento face ao período homólogo". O estudante médio é do ensino público e ingressa pela primeira vez numa licenciatura ou mestrado.

Estudantes do superior há quase dois meses sem bolsas de estudo definitivas

Notícia no Público online
9 de Dezembro de 2010, por Samuel Silva

A esmagadora maioria dos estudantes do ensino superior ainda não começou a receber o valor definitivo das bolsas de estudo. O Governo deu indicações às universidades para começarem a pagar os apoios em meados de Outubro, mas os alunos estão a receber apenas as bolsas mínimas. A Universidade do Minho é a única que está a transferir os montantes definitivos e confirma que as novas regras diminuem os apoios.

A análise dos processos de candidatura às bolsas de estudo está ainda a decorrer em quase todos os Serviços de Acção Social (SAS) das universidades e pode prolongar-se até ao início de Janeiro. Até lá, os estudantes recebem apenas 98,70 euros, o valor relativo à bolsa mínima, mesmo que tenham direito a um valor superior.

"Temos o processo quase fechado há 15 dias, mas, da forma como se está a mexer no sistema, a situação tem-se atrasado um pouco", afirma Amadeu Cardoso, administrador dos SAS da Universidade do Algarve [UAlg]. O mesmo responsável garante que, em anos anteriores, nesta altura, os estudantes da UAlg "já estavam a receber a bolsa definitiva".

O atraso verifica-se também na Universidade de Lisboa, confirma o administrador Luís Fernandes: "O processo de pagamento ainda não está em curso. Só foi pago, nos meses de Outubro e Novembro, um adiantamento aos cerca de 2500 alunos que foram bolseiros no ano passado."

A situação repete-se em todo o país. O gabinete do ministro da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago, reconhece que "é cedo" para conhecer dados finais sobre o número de estudantes que beneficiarão de bolsas.

O novo regulamento de atribuição de apoios foi publicado a 16 de Setembro. Um mês depois, Gago homologou as normas que definem os critérios de atribuição. As universidades têm, desde então, 90 dias, que terminam a 9 de Janeiro, para concluir a atribuição de bolsas de estudo.

A Universidade do Minho (UM) é a única que já pagou o valor definitivo das bolsas em Novembro e Dezembro. "Há vários anos que tentamos pagar no início do ano lectivo. Se não tivesse havido alterações, teríamos conseguido", assegura Carlos Silva, administrador dos SAS da UM.

A decisão de antecipar o pagamento do valor definitivo das bolsas foi tomada "a pensar nos estudantes", afirma Carlos Silva. "O atraso no pagamento das bolsas tem um impacto assustador na vida dos alunos. Grande parte deles precisa deste apoio para frequentar a universidade."

Para poder pagar mais cedo, a UM teve que começar também a trabalhar antes. Desde Agosto que os técnicos do SAS começaram a alargar a base de dados, incluindo todos os que pudessem entrar na fórmula de cálculo. "Quando foram publicadas as normas técnicas, estávamos em condições de dar seguimento ao processo de análise", explica Carlos Silva.

As bolsas pagas na UM confirmam os receios dos estudantes: as novas normas resultam em bolsas mais baixas. A bolsa de estudo média no Minho baixou de 216,23 para 198,57. O novo regulamento reduziu ainda o número de beneficiários. "Teríamos mais bolseiros pelas regras anteriores", afirma Carlos Silva.

O administrador dos SAS da UM desvaloriza, no entanto, o impacto do limite de património de 100 mil euros imposto aos candidatos à bolsa, estimando em um por cento o número de candidatos excluídos por força deste critério.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mais sobre os protestos em Itália

Laura Dias, faz um relato na primeira pessoa, sobre os protestos em Itália.
Publicado aqui, reproduz-se integralmente em seguida.


Um relato da luta dos estudantes italianos – “SE NOS BLOQUEIAM O FUTURO, NÓS BLOQUEAMOS AS CIDADES!”


Desde o início do ano lectivo 2010/2011 que estudantes, professores e investigadores italianos têm protestado contra a reforma educativa que o governo vem tentando implementar. Esta reforma é basicamente um processo para acelerar a privatização da educação, visto que potencializa a livre entrada de privados dentro de um espaço que deveria ser público.


Mal o ano lectivo iniciou, sentiu-se um clima de protesto dentro da Universidade com aulas que tardavam a começar devido ao facto de professores e investigadores se recusarem a dar aulas, em forma de protesto. Já os estudantes preparavam desde o inicio o “Outono Quente”. Logo durante o mês de Outubro principiaram as manifestações e ocupações de facultades (como é o caso da Facoltà di Ingenaria dell’Università Degli Studi di Roma “La Sapienza” que está ocupada por investigadores e estudantes até hoje) ou momentaneamente de monumentos significativos para o país (exemplo do Coliseu de Roma). Contudo, foi a partir do dia 29 de Novembro que os protestos se intensificaram com ocupações em todas as universidades e de forma simultânea. No dia 30 de Novembro (dia em que se votou na câmara dos deputados a reforma da educação) todas as cidades italianas foram invadidas de protestos do mundo da educativo: estudantes, professores e investigadores caminharam lado a lado, bloqueando o trânsito e ocupando estações de comboios.


Para este dia, os estudantes da capital italiana tinham previsto uma manifestação que chegaria à Piazza Montecitorio, local onde se encontra a câmara dos deputados. Todavia, ao chegar à Via del Corso que é uma das avenidas principais da cidade e próxima da câmara dos deputados deparei-me com todos os acessos a esta praça bloqueados por carrinhas da polícia, demonstrando assim as intenções do governo italiano – reprimir o protesto. Com as ruas bloqueadas, os manifestantes realizaram um cortejo em volta desta praça tentando em vários momentos furar o bloqueio policial, contudo sem sucesso, visto que as armas da polícia e dos estudantes são diversas, uns têm gás lacrimogéneo que não tiveram problemas de atirar aos manifestantes e outros têm livros! Por isso, nesse momento a manifestação teve obrigatoriamente que recuar. No entanto e inesperadamente (para mim) os estudantes não desistiram e continuaram o protesto, mudando apenas o percurso. Dirigimo-nos assim para uma das estradas principais dando acesso ao centro de Roma, bloqueando assim o trânsito e cantando “Se nos bloqueiam o futuro, nós bloqueamos as cidades”.


Durante o bloqueio destas estradas muitos foram os condutores que saíram dos seus carros e aplaudiram os protestantes, demonstrado que o movimento estudantil é reconhecido e apoiado pela sociedade civil. No seguimento deste percurso (quase completamente espontâneo) os estudantes encaminharam-se para a estação de comboios principal (Termini) penso que com o intuito de poder de regressar às imediações da Piazza Montecitorio. Contudo quando estávamos a chegar à estação a polícia apareceu em força e entrou na estação de cassetete ao alto, claramente com intenções de agredir os estudantes. Dentro da estação ocuparam cerca de 10 terminais, impedindo que muitos comboios partissem, estando simultaneamente a defender-se da polícia que os procurava cercar. Felizmente no final saíram “ilesos”. No final deste dia e depois de toda uma discussão na câmara dos deputados, os estudantes esperavam o resultado da votação da reforma que lhes vai “bloquear” o futuro.


A reforma foi aprovada, caminhando assim para a sua aprovação quase absoluta, que será decidida dia 14 de Dezembro. Todavia, depois da suposta “derrota”, estudantes, investigadores e professores não baixaram os braços e continuaram até hoje os protestos. Nestas duas semanas seguintes, Itália foi invadida por ainda mais ocupações, por ainda mais protestos. Em Roma, um dos mais significativos foi um que sucedeu em frente à Fondazione Roma, museu romano gerido pelo banco UniCredit que é um dos interessados na privatização das Universidades, um dos interessados em fazer parte dos conselhos de Universidade, isto é, nada mais nada menos que o RJIES “à la italiana”. Mais uma vez um protesto foi fortemente reprimido, sendo cerca de 10 protestantes detidos.


Como estudante portuguesa que assiste em Portugal aos mesmos problemas dentro da Universidade que supostamente é Pública, questiono-me o porquê de o movimento estudantil praticamente não existir, o porquê da cegueira? Quando é que vamos deixar os brandos costumes, quando é que vão existir protestos de verdade, manifestações que não são convocadas em fim de mandato e com mão partidária? Quando é que me vou manifestar em frente do Satander? Quando é que em Portugal vai voltar a existir um movimento estudantil de verdade?


Aqui, prepara-se mais uma grande manifestação de estudantes, professores e investigadores para dia 14 de Dezembro, dia em que a reforma vai ser votada no Senado e dia de todas as decisões para o Governo italiano, visto que se decidirá a queda ou não do mesmo. Visto que para os estudantes essa é a única possibilidade de ver a reforma reprovada porque só assim a Universidade italiana poderá continuar a ser um bocadinho mais pública e mais acessível a todos.


Aqui os estudantes fazem-se ouvir de verdade e nós quando faremos?

Laura Dias

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Notícias dos protestos no Reino Unido (2)

Do Centro de Média Independente - Portugal chega-nos a seguinte notícia:

Um assalto ao futuro

12 de Dezembro de 2010
Conforme anunciado, mais de 30 mil estudantes marcharam, na passada quinta-feira, em direcção ao parlamento inglês, num protesto poderoso contra o corte de 40% do orçamento para as universidades, a duplicação (por vezes triplicação) do valor das propinas e a mercantilização da educação.
Tomaram a praça do parlamento num registo de raiva dirigida aos deputados que aprovariam a alteração da lei da educação, numa intenção clara de passar os custos da crise para cima dos de baixo. É a mesma política que corta apoios sociais, que despede funcionários, que congela ordenados, que privatiza tudo que pode... e a lista poderia continuar.
A polícia voltou à táctica do cerco da manifestações (onde não se pode entrar e de onde não se pode sair) e houve muitas detenções. Uma das técnicas mais criativas de tentativa de combate ao cerco policial foi a desenvolvida pelo Book Bloc.

A luta estudantil britânica insere-se numa resposta que uma geração começa a dar a quem lhe quer cortar o futuro, obrigando-os a endividarem-se para poderem estudar, cortando-lhes nos apoios sociais e aumentando-lhes as despesas. A mesma resposta que tem vindo a ser dada, noutros locais, pela ocupação de universidades (que está a acontecer por toda a Europa), o bloqueio de cidades, as greves selvagens.
A determinação de milhares de estudantes em Londres, a raiva dos que invadiram o senado italiano contra a austeridade e os cortes na educação abre-nos o hoje, mostrando-nos o caminho para que o amanhã seja alguma coisa a ganhar e que começa no momento em que se decide colectivamente arriscar e lutar. A recusa de nos transformarmos todos em precários eternamente endividados e as lutas extraordinárias que se começam a desenvolver nesse sentido têm a capacidade de nos mostrar um presente com uma intensidade que ultrapassa a linearidade do seu próprio tempo. É um assalto ao futuro!
Não queremos mais dívidas, não queremos menos direitos, não queremos precariedade, não queremos pagar mais para estudar em Londres, Paris, Viena, Roma, Madrid, Dublin ou Lisboa. Esta resposta europeia tem tudo a ver com a recusa das políticas de austeridade e é um movimento que, apesar de disperso por várias lutas e vários países, fala a mesma língua, um verdadeiro movimento estudantil europeu, variado e radical, que procura coordenar-se. Um movimento de recusa que precisa de se encontrar e inventar uma gramática política diferente contra a venda de toda a vida ao lucro privado e à sua estratégia, implementada através dos Estados, de receita única: austeridade, cortes e endividamento.
A solidariedade que, em vários pontos da Europa, tem permitido a trabalhadores e estudantes encontrarem-se do mesmo lado da barricada deve crescer e ser a semente que se lança e que transforma o vento em vendaval.

Notícas dos protestos no Reino Unido

Através do blogue o tempo das cerejas (e também aqui) cheguei às seguinte notícias:

15-Year-Old Protester Goes Off On British Establishment
British students protesting tuition hike fees at national universities now have a viral video to rally around: a rousing address given by a 15-year-old slamming the nation's government.


The impassioned plea was made at the Coalition of Resistance National Conference in Camden, U.K., on Nov. 27, a youth, students and education workshop.


The teenager admits at the beginning that he may be in detention in a week and his school might not like it, but he feels he needs to speak his mind.


He builds up to this sequence toward the end of the video: "They can't stop us demonstrating, they can't stop us fighting back, and how ever much they try to imprison us in the streets of London, those are our streets. We will always be there to demonstate, we will always be there to fight."


He adds, "We are no longer that generation that doesn't care, we are no longer that generation to sit back and take whatever they give us. We are now the generation at the heart of the fight back."



Ele referia-se a uma manifestação que aconteceu em Londres no início de Novembro. Os protestantes, incluindo estudantes do ensino superior e do secundário (!!!), protestavam contra o plano do governo de aumento de propinas no Ensino Superior (para 3 vezes mais!!!).


Thousands Of UK Students Protest Tuition Fees Hike


LONDON (AP) — Tens of thousands of students marched through London on Wednesday against plans to triple university tuition fees, and violence erupted as a minority battled police and trashed a building containing the headquarters of the governing Conservative Party.


Organizers said 50,000 students, lecturers and supporters demonstrated against plans to raise the cost of studying at a university to 9,000 pounds ($14,000) a year – three times the current rate – in the largest street protest yet against the government's sweeping austerity measures.


As the march passed a high-rise building that houses Conservative headquarters, some protesters smashed windows as others lit a bonfire of placards outside the building.


Office workers were evacuated as several dozen demonstrators managed to get into the lobby, scattering furniture, smashing CCTV cameras, spraying graffiti and chanting "Tories Out," while outside police faced off against a crowd that occasionally hurled food, soda cans and placards.


"We are destroying the building just like they are destroying our chances of affording higher education," said Corin Parkin, 20, a student at London's City University.


The violence appeared to be carried out by a small group as hundreds of others stood and watched. Anarchist symbols and the words "Tory scum" were spray-painted around the building, and black and red flags flew from atop an office block beside the 29-story Millbank Tower.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"Nos passos de Torga"

Texto de Susana Branco, Fotografias de Humberto Almendra
12 de Dezembro, 2010
, publicado no jornal Sol


Nos passos de Torga Junto ao Mondego seguimos as pisadas do aluno e médico Adolfo Rocha e descobrimos a essência do escritor num percurso literário pela cidade dos estudantes e de Miguel Torga. Torga era um aficionado das tertúlias, contudo pouco dado às tradições académicas. 'Sempre combatera abertamente a praxe'. Reconstruimos a história e imaginamo-lo a tomar café no Arcádia e a entrar na Coimbra Editores, que lhe publicou os livros.

Recuamos uns metros, descendo pela ladeira do seminário, para ouvirmos uma passagem de A Criação do Mundo. O romance autobiográfico de Miguel Torga não sairá mais das mãos de Branca Gonçalves, que junto à casa com o número oito lê um breve trecho: «Para neutralizar de certo modo o meu desinteresse pela rotina universitária e contrariar a vida demasiado dispersiva da Tertúlia, instalaram-me na república Estrela de Alva, habitada por nortenhos rudes e aplicados».



É em 1925 que Torga chega a Coimbra. Filho de camponeses, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, no distrito de Vila Real, com o nome de baptismo de Adolfo Rocha. Depois de abandonar o seminário e de trabalhar como moço de recados numa casa de família do Porto, os pais mandam-no trabalhar na quinta de um tio, no Brasil. Como reconhecimento pelo seu trabalho, este oferece-lhe uma bolsa de estudos e envia-o para Coimbra. Tinha então 18 anos e a diferença dos sistemas de ensino obrigou-o a um processo escolar árduo. «Fiquei interno no Colégio de Santo António, lar e oficina pedagógica de Dr. Almeida. Um andar sujo, pobre, retalhado a canivete, onde o único traste que sorria era uma ardósia quando tinha contas a giz. Homem feito e de raça comprida, sentia certo constrangimento entre companheiros de 10 e 12 anos. O próprio director me dava pelo ombro. Mas não havia outro remédio senão começar pelo princípio», escreveu Torga.

Do outro lado da ladeira, à janela de uma residência universitária, algumas estudantes acompanham-nos neste prefácio à vida do escritor, cujos passos em Coimbra iremos seguir. Abandonamos, por isso, a antiga Estrela de Alva, onde viveu o autor «quando escolar de Medicina».

Adolfo Rocha ainda estudava quando publicou Ansiedade, o primeiro livro de versos. Só em 1934 é que adopta o pseudónimo de Miguel Torga: «Uma homenagem aos escritores Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno e à Torga, um arbusto transmontano que cria raízes profundas na terra, tal como a ligação de Torga à sua terra natal», revela Branca.

A caminho da universidade, percorremos o trajecto provável que Torga faria desde a república, optando pela travessia do Jardim Botânico, fiel à época. Paramos junto ao Instituto Botânico para dar novamente a palavra ao escritor que faz uma descrição soberba daquele lugar e do edifício - antigo Liceu D. João III - onde frequentou as aulas do sexto ano.

Já na zona alta da cidade, transpomos a porta férrea da velha Universidade de Coimbra onde, até meados do século XX, todas as faculdades funcionaram e Miguel Torga terminou a licenciatura em Medicina no ano de 1933. «Esta e a Porta Minerva, na zona baixa, delimitam a Universidade que à época fechava, tal qual uma escola, daí a designação de 'escolar'», explica a guia, referindo-se à citação da placa fixada na casa que serviu de residência estudantil ao escritor.

Torga era um aficionado das tertúlias, contudo pouco dado às tradições académicas: «Sempre combatera abertamente a praxe, e considerava a capa e batina símbolos anacrónicos dum passado morto», sublinha Branca em voz alta.



A descida panorâmica sobre o Mondego, pelas couraças de Lisboa e da Estrela, demora alguns minutos, mas o 'salto' na vida de Torga corresponde a alguns anos. O estudante tornou-se médico e, depois de um périplo profissional pela zona centro, instalou-se no Largo da Portagem. Em frente ao edifício, que hoje alberga um banco e várias empresas, a guia justifica a escolha do livro que trazia em mãos. «No 10.º ano entrevistei Torga, aqui mesmo no seu consultório. Começámos a fazer perguntas e ele, interrompendo-nos, perguntou se conhecíamos a sua obra. Dissemos que sim, que conhecíamos Os Bichos, e ele respondeu que se tivéssemos lido A Criação do Mundo não lhe faríamos semelhantes perguntas. Repetiu-o várias vezes!», conta. Branca acabou por ler a obra, a partir da qual dá hoje a conhecer o autor nesta Rota Torguiana. Reconstituímos a história e imaginamos o autor na rua Ferreira Borges, perpendicular, a tomar café no Arcádia, na Brasileira ou no Café Central, e a entrar na Coimbra Editora (que publicou os seus livros), ainda hoje a funcionar.

Já junto à margem do rio, alguém pergunta pelo memorial de homenagem ao escritor. Branca responde com um sorriso: «Está em cima dele!», olhando para uma passadeira em ardósia transmontana por debaixo dos nossos pés. «É como se fosse o olhar do poeta 'aprisionado' naquele consultório para as águas calmas do Mondego», diz a guia numa interpretação pessoal do monumento.

De autocarro fazemos o último troço do percurso até à casa onde Torga viveu entre 1953 e 1995, na zona dos Olivais. A funcionar desde há três anos como casa-museu, respira-se aqui a extensão humana do escritor, cuja vida e obra, mais do que conhecer, vivenciámos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Outono quente da Universidade italiana

por Leandro Vichi*

O início do ano académico 2010/2011 em Itália foi dos mais turbulentos dos últimos anos. Universidades ocupadas, manifestações diárias, greve do ensino por parte de professores e investigadores. A razão é a iminente entrada em vigor da reforma geral do ensino, conhecida como reforma Gelmini, do nome da ministra da educação do governo Berlusconi.

São dois os pontos mais contestados da reforma. Em primeiro lugar, o incentivo à precariedade da figura do investigador que, com a nova reforma, vai iniciar o seu percurso profissional com um contrato a tempo determinado, que se pode repetir até um máximo de oito anos. Depois, ou fica como professor associado ou tem que deixar a carreira universitária. É bastante previsível a atitude da universidade que, igualmente às práticas de recrutamento das empresas, terá a tendência, ao fim do período de precariedade, a deixar em casa o investigador “velho” para recrutar jovens frescos de doutoramento para mandar “à rua” depois de alguns anos. Segundo as normas actuais, os investigadores universitários não são obrigados a ter cadeiras mas na realidade metade dos cursos são deixados para eles. Por contestação a esta reforma, a maioria dos investigadores recusou-se de iniciar os cursos do ano académico. Não se trata de uma greve mas duma indisponibilidade a fazer um trabalho que, por lei, não são obrigados a fazer. Resultado foi a paralisação dos cursos de todas as faculdades italianas.

A segunda causa de mobilização, desta vez por parte dos estudantes, tem a ver com os cortes destinados às Universidades, em primeiro lugar as bolsas, quer aquelas para sustentar os alunos que pertencem a famílias a baixa renda, quer aquelas para financiar os doutoramentos.
Além do exponencial aumento das propinas dos últimos anos, verifica-se um corte de 170 milhões de euros nas bolsas (de 246 milhões de euros, em 2009, para 76 milhões de euros, em 2011) compensado pela introdução do empréstimo universitário para estudantes dignos; em relação ao doutoramento, conseguir uma bolsa é muito improvável, poucos são os departamentos que conseguem garantir mais de três bolsas e é praticamente impossível conseguir vaga, fruto da muita procura e do método pouco transparente da selecção dos candidatos. Em geral, os efeitos dos cortes à investigação levarão cada vez mais estudantes e investigadores a fugir de Itália, que já está no topo da classificação dos países com maior “fuga de cérebros”, para procurar melhores condições noutros países. Os jovens estudantes sentirão cada vez mais precário e inseguro o próprio futuro.
Além da indisponibilidade já mencionada por parte dos investigadores, a maioria dos professores também se mobilizou para manifestar a sua oposição à reforma, através de greves e aulas dadas nas ruas e nas praças das cidades. Mas obviamente a maior voz de contestação levantou-se dos estudantes. Já em Outubro os universitários começaram a invadir as ruas com a palavra de ordem “Não à reforma Gelmini” mas o verdadeiro terramoto verificou-se ao aproximar-se da data de aprovação da reforma, no final de Novembro. Centenas de milhares de estudantes ocuparam os monumentos símbolos da arquitectura italiana: o Coliseu em Roma, a Mole Antoneliana em Turim, a Torre de Pisa, a Igreja de São Marco em Veneza, etc., pendurando neles enormes faixas de protesto. Aeroportos, estações de comboio, auto-estradas e universidade foram invadidas e bloqueadas. Houve também uma tentativa de ocupação do Parlamento reprimido pela polícia. Além deste caso, as forças armadas foram protagonistas de inúmeras cargas e agressões contra os manifestantes de várias cidades, instaurando um clima de perigosa tensão social.


Depois de ser aprovada na primeira Câmara no dia 30 de Novembro, a reforma Gelmini deve ser apresentada na segunda Câmara. A oposição conseguiu adiar esta votação para depois do dia 14 de Dezembro, data da votação de confiança ao governo Berlusconi. No caso, muito provável, da queda do governo, a reforma não entrará em vigor, por isso verifica-se uma fase de impasse da luta estudantil.


Entretanto, houve manifestações de solidariedade a esta luta também fora do território italiano. Nas principais cidades europeias no dia da aprovação da reforma foram organizadas, principalmente por estudantes de Erasmus e investigadores italianos a estudar no estrangeiro, diferentes tipos de acções: em Paris foi pendurada uma faixa contra a lei no Arco de Triunfo e em Lisboa foi organizada uma concentração em frente da embaixada italiana.


*Leandro Vichi originário de Turim (Itália) vive em Lisboa e está no segundo ano do doutoramento em Ciências da Comunicação na FCSH-UNL.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A retaliação na praxe

Postámos há uns dias, aqui, um exemplo da persuasão usada para arrastar caloiros para as praxes. Eram bastante evidentes nesta passagem - "Isto porque já não têm que estudar e não admitimos qualquer tipo de desculpa. Estão já avisados que quem não for à praxe esta semana as consequências não vão ser as melhores, porque os doutores esforçam-se por vocês e vocês são uns ingratos (...)"-, três formas típicas de persuasão:
"criminalização" da falta à praxe - "Isto porque já não têm que estudar e não admitimos qualquer tipo de desculpa"
retaliação pela falta à praxe - "Estão já avisados que quem não for à praxe esta semana as consequências não vão ser as melhores"
Chantagem emocional - "porque os doutores esforçam-se por vocês e vocês são uns ingratos"
A reacção não tardou, e os visados vieram que nem damas ofendidas contestar aquilo que constatávamos. Contestar, como quem diz, porque não se viram argumentos nem contra-argumentos, apesar de apresentarmos um raciocínio suficientemente coerente para qualquer um perceber.
Mas passando à frente, porque a vontade que os visados demonstraram em fazer valer as suas opiniões foi nula - um acto típico de bárbaros -, encontrámos este aviso, que se reproduz abaixo.
É um bom exemplo da retaliação à falta à praxe. Evidente; claro como água; incontestável. Sendo assim, fica a questão:
Mas porque faltam os caloiros à praxe?

AVISO
Soube que na última praxe , a qual adiámos para quinta-feira porque na quarta-feira tinham que estudar, que foram apenas 6 caloiros. Por este motivo e não só, esta praxe valerá por 2, e nas próximas praxes em que tal aconteça vão começar a valer mais. Aviso também que nunca mais serão mudadas praxes por causa dos caloiros, quando houver praxe há e ponto final.
Informo também que haverá praxe do CV, esta quinta-feira dia 2 de Dezembro, fiquem atentos aos avisos na entrada da AE.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A praxe origina rivalidades absurdas

Num post mais atrás - Maravilhoso para mostrar o discurso de tom intimidatório e o carácter obrigatório e não-agradável da praxe - numa resposta a um comentário referimos um ponto que nos parece importante e que caracteriza a praxe. Nesse ponto dizemos, e passo a transcrever:
"(...) a praxe (...) separa as pessoas em cursos, anos, faculdades e cidades diferentes, fomentando uma rivalidade absurda que já originou, por várias vezes confrontos entres estudantes (...)"
E agora aparece-nos a notícia de que a praxe é proibida no Instituto Politécnico de Castelo Branco e o motivo para tal decisão são os "actos de vandalismo", "os conflitos" e "os distúrbios que ocorreram em plena Av. Nuno Álvares, junto à Câmara Municipal de Castelo Branco, alegadamente devido à escolha da Escola Superior de Educação como vencedora do cortejo."
Uma rivalidade entre escolas provavelmente alimentada pelas praxes.
Enfim, fica à vossa reflexão.

Seguem-se as notícias de 3 jornais:

Politécnico proíbe praxes dentro das escolas
25 de Novembro de 2010, José Furtado, Jornal Reconquista
Os actos de vandalismo ocorridos na Latada motivaram a decisão de Carlos Maia, que exige uma reorganização das praxes.

O Instituto Politécnico de Castelo Branco proibiu a realização de qualquer actividade relacionada com as praxes nas instalações das escolas. Na base desta decisão estão os actos de vandalismo verificados no dia da Latada, a 10 de Novembro. Os distúrbios ocorreram em plena Av. Nuno Álvares, junto à Câmara Municipal de Castelo Branco, alegadamente devido à escolha da Escola Superior de Educação como vencedora do cortejo.
No dia seguinte o presidente do Politécnico, Carlos Maia, convocou para uma reunião o presidente da Federação Académica do Instituto Politécnico (Facab), as associações de estudantes e os representantes das comissões de praxe. Do encontro saiu a decisão de “suspensão, por tempo indeterminado, dos apoios às actividades relacionadas com a praxe”, bem como a proibição também por tempo indeterminado “da realização de qualquer actividade relacionada com a praxe, nas instalações do IPCB e nas suas unidades orgânicas”.
O presidente da Facab, assume que os acontecimentos que levaram a esta decisão do presidente do Politécnico “não são nada dignos” e diz entender a posição de Carlos Maia neste processo.
Paulo Madeira demarca-se dos acontecimentos, mas diz também que os distúrbios poderão ter sido provocados por alguns elementos exteriores ao Politécnico.
O levantamento da suspensão decretada pelo Politécnico está agora dependente da reorganização das praxes, explica o dirigente da Facab, que deverá emitir em breve um comunicado sobre o assunto.

Castelo Branco: praxes suspensas após distúrbios na latada
25 de Novembro de 2010, Diário Digital / Lusa
Qualquer actividade relacionada com as praxes está proibida nas instalações das seis escolas do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB). A proibição surge na sequência de actos de vandalismo ocorridos há duas semanas na latada.

Os actos de vandalismo terão sido motivados por um alegado descontentamento em relação à escolha da escola vencedora do cortejo. Os mesmos actos de vandalismo levaram à convocação, pelo presidente do Politécnico, de uma reunião com o presidente da Federação Académica do Instituto Politécnico (Facab), associações de estudantes e os representantes das comissões de praxe.
Do encontro saiu a decisão de «suspensão, por tempo indeterminado, dos apoios às actividades relacionadas com a praxe» e da realização de qualquer actividade relacionada com a praxe, «nas instalações do IPCB e nas suas unidades orgânicas», refere um despacho do Politécnico ao qual a agência Lusa teve acesso.
O levantamento da suspensão está dependente da reorganização das praxes, disse também à Lusa o presidente da instituição, Carlos Maia.
A Facab diz entender a posição do presidente do IPCB e o presidente da federação assumiu que os acontecimentos que levaram a esta decisão «não são nada dignos». Paulo Madeira admitiu, no entanto, que os distúrbios poderão ter sido provocados por alguns elementos exteriores ao Politécnico.

Politécnico de Castelo Branco suspende praxes após distúrbios na latada
por Agência Lusa , 25 de Novembro de 2010
O Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) proibiu a realização de qualquer atividade relacionada com as praxes nas instalações das suas seis escolas, após atos de vandalismo ocorridos há duas semanas na latada.

Os atos de vandalismo terão sido motivados por um alegado descontentamento em relação à escolha da escola vencedora do cortejo e levaram à convocação, pelo presidente do Politécnico, de uma reunião com o presidente da Federação Académica do Instituto Politécnico (Facab), associações de estudantes e os representantes das comissões de praxe.
Do encontro saiu a decisão de "suspensão, por tempo indeterminado, dos apoios às actividades relacionadas com a praxe" e da realização de qualquer atividade relacionada com a praxe, "nas instalações do IPCB e nas suas unidades orgânicas", diz um despacho do Politécnico ao qual a agência Lusa teve hoje acesso.
O levantamento da suspensão está dependente da reorganização das praxes, disse à Lusa o presidente da instituição, Carlos Maia.
A Facab diz entender a posição do presidente do IPCB e o presidente da federação assumiu que os acontecimentos que levaram a esta decisão "não são nada dignos".
Paulo Madeira admitiu, no entanto, que os distúrbios poderão ter sido provocados por alguns elementos exteriores ao Politécnico.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Algumas notícias sobre a greve no Ensino Superior

"A greve foi um sucesso", garantem as organizações de trabalhadores, como a CGTP e a UGT. O governo e as associações patronais dizem o contrário. Já sabemos da discrepância entre os números de uns e os dos outros. E que "na origem de discrepâncias tão grandes nos números da greve geral estão as diferentes metodologias usadas pelos sindicatos e pelo Governo. Enquanto a taxa de adesão apurada pelos primeiros resulta do número de trabalhadores em greve sobre os que deviam estar ao serviço naquele dia, o Estado e a maioria das empresas faz o cálculo tendo por base a totalidade dos trabalhadores."
No entanto, parece-me que os sindicatos usam uma metodologia mais honesta que os governos. Apesar dos jornais e televisões preferirem sempre os segundos...

Mas, aqui ficam algumas notícias sobre a greve geral em universidades. (A notícia do jornal público só apresenta os valores "oficiais" de adesão à greve...)

Greve geral: adesão entre 40 e 95% no Ensino Superior - SNESup
Diário Digital

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) disse hoje que «os objetivos foram atingidos» na greve geral, com taxas de adesão entre 40 por cento, na Universidade de Coimbra, e 95 por cento, numa escola do Instituto Politécnico de Lisboa.
Com 90 por cento de adesão à greve geral de hoje - diz o SNESup em comunicado - estiveram a Universidade do Algarve, a «maior parte das faculdades» da Universidade de Lisboa e «alguns departamentos» da Universidade da Beira Interior.

Também a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa registaram uma adesão à greve da ordem dos 90 por cento, segundo a estrutura sindical.
A Escola Superior de Comunicação Social, do Instituto Politécnico de Lisboa, foi a que, de acordo com o sindicato, teve uma maior adesão ao protesto, com 95 por cento.
Com uma expressão menor, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Instituto Politécnico do Porto registaram uma adesão à greve geral de 50 por cento.
Na “maior parte das faculdades” da Universidade de Coimbra a taxa de adesão à greve geral foi de 40 por cento.
Por isso, hoje “não foi um dia normal no Ensino Superior”, uma vez que “um pouco por todo o país os docentes e investigadores mostraram a sua adesão à greve neste dia paralisando as suas actividades”, lê-se no comunicado.
O SNESup dá ainda conta de “uma greve com adesão significativa entre os funcionários não docentes” e da “não comparência de alunos”.
O sindicato adianta que “irá prosseguir com a convocação de uma concentração nacional junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior”, porque o ministro Mariano Gago “ainda não respondeu ao pedido de reunião que o SNESup formulou em 04 de outubro”.

A CGTP e a UGT realizam hoje uma greve geral conjunta contra as medidas de austeridade, anunciadas pelo Governo em setembro, que têm como objectivo consolidar as contas públicas, entre as quais os cortes de salários nos trabalhadores do Estado, o congelamento das pensões em 2011 e o aumento em dois pontos percentuais do IVA.
Esta é a segunda greve geral marcada pelas duas centrais. A primeira realizou-se há 22 anos contra o pacote laboral.

Faculdade de Letras de Universidade de Lisboa
Precários Inflexíveis
Grupo de Estudantes com o apoio da direcção da Associação de Estudantes estão em piquete na Faculdade de Letra da UL. O piquete garante que não há aulas na faculdade.
O pessoal não docente também fez greve (a rondar os 80%) enquanto que o pessoal docente está quase completamente ausente, aderindo à greve perto de 100% dos professores da faculdade.

FCSH Lisboa :: PSP identifica estudantes com justificação de que estudantes estão a fazer manifestação
Precários Inflexíveis
Os agentes da PSP justificam que estão a identificar os estudantes porque estes estão a realizar uma manifestação não autorizada pelo Governo Civil.
Portanto, o ridículo que os agentes Flávio Simões e Jorge Arnauth da PSP assumem, confronta o mais lato entendimento de democracia e liberdade num dia de Greve Geral.

FCSH Lisboa :: PSP identifica estudantes e monta aparato policial sem justificação legal
Precários Inflexíveis
A faculdade garante que não chamou a policia. Quem o terá feito? O aparato é ridículo. Duas viaturas e meia dúzia de agentes.

FCSH Lisboa :: PSP entra na faculdade e identifica estudante
Precários Inflexíveis
O número de agentes da PSP a pressionar os estudantes em piquete na FCSH aumentou para 4. Desta vez, os agentes identificaram alguns estudantes apenas por estes estarem no piquete de contacto, algo que não está a coberto da lei. Para além desse facto, 2 dos agentes entraram na faculdade sem qualquer pedido de qualquer responsável, e inclusivamente foram "convidados" a sair pelo Director da faculdade e por um responsável do Conselho Pedagógico.
A pressão da polícia sobe assim de gravidade na FCSH mas os estudantes mantêm-se firmes e determinados, garantindo que até ao momento não existam aulas a funcionar.

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL :: Colectivo A Garra com piquete de greve com 20 estudantes
Precários Inflexíveis
Os estudantes d'A Garra em piquete/concentração na Greve Geral na porta da FCSH, apontam para uma greve total às aulas.
Os serviços mínimos para abertura das aulas na FCSH não estão garantidos com cantina fechada. Também o bar da faculdade - Sabor a Nova - se manterá fechado.
80% de greve nos funcionários auxiliares e de limpeza.

Universidade de Coimbra com aulas mas menos almoços
24.11.2010, Por Maria João Lopes, Jornal Público
Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC), hoje de manhã o calendário ainda marcava 23 de Novembro. Faltou alguém para virar a folha para 24, dia de greve geral em que, naquele edifício situado na alta universitária, se registou uma adesão de 40 por cento. À porta, um papel afixado avisa os frequentadores do espaço dos constrangimentos: a biblioteca estará encerrada durante a hora do almoço e, ao fim do dia, em vez de fechar as portas às 22h00, fá-lo-á às 17h30. Além disso, não é possível fazer requisições de livros para levar para casa.

“Está tudo a funcionar, mas com o horário reduzido. E também não temos empréstimos domiciliários por insuficiente número de pessoas nos depósitos. Eu sou a favor da greve, estou cá a trabalhar porque tem que ser. E não acho justo pedir a quem vem trabalhar que faça mais do que o costume”, diz o director-adjunto da biblioteca, Maia Amaral, à porta do edifício.

Por voltas das 10h00, ainda há muitos lugares livres para se estacionar no pólo I da universidade – coisa rara. Também as pessoas que passam naquela alameda – à excepção dos turistas – são menos. Houve estudantes não apareceram nas faculdades, embora grande parte dos professores tivesse ido dar as aulas. Alguns em protesto contra a situação do país, como o docente de Direito Constitucional, João Loureiro, que levou duas t-shirts com frases estampadas como “restaurar a democracia, acabar com a partidocracia”.

“Vim dar as aulas normalmente, não quero que haja confusão com a minha atitude. Mas não posso concordar com esta vergonha. Eu até defendo os cortes, pode é não ser nestes moldes…Se viesse sem nada, podia ser confundido como concordante com o estado das coisas”, diz o docente.

Na escadaria da Faculdade de Letras da UC, um grupo de alunos de Estudos Artísticos apanha os ainda tímidos raios de sol da manhã. Estão a fazer uma pausa: “Tivemos aulas normalmente. Acho que os professores não estão a faltar”, diz Diogo Pinto, de 19 anos, acrescentando, porém, que estão menos alunos nas salas.

Os corredores das Letras estão mais desertos do que o habitual, embora, de uma forma geral, os serviços estejam a funcionar. Foi o vigilante Valdemar Madeira, funcionário de uma empresa subsidiária que trabalha para UC, quem abriu a porta de manhã.

O director da Faculdade de Letras, Carlos André, garante que, entre os 80 funcionários não docentes da faculdade de letras, a adesão ficou-se pelos 36 por cento - apenas no gabinete que se dedica às questões informáticas é que aderiram todos os trabalhadores. “Agora, os serviços académicos, o gabinete de apoio ao director, que é por onde entra e sai todo o correio, isso está a funcionar”, acrescenta. Quanto ao bar, à limpeza, ao serviço de fotocópias e à livraria - serviços que funcionam em regime de concessão, não incluem funcionários da UC – também não se fizeram notar grandes efeitos.

Na Faculdade de Letras há, porém, algumas salas de leituras encerradas, entre as quais a de História da Arte, por exemplo. “Mas os professores têm a chave de acesso”, ressalva o director. Quanto aos docentes, não há, para já, números definitivos. Em 200, apenas cinco entregaram uma carta a comunicar que estão em greve, mas o director sabe que o número será superior. Ainda assim, Carlos André reconhece que “a faculdade está muito morta”, até porque muitos alunos faltaram, por suspeitarem que poderia não haver aulas.

Não foi o caso de Mariana Mendes, de 19 anos: “Só tinha uma aula de três horas, mas o professor não faltou”, diz a aluna de Direito, sentada numa paragem de autocarro. “O meu pai trouxe-me de manhã, mas, como vi o 103 a passar, estou à espera…”, acrescenta.

A hora de almoço aproxima-se e é precisamente nas cantinas, que são geridas pelos Serviços de Acção Social da UC, que mais se sentem os efeitos da greve. A maior parte delas está fechada: a do Pólo II, as Cantinas Amarelas, as Azuis, a Sereia… A funcionar, só há duas: a das Químicas e a do Pólo III.

Os estudantes de engenharia André Cardoso, Joni Sousa e Vítor Sousa foram às aulas de manhã, mas à hora de almoço esbarraram no aviso que está à porta da cantina no Pólo II. Os refeitórios que estão abertos ainda são longe e há poucos autocarros a passar…“É uma boa questão, onde vamos comer?”, diz, entre risos, o estudante de informática de 20 anos, Joni Sousa. Na Faculdade de Ciências e Tecnologia, onde se encontram os cursos de engenharia, a adesão à greve, no período da manhã, de docentes e funcionários não docentes foi de 20, 97 por cento. Também no Pólo III, dedicado à área da saúde, os maiores prejuízos sentem-se na cantina. Depois das aulas, as alunas de medicina de 18 anos, Daniela Sanches e Catarina Silva, põem-se na fila. À frente têm cerca de 55 pessoas, menos do que habitual. E à disposição têm apenas o “prato social” – a ementa mais barata -, uma vez que o bar e o snack (mais caro e com mais pratos) estão encerrados.

“Só na cantina é que se nota a greve… Eu tive todas as aulas teóricas da manhã”, diz Anaísa Bartolomeu, estudante de Ciências Farmacêuticas, enquanto aguarda vez para tirar fotocópias na biblioteca.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Bolseiros, investigadores, professores e estudantes em greve!"

Copiado integralmente do Vias de Facto, de um post do Zé Neves (sublinhado meu). (Não tenho tempo para mais, mas queria anunciar a Greve Geral, pois razões não nos faltam!)

A greve geral do próximo dia 24 de Novembro é um momento privilegiado para questionar as respostas políticas, manifestamente desequilibradas, a um quadro económico de crise. Mas a greve pode assinalar também uma insatisfação mais difusa, prolongada, que atinge a relação das pessoas com o seu trabalho, mas que cada vez mais invade outras dimensões do quotidiano. A imposição de uma austeridade assimétrica, que protege os mais fortes, restringe progressivamente a autonomia pessoal e a possibilidade de escolha, corrói as capacidades de definir projectos de vida individuais e colectivos, destrói direitos que constituem a base elementar de uma sociedade minimamente justa.

É indiscutível que em Portugal se tem vindo a fazer um esforço de investimento na ciência. Todas as pessoas envolvidas na criação científica não deixam, no entanto, de ser afectadas por dinâmicas sociais mais alargadas que, atingido a maioria da população, se traduzem na erosão progressiva de direitos e na imposição de lógicas de organização de trabalho que assentam numa progressiva precariedade. Tal paradigma, sempre apresentado como uma inevitabilidade, constitui uma forte ameaça à autonomia do conhecimento científico.

Etapa de uma resposta colectiva ao futuro de inevitabilidades que nos é proposto, a greve assinala também a visível necessidade de criar formas de debate que permitam pensar modos mais eficazes de enfrentar estes problemas. Por isso, dia 24 fazemos greve.

A declaração já ultrapassou as 400 assinaturas; assinem aqui e divulguem junto dos colegas.

"Praxes académicas: sim ou não?"

Publicamos, finalmente, os dois artigos de opinião publicados no número 3 da Improp, a revista da da associação de estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com o tema das praxes. O primeiro foi escrito por João Luís Jesus, dux veteranorum e membro da Associação Académica de Coimbra. O segundo foi escrito por nós com base em alguma bibliografia.

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O que é a praxe académica, que significa?
Referindo-me sempre a praxe académica como a Praxe Académica Coimbrã, única e exclusivamente, esta é o aglutinar de todos os usos e costumes praticados ao longo das diversas gerações que pisaram as lajes e trilhos da Universidade de Coimbra. Representa todas
as vivências, as alegrias e as revoltas, os amores e os dissabores, o sucesso ou a raposa. A Praxe Académica Coimbrã não assenta numa postura redutora e simplista da interacção com os recém-chegados, na primeira semana de cada ano lectivo. Esta existe ao longo de toda a vida de qualquer académico, seja Caloiro ou Veterano; de Licenciatura, Mestrado, Doutoramento, ou de outros cursos de formação sem grau da UC. Engloba ainda estudantes do Ensino Secundário, discentes, docentes ou mesmo, Conimbricenses, sejam Praxístico ou contra. A Praxe Académica Coimbrã, no seu significado mais lato, é o Pulmão e o Coração do dia-a-dia Conimbricense.

A praxe é mesmo uma tradição académica?

Praxe vem do latim Praxis que significa prática. As tradições não passam de actos repetidamente praticados, e como estes são realizados em prol e no seio da Academia de Coimbra, praxe e tradição académica, neste caso, são sinónimos.

As tradições académicas fazem parte da cultura de um povo?
Tendo em conta a envolvência popular da Cidade de Coimbra em torno da Praxe Académica Coimbrã, ano após ano, a Praxe Académica Coimbrã constitui-se como um grande marco identitário de Coimbra, não querendo ser pretensão da nossa parte, em tal afirmação.

Faz sentido existir actualmente a praxe? Porque sim à praxe? O que se pretende com a praxe?
Toda e qualquer pessoa, acima de tudo, deve estar informada. E, reforço, bem informada. No entanto, essa busca de informação parte de cada pessoa enquanto parte integrada numa instituição académica como a nossa. O problema é que as gerações pós-conscrição cada vez mais estão habituadas a seguir o map da sua vida, indicado por um qualquer pseudo-burocrata. A Praxe Académica Coimbrã e o Magnum Concilium Veteranorum, através do Código da Praxe da Universidade de Coimbra, não procuram indicar qual o caminho exacto a tomar, mas sim, balizar os limites do bom senso e da sociabilidade académica numa comunidade de milhares de almas e individualidades diferentes.

Não existe maldade e humilhação na praxe?
Existe em quem a pratica mas não se encontra englobada no Código da Praxe da Universidade de Coimbra, sendo que nesses casos o Magnum Concilium Veteranorum não compactua com tais actos. Os limites da prática praxística – perdão pelo pleonasmo – dão uma liberdade individual que permite que a mesma tenha diversas conotações, conforme o caso, o lugar e o momento. Em qualquer situação que o Magnum Concilium Veteranorum seja interpelado, por se suspeitar a ocorrência de excessos, este intervêm rígida e determinantemente, através da sua base codicísta.
Facto é que a Praxe Académica Coimbrã permite a quem fizer uso dela, poder argumentar de forma tão irrefutável que nem o seu interlocutor, por total ignorância da praxe, preguiça de espírito ou conformidade lasciva, perceba os erros do colega, perpetuando, assim, um estado de
espírito anárquico contra-producente.

A praxe continua a ter o mesmo significado e o mesmo objectivo que há 40/50 anos atrás?

A Praxe Académica Coimbrã até 1979/80 esteve sempre em estreita relação e conotação com a irreverência e envolvência política na história do Portugal contemporâneo. Foi a partir dessa altura que se perfilaram outras estruturas, desta vez, democráticas, amplamente representativas da Academia de Coimbra e gradualmente imparciais dos poderes da Capital. Neste sentido, o Magnum Concilium Veteranorum debruçou-se sobre o seu verdadeiro papel, o da regência da identidade praxística coimbrã. Como tal, a Praxe Académica Coimbrã não pretende afirmar-se dentro de qualquer segmento da política partidária actual portuguesa, pelo contrário, defende o livre pensamento e escolha.

Pode um aluno recusar a praxe, que lhe acontece?
Pode, se assim for a sua vontade. O que lhe pode acontecer? Nada. Cada um é livre de escolher o caminho da sua iluminação cognitiva, tendo o poder de decisão em relação a adesão ou não da praxe mediante aquilo que lhe é proposto. Todo e qualquer aluno que sinta a sua integridade física ou psicológica posta em causa, em qualquer momento da praxe, é livre de a recusar e de a abandonar se assim for o seu desejo, sem que por isso tenha de se declarar contra a praxe. Todo e qualquer aluno, pertencente à Universidade de Coimbra, possui o livre arbítrio de aderir ou não ao espírito académico na qual se baseia a prática praxística sem qualquer represália sobre a sua decisão. No entanto, a postura assumida pelo estudante deve ser coerente ao longo do seu percurso académico.

O que pensam do MATA?
Desde de 1974, Portugal vive em democracia, como tal, todos têm direito a exprimir as suas opiniões livremente. O MATA é um grupo de pessoas que defende uma opinião e como tal deve ser respeitado, assim como aqueles que defendem posições com outra orientação.

Cum bona gratia Dux Veteranorum dimittere
João Luís Jesus
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O que é a praxe académica, que significa?
A praxe académica, no sentido estrito entendida como o conjunto de actividades que os veteranos impõem aos caloiros durante o início do ano lectivo, tem todas as características de um ritual de passagem. Deste modo, a praxe representa uma elevação (apenas aparente) do
estatuto social, onde nos deparamos com um processo de nivelamento, uniformização, rebaixamento, onde os caloiros assumem um papel de submissão perante o papel de domínio interpretado pelos veteranos. Não havendo regras bem definidas, nem sendo claro o programa de actividades desse período, observa-se de tudo na praxe, desde o mais lúdico ao mais humilhante. A provação iniciática, comum, partilhada e dolorosa, contribui para o fortalecimento das relações interpessoais e para a perenidade dessas “ligações” criando a sensação de integração e de pertença a um grupo.
Num conceito mais lato, a praxe académica é toda a panóplia de práticas rituais, formais e festivas, acompanhadas por uma constelação de imagens, de objectos e de mitos, associada aos estudantes universitários. No entanto, a praxe académica representa apenas uma parte da vida de um estudante universitário, podendo este ter uma actividade cultural, recreativa, desportiva e intelectual completamente dissociada daquela.

A praxe é mesmo uma tradição académica?
O que se observa na maioria das universidades do país não é mais do que uma tradição inventada, ou seja, muitas das práticas que são tidas por antigas são recentes na sua origem e muitas vezes inventadas. Isto é, muitas dessas práticas, tendo tido existência real no passado, são muito tempo depois resgatadas para contextos muito díspares daqueles que as viram nascer. Quer isto dizer que o que designamos no presente de tradição é menos o que nos chegou do passado mas mais o que escolhemos do passado para lhe dar continuidade. O resgatar desses hábitos antigos serviu apenas para determinadas universidades, recentes e sem história, principalmente universidades privadas, construírem e afirmarem uma identidade universitária e, assim, alimentar o sentimento corporativo de superioridade das elites – principalmente quando estas são recrutadas entre aqueles que não lhes pertencem pelo nascimento ou imputação.

As tradições académicas fazem parte da cultura de um povo?
Se se quiser e fizer por isso – fazem parte; se não se quiser – deixam de fazer. Por princípio opomo-nos a qualquer cultura de estagnação, ou seja, a qualquer cultura de massas. A desconfiança a respeito da cultura de massas repousa fundamentalmente em três receios:
1. que ela reduza os seres humanos ao estado de massas e entrave a estruturação de indivíduos emancipados, capazes de discernir e de decidir livremente;
2. que ela substitua, no espírito dos cidadãos, a legítima aspiração à autonomia e à tomada de consciência por um conformismo e uma passividade perigosamente regressivas;
3. que ela propague, por fim, a ideia de que os homens desejem ser fascinados, desviados e enganados na esperança confusa de que uma espécie de satisfação hipnótica os fará esquecer, por um instante, o mundo absurdo, cruel e trágico onde vivem.

Faz sentido existir actualmente a praxe?
Faz sentido como reflexo da própria sociedade, uma sociedade decadente e em declínio. Não faz sentido, se o que se pretender for reverter esse processo.

Porque não à praxe?
Porque há outras formas, como sempre houve, de conhecer pessoas, de entrar e conhecer novos lugares, de participar na vida colectiva, de nos relacionarmos uns com os outros (mais ou menos semelhantes a nós), e por todas as outras razões.

Como e porquê surgiu o MATA?
O MATA surge no início da década de 90 na FCSH-UNL, num contexto de grandes contradições. Em 1992, Cavaco Silva implementa a Lei das Propinas, embora com uma forte contestação. Alguns anos antes, e num curto período, aparece um enorme número de novas universidades, muitas delas privadas. Este boom é acompanhado pelo ressurgimento das praxes e outras tradições académicas – depois de abolidas em Coimbra em 69.
Nesta altura o MATA era pouco mais que uma sigla para chatear, reproduzida por gente que lutava contra as propinas e se irritava com o avanço conservador nas faculdades. As praxes e a sua miríade de discriminações associadas, o conservadorismo, o elitismo, com ou sem propinas, estavam aí à espera de ser combatidos.

Estão ligados a algum partido ou movimento político?
A resposta é obviamente não, pois um assunto como este não é propriedade ideológica de qualquer partido. Seria tão absurdo como perguntar se determinada comissão de praxe ou conselho de veteranos está associada a algum partido. De qualquer das formas, achamos que está no direito de qualquer pessoa militar no partido que entender.

Como dão a conhecer as vossas ideias, quais são as vossas acções?

Em vez de organizar praxes preferimos organizar actividades em que todos se sintam iguais com as suas diferenças e onde possamos criar objectos que reforcem o nosso desejo de mudar as nossas formas de estudar, de nos divertir e de viver. Partindo dessa vontade, o MATA já criou, colou e distribuiu centenas de cartazes e panfletos e pintou dezenas de murais, já organizou vários debates e duas festas, editou oito Toupeiras – o jornal do movimento –, um vídeo e o CD “Não resistir só e não só resistir”, que junta as músicas de várias bandas pouco tradicionais que continuam a não querer acomodar-se.

São contra as tradições académicas em geral ou apenas a praxe?
O Movimento Anti “Tradição Académica” opõe-se a toda a actividade estudantil que se proponha como tradição académica com o intuito de assim se legitimar perante os outros e de assim se fazer perpetuar. Opomo-nos à ideia de que os estudantes universitários se vestem de uma única maneira, tocam um único estilo musical e são um grupo intrinsecamente distinto de todas as outras pessoas que frequentam uma universidade ou uma cidade.

Apesar da vossa posição acham que poderá haver coisas boas na praxe?

De todas as experiências humanas podem sair coisas boas, desde que se faça por isso. A praxe não é excepção. No entanto, não é por isso que se deve defender a praxe.

MATA

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Notícias sobre a manifestação

Publicamos 3 notícias sobre a manifestação de 4ª feira passada, com alguns sublinhados nossos.

Milhares de estudantes concentrados frente ao parlamento
Sol

De acordo com o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), entre seis e sete mil estudantes do ensino superior concentraram-se em frente à Assembleia da República, na esperança de serem ser recebidos pelos grupos parlamentares e pelo presidente do Parlamento a quem solicitaram audiências.
Durante a manifestação de estudantes, hoje em Lisboa, Miguel Portugal declarou que «para não voltarmos a passar por este tipo de crises, pensamos que deve haver um investimento notório no ensino superior de modo a que haja pessoas mais qualificadas».
O presidente da AAC afirmou ainda que o ensino superior «não é um custo, mas sim um investimento», alertando para a eventualidade de alunos abandonarem os estudos por falta de apoios.
O dirigente estudantil criticou o decreto-lei 70/2010, que altera a forma de cálculo da capitação dos agregados familiares, diploma que os estudantes pretendem ver revogado. Referindo-se a eventuais cortes na acção social escolar, considerou que «é muitíssimo injusto» porque «a poupança não tem de ser feita à custa dos mais carenciados».
O protesto foi convocado pela Associação Académica de Coimbra, mas conta com a presença de estudantes dos politécnicos de Tomar e Beja, das universidades do Porto e Minho e da Faculdade de Ciências de Lisboa, entre outras.
A manifestação ficou marcada pela divisão entre os estudantes.
O presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa, André Caldas, esclareceu que esta estrutura não se juntou à manifestação por o protesto ter sido rejeitado no último encontro nacional de direcções associativas, «não podendo ter pretensões a ser uma manifestação nacional».
Também a Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, revelou que não participa na manifestação «por considerar que os motivos pelos quais foi convocada - o corte nas bolsas de estudo, a iminência de milhares de estudantes saírem do sistema de acção social e, consequentemente, do ensino superior - não se aplicam à realidade actual».

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Ensino Superior: Estudantes fazem balanço positivo da manifestação de hoje e negativo do estado do sector
Público

O presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) fez hoje um balanço “positivo” da manifestação realizada em Lisboa, pela mobilização dos alunos, mas também “muito negativo”, devido aos problemas “muito graves” que o ensino superior atravessa.
A manifestação do ensino superior público, para contestar os cortes na Ação Social Escolar e o aumento das propinas, entre outros, reuniu hoje entre seis mil e sete mil alunos de várias universidades do país, segundo a organização, e cerca de cinco mil, de acordo com a PSP.
“O balanço que fazemos é positivo e negativo. Positivo porque houve muita mobilização e negativo porque essa mobilização significa que há problemas muito graves em relação ao ensino superior”, afirmou o presidente da AAC, que convocou o protesto.
Os estudantes concentraram-se no Marquês de Pombal e seguiram depois para a Assembleia da República, onde foram recebidos pelos partidos com assento parlamentar.
Segundo Miguel Portugal, os grupos parlamentares “mostraram alguma abertura” para discutir a questão das bolsas de Acção Social, cuja atribuição deverá ser afectada pelo impacto do decreto-lei 70/2010, relativo ao cálculo da condição de recursos dos agregados familiares, que os estudantes querem ver revogado.
“Os objectivos políticos foram também cumpridos, mas se a situação continuar temos a certeza que mais estudantes virão para a rua protestar”, sublinhou o presidente da AAC.
Relativamente aos estudantes da Universidade de Coimbra, Miguel Portugal estima que dos cerca de cinco mil atuais bolseiros “entre 1200 a 1500” vão deixar de receber apoio.
Quando os estudantes ainda se encontravam no Marquês de Pombal receberam o apoio do candidato presidencial Manuel Alegre, apoiado por PS e BE, uma presença que surpreendeu o presidente da ACC.
“Foi uma presença importante para mostrar que é uma luta responsável”, comentou.
Participaram no protesto alunos das Universidades de Coimbra, do Minho, Porto e Nova de Lisboa, das Faculdades de Belas Artes e Ciências da Universidade de Lisboa e dos Institutos Politécnicos de Beja e Tomar, entre outras instituições.

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Ensino Superior: centenas de estudantes protestam em Lisboa
TVI

Mais de 300 alunos do ensino superior público estão a manifestar-se no Marquês de Pombal, em Lisboa, contra os cortes na acção social escolar, o aumento do valor das propinas e o processo de Bolonha.
«Ensino público gratuito de qualidade para todos», «Por mais acção social escolar», «Nunca pagámos tanto por tão pouco» e «Mais financiamento para o ensino superior» são algumas das frases que podem ser lidas nos cartazes empunhados pelos estudantes.
O protesto foi convocado pela Associação Académica de Coimbra, mas conta com a presença de estudantes dos politécnicos de Tomar e Beja e das universidades de Lisboa, Porto e Minho, entre outras.
«É uma situação que toca a todos e que está a ficar cada vez mais grave. A acção social chega tarde e a más horas e as propinas aumentam cada vez mais», afirmou à agência Lusa João Guerra, do Instituto Politécnico de Beja.
A manifestação vai depois seguir para a Assembleia da República, onde os estudantes esperam ser recebidos pelos grupos parlamentares e pelo presidente Jaime Gama, a quem solicitaram audiências.
Cláudio Domingos, do Instituto Politécnico de Tomar, pede ao ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, para «não se esquecer dos estudantes» e questiona «como se sobrevive com 97,5 euros por mês de bolsa», numa crítica aos atrasos no acerto destes apoios.
No local da concentração, no Marquês de Pombal, ainda não se encontram os alunos da Universidade de Coimbra, sendo esperados 3500 estudantes desta instituição.
O desfile até ao Parlamento vai obrigar ao corte do trânsito na Rua Braacamp, Largo do Rato e Rua de São Bento.

É a "praxe", dizem eles

Publica-se o seguinte artigo de opinião encontrado aqui, site do Jornal de Notícias, a 19 de Novembro de 2010. O autor é Manuel António Pina, jornalista e escritor português.


É a "praxe", dizem eles


Com o cair da folha e o início do ano lectivo, começam a ver-se por aí, onde existam universidades e aparentados, os habituais espectáculos de bandos de imberbes caloiros apascentados por não menos imberbes "doutores" ministrando-lhes todo o tipo de boçalidades e indignidades que a rasca imaginação lhes permite, com o devido enquadramento de bebedeiras, comas alcoólicos e música pimba que ilustram o nível moral e intelectual não só dos futuros caixas de supermercado da Nação mas igualmente das escolas que os formam.


Pôr jovens estudantes de joelhos e obrigá-los a suportar com um sorriso nos lábios as prepotências fascistas, nem sempre "soft", dos mais velhos é, alega-se da parte dos por assim dizer responsáveis de algumas universidades, uma forma de "integrar" os alunos recém-chegados na vida e no espírito universitários. E, Deus nos valha, se calhar é. Não restem dúvidas de que, de tal ponto de vista, as universidades cumprem até à excelência a missão que, de há uns tempos para cá, alegremente pretendem assumir, não de lugares de estudo e investigação, mas de fornecedores de mão-de-obra qualificada (na circunstância em despotismo e docilidade acrítica) ao mundo empresarial e do trabalho.


Ontem vi, nos "Leões", uma rapariga de pés e mãos no chão cavalgada por um futuro "doutor à bolonhesa" que simulava chicoteá-la. Que melhor imagem da Universidade (ou de alguma Universidade) que temos?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manifestação Ensino Superior, 17 Novembro, às 15h. Cidade Universitária -> MCTES

A manifestação está marcada para Lisboa e é já amanhã mas, tanto no site da Associação Académica de Lisboa (AAL), como no da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), ou da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT-UNL), ou o da AE do Instituto Superior de Agronomia (ISA-UTL), ou a AE do Instituto Superior Técnico (IST-UTL), ou da AE da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH-UNL), ou da AE da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), ou da AE Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL), não se encontra referência a esta. Que se passará?
Uns, encontramo-los quase vazios, outros com publicidade a eventos organizados por marcas de telemóveis, outros falam de aniversários institucionais, outros pedem desculpa por o website estar temporariamente indisponível.
É preciso ir ao site da Associação Académica de Coimbra para se saber da convocatória, que se transcreve abaixo.
Percebe-se, por aqui, que foi organizada e algumas daquelas organizações estudantis aderiram. Mas porquê tão mal informação. Não vi cartazes nas ruas, os sites não anunciam, as televisões, rádios e jornais, claro que também não (talvez apareçam no dia para tirar umas fotos e filmar uns segunditos). Há panfletos a circular? Parece que houve algumas reuniões gerais de alunos mas que aconteceu depois disso? Não querem o sucesso da manif?
O comunicado (oficial?) do evento lá o encontrei:

“MARCHA PELO ENSINO SUPERIOR”
A degradação do Ensino Superior é hoje uma realidade incontornável. Devido a uma política de desinvestimento sucessivo por parte do Governo, as Faculdades sofrem uma crise de financiamento sendo que as propinas dos estudantes servem meramente para despesas de funcionamento, ao contrário do que a Lei prevê. Temos serviços a funcionar a meio gás, cantinas e bibliotecas encerradas para poupar recursos; um parque escolar degradado, não só ao nível do conforto e da higiene, mas constituindo já um perigo real para os estudantes que o utilizam; e um sistema de acção social que não abrange todos os que dele necessitam e que mantém o modelo de atribuição de bolsas por escalões, promovendo a iniquidade.
E é esta a realidade que os estudantes muitas vezes ignoram. A organização das Universidades imposta pelo RJIES resultou num efectivo afastamento dos estudantes da gestão das Faculdades que leva a um igual distanciamento dos seus problemas. Os estudantes estão a ser transformados em meros utentes, retirando-lhes o papel de elemento essencial no funcionamento das Universidades.
A crise de representatividade que assola o nosso país tem que ser combatida e para isso é necessário que todos tomem consciência, primeiro do modo de funcionamento das instituições em que estão inseridos e, segundo, dos problemas específicos que as afectam. Cabe aos estudantes do Ensino Superior especial responsabilidade, na medida em que sempre foi nas Universidades que se pensou o futuro. Não mais podemos continuar inertes e amorfos como até agora.
Optámos nos últimos anos por soluções de diálogo sem que houvesse a mínima abertura por parte do Ministério, está na hora de fazer mais. A manutenção de Mariano Gago como titular da pasta do Ensino Superior é uma afronta para todos nós que temos mantido as iniciativas políticas dentro das Universidades. O programa de Governo não acarreta qualquer esperança ao quase ignorar os principais problemas da Universidade Pública. Está na hora de fazermos mais e de mostrarmos que discordamos com esta forma unilateral de impor políticas educativas.
Apelamos, por isso, aos estudantes da UL que se juntem a nós numa acção de rua que visa alertar para os principais problemas do Ensino Superior, salientando aquilo que queremos que seja feito. Seguindo o lema “Não somos contra, somos por um Ensino Superior de Qualidade” pretendemos marcar a diferença para com o mero protesto e fazer uma Marcha pelo Ensino Superior que aponte soluções concretas para os problemas que detectamos. Terça-feira, dia 17 de Novembro marcharemos desde a Cidade Universitária até ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para entregarmos as nossas propostas a quem tem a obrigação de fazer melhor."


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A crise que o país atravessa vai ter repercussões gravíssimas na economia das famílias. É de esperar, em consequência, um aumento de situações de carência económica num significativo e crescente número de alunos. Em face disto, teria sido oportuno que o Ministério do Ensino Superior tivesse tido em consideração as nossas sugestões relativas aos limiares de elegibilidade para o direito às Bolsas de Estudo. Mas não foi isso que sucedeu por total insensibilidade social e falta de visão política do Governo. O que está preconizado é um limiar extremamente baixo, que não tem em conta as reais exigências financeiras de frequência do Ensino Superior Público.
No futuro, estudar vai ser ainda mais exigente em termos financeiros. E vai sê-lo em especial para aqueles que menos recursos possuem. Caminhamos em direcção ao elitismo no acesso e frequência do Ensino Superior Público.
Muitos de nós iremos ter que, obrigatoriamente, abandonar os estudos, por deixarmos de ter possibilidades para tal. É uma realidade que nos entristece e que nos faz temer pelo nosso futuro.
Dia 17 de Novembro, em Lisboa, a Associação Académica de Coimbra vai, juntamente com outras Associações Estudantis de Ensino Superior, manifestar-se contra o corte nas bolsas de estudo. Queremos que a nossa representatividade em Lisboa atinja os 5 mil estudantes.
A partida está marcada para as 10H00, do Largo D. Dinis.
Teremos partidas em simultâneo do Pólo 2 e do Pólo 3.
Este é um desafio que queremos vencer. Apelamos à solidariedade de todos os estudantes, mesmo daqueles que não vão ser afectados pelas medidas do Governo. Só assim nossa voz terá força. Esta é uma missão de entreajuda entre todos os estudantes e de defesa do Sistema Público de Educação.