quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

menos bolsas = mais pedidos de empréstimos bancários

Enfim, a juntar à triste realidade que vivemos quando se fala em financiamento do ensino superior e dos apoios aos que menos os podem suportar (ver post anterior), temos esta notícia, que mostra um dos resultados da política que tem sido seguida: o endividamento dos estudantes - os futuros precários ou desempregados ou, qualquer dia, futuros trabalhadores sem direito a reforma porque já não existe ou porque... morrem de velhice antes.
O Estado, pela mão do governo, desresponsabiliza-se de um dos seus mais básicos deveres: o Ensino dos seus cidadãos. Os bancos, esses, aproveitam para fazer dinheiro à custa dos que vivem na crise que eles próprios, os bancos, provocaram (lembram-se?).
Façamos comissões universitárias. Organizemo-nos e lutemos por aquilo que é nosso por direito! Vamos para a rua!


Já há 12 mil alunos a recorrer ao crédito para financiar cursos
Andrea Duarte, Diário Económico online
Os bancos já concederam mais de 140 milhões de euros em crédito a alunos do ensino superior.

Pode ser por não ter dinheiro suficiente para começar ou para acabar a licenciatura. Pode ser porque já trabalha e quer fazer um mestrado. Mas a razão que o leva dirigir-se ao banco não é tão incomum: 12.190 estudantes do superior já o fizeram. E contraíram empréstimos de valor superior a 140 milhões de euros. Os dados são do Sistema Nacional de Garantia Mútua (SPGM - Sociedade de Investimento), a entidade que funciona como "holding" deste sistema.

Este é um número que a especialista em financiamento do ensino superior, Luísa Cerdeira, considera "diminuto" face à população total dos alunos do ensino superior português, cerca de 370 mil, ou seja, apenas "representa perto de 3% dos estudantes portugueses". No entanto, lembra Luísa Cerdeira, "para um sistema que foi criado em 2007, há um certo sucesso no modo em que tem crescido anualmente". Isto é, há um público-alvo, "que não tem recursos ou tem algumas dificuldades conjunturais e recorre a essa modalidade, que tem um limite por ano e que, como tem o Governo como fiador, é versátil, já que as instituições bancárias respondem com alguma rapidez". Luísa Cerdeira lembra ainda que há uma grande coincidência entre bolseiros e alunos que pedem empréstimos.

Belmiro Cabrito, investigador da Universidade de Lisboa, considera que "os empréstimos existem a dois níveis: para responder aos problemas financeiros dos alunos e mesmo dos bolseiros ou então para promover a autonomia". Quando os bolseiros pedem empréstimos, "partem de situações económicas, culturais e sociais piores do que os outros e por causa disso ainda são penalizados em termos de juros", diz Belmiro Cabrito.
Carlos Maio, do SPGM - Sociedade de Investimento, acrescenta que "apenas para 45 empréstimos, dos mais de 12 mil concedidos, o Sistema Nacional de Garantia Mútua foi chamado a cumprir o seu papel de entidade caucionadora". Ou seja, estes 45 empréstimos, num valor "que ronda os 230 mil euros", representam uma taxa de incumprimento "baixa", de cerca de 0,37%.

O Crédito Agrícola, no entanto, acusa uma taxa de incumprimento de 2%. E considera "possível" que esta taxa suba, já que "à medida que os empréstimos deixem de estar na fase de utilização com carência de capital e entrem na fase de pagamento total de capital e juros, é provável que se sinta um ligeiro aumento do incumprimento". Os outros bancos recusam divulgar a taxa de incumprimento deste produto. O Santander Totta justifica que "só este ano é que a maioria dos estudantes termina os seus cursos, beneficiando, para já de um ano de carência de capital".

No entanto, para Luísa Cerdeira, poderá haver dificuldades da parte dos estudantes em reembolsar estes empréstimos. Apesar de haver, para esta especialista, "um grande sentido de responsabilidade, para pagar esse encargo", os diplomados do ensino superior vão entrar para um mercado de trabalho em crise. "Numa conjuntura muito desfavorável, é provável que demorem mais tempo a terem o rendimento para fazerem esse reembolso", considera Luísa Cerdeira.

Segundo o SPGM, num total de 11.058 créditos contratados, 9.307 correspondem a uma licenciatura. Os estudantes que pediram mais empréstimos são dos cursos de Enfermagem (683) e Direito (547). A maior parte dos empréstimos foram para pagar cursos no ensino superior público: 3.921 nas universidades e 2.172 nos politécnicos.

Banco a banco
BPI

"O número de empréstimos para Crédito Formação BPI com Garantia Mútua, até Outubro de 2010, foi de 706", diz fonte oficial do banco. Empréstimos que valem cerca de 9 milhões de euros e que viram, considerando apenas os meses de Setembro e Outubro, um crescimento de cerca de 43% face ao período homólogo. O valor mais pedido pelos estudantes aproxima-se do valor máximo permitido por cada ano de curso, cinco mil euros.
Crédito Agrícola
O Crédito Agrícola atribuiu, até agora, 99 empréstimos com garantia mútua. Destes, 2% estão em incumprimento, uma taxa que o banco considera que "é provável" que suba. Este ano foram concedidos 59 empréstimos e fonte oficial do banco adianta que "em 2010 verificámos uma procura superior". Os empréstimos a estudantes deste banco valem 1,3 milhões de euros e cada estudante pede, em média, 13 mil euros.
Santander Totta
"Desde 2007, financiámos mais de 3000 alunos, num total de aproximadamente 32 milhões de euros, sendo que, em média, cada aluno solicita um financiamento de 11.000 euros", diz fonte oficial do banco. O Santander deu crédito a cerca de 500 estudantes desde Agosto de 2010, o que traduz um "ligeiro aumento face ao período homólogo". O estudante médio é do ensino público e ingressa pela primeira vez numa licenciatura ou mestrado.

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