segunda-feira, 22 de novembro de 2010

É a "praxe", dizem eles

Publica-se o seguinte artigo de opinião encontrado aqui, site do Jornal de Notícias, a 19 de Novembro de 2010. O autor é Manuel António Pina, jornalista e escritor português.


É a "praxe", dizem eles


Com o cair da folha e o início do ano lectivo, começam a ver-se por aí, onde existam universidades e aparentados, os habituais espectáculos de bandos de imberbes caloiros apascentados por não menos imberbes "doutores" ministrando-lhes todo o tipo de boçalidades e indignidades que a rasca imaginação lhes permite, com o devido enquadramento de bebedeiras, comas alcoólicos e música pimba que ilustram o nível moral e intelectual não só dos futuros caixas de supermercado da Nação mas igualmente das escolas que os formam.


Pôr jovens estudantes de joelhos e obrigá-los a suportar com um sorriso nos lábios as prepotências fascistas, nem sempre "soft", dos mais velhos é, alega-se da parte dos por assim dizer responsáveis de algumas universidades, uma forma de "integrar" os alunos recém-chegados na vida e no espírito universitários. E, Deus nos valha, se calhar é. Não restem dúvidas de que, de tal ponto de vista, as universidades cumprem até à excelência a missão que, de há uns tempos para cá, alegremente pretendem assumir, não de lugares de estudo e investigação, mas de fornecedores de mão-de-obra qualificada (na circunstância em despotismo e docilidade acrítica) ao mundo empresarial e do trabalho.


Ontem vi, nos "Leões", uma rapariga de pés e mãos no chão cavalgada por um futuro "doutor à bolonhesa" que simulava chicoteá-la. Que melhor imagem da Universidade (ou de alguma Universidade) que temos?

3 comentários:

Anónimo disse...

Sinceramente não faço ideia do que o M.A.T.A faz... É que não conheço nenhum caloiro que se importe realmente de ser praxado... A praxe não é uma humilhação, é uma maneira de integrar os caloiros... E, falo por experiência própria, não faz mal a ninguém e até pode ser divertido.
Quanto à treta de chamarem fascismo à praxe... Bem... Só se pode dizer que quem assim fala só pode ser um completo ignorante... Pois bem... A prexe trata também da igualdade entre todos os estudantes... Quem praxa também foi praxado e assim deve ser...
Vim ver este blogue apenas por curiosidade mas fiquei realmente admirada com as barbaridades sem fundamento que aqui se dizem... Por amor de deus... curem-se!

Daniela. disse...

Vamos lá espelhar a questão da ignorância:

- "Não conheço nenhum caloiro que se importe realmente de ser praxado" - Então, se assumes que não conheces nenhum, é porque todas as pessoas que entram nas faculdades, todos os anos, gostam. De facto não há aqui falácia nenhuma... Para além de que não é por achares que eles gostam, que de facto estejam a gostar. É que é exactamente o autoritarismo e poder que exerces sobre eles que os coíbe de se manifestarem contra... e se calhar até algum já o fez, não é por acaso que usas a palavra "realmente" aí no meio.

Esse umbiguismo impede-te de olhar para os conceitos que estão por trás da praxe (já nem peço para olhares para o que praticas todos os dias, porque já percebi que serias incapaz) e entendê-la como uma prática fascista (sobre este assunto aconselho-te a leitura de algumas das "barbaridades" por aqui postadas, pode ser que consigas chegar lá).

- "A praxe trata também da igualdade entre todos os estudantes. Quem praxa também foi praxado e assim deve ser..." - Assumes que a igualdade entre estudantes está em serem TODOS praxados. Vá lá, vamos lá tentar pensar um bocadinho mais. A igualdade na praxe não existe, minha menina. A hierarquia mais do que evidente assim o proíbe. Tens pessoas submissas, a serem praxadas, e uns tantos que se autoproclamam "doutores" a mandar absurdamente (praxar) nos que consideram estar abaixo de si (pois que outra razão há para não os tratarem como iguais e usarem a sua antiguidade na escola a seu favor?). Para além de que, seguindo a tua linha de pensamento, estás a perpetuar a “igualdade” entre miseráveis. Parabéns!

Anónimo disse...

"...até pode ser divertido."
Com esse "até" parece que a praxe normalmente não é divertida, mas com jeitinho até pode ser que alguém se divirta.
Mas tu vens aqui enganar quem? Nem a ti própria és capaz de convencer que a praxe é alguma coisa de jeito, quanto mais aos outros...