quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Algumas notícias sobre a greve no Ensino Superior

"A greve foi um sucesso", garantem as organizações de trabalhadores, como a CGTP e a UGT. O governo e as associações patronais dizem o contrário. Já sabemos da discrepância entre os números de uns e os dos outros. E que "na origem de discrepâncias tão grandes nos números da greve geral estão as diferentes metodologias usadas pelos sindicatos e pelo Governo. Enquanto a taxa de adesão apurada pelos primeiros resulta do número de trabalhadores em greve sobre os que deviam estar ao serviço naquele dia, o Estado e a maioria das empresas faz o cálculo tendo por base a totalidade dos trabalhadores."
No entanto, parece-me que os sindicatos usam uma metodologia mais honesta que os governos. Apesar dos jornais e televisões preferirem sempre os segundos...

Mas, aqui ficam algumas notícias sobre a greve geral em universidades. (A notícia do jornal público só apresenta os valores "oficiais" de adesão à greve...)

Greve geral: adesão entre 40 e 95% no Ensino Superior - SNESup
Diário Digital

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) disse hoje que «os objetivos foram atingidos» na greve geral, com taxas de adesão entre 40 por cento, na Universidade de Coimbra, e 95 por cento, numa escola do Instituto Politécnico de Lisboa.
Com 90 por cento de adesão à greve geral de hoje - diz o SNESup em comunicado - estiveram a Universidade do Algarve, a «maior parte das faculdades» da Universidade de Lisboa e «alguns departamentos» da Universidade da Beira Interior.

Também a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa registaram uma adesão à greve da ordem dos 90 por cento, segundo a estrutura sindical.
A Escola Superior de Comunicação Social, do Instituto Politécnico de Lisboa, foi a que, de acordo com o sindicato, teve uma maior adesão ao protesto, com 95 por cento.
Com uma expressão menor, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Instituto Politécnico do Porto registaram uma adesão à greve geral de 50 por cento.
Na “maior parte das faculdades” da Universidade de Coimbra a taxa de adesão à greve geral foi de 40 por cento.
Por isso, hoje “não foi um dia normal no Ensino Superior”, uma vez que “um pouco por todo o país os docentes e investigadores mostraram a sua adesão à greve neste dia paralisando as suas actividades”, lê-se no comunicado.
O SNESup dá ainda conta de “uma greve com adesão significativa entre os funcionários não docentes” e da “não comparência de alunos”.
O sindicato adianta que “irá prosseguir com a convocação de uma concentração nacional junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior”, porque o ministro Mariano Gago “ainda não respondeu ao pedido de reunião que o SNESup formulou em 04 de outubro”.

A CGTP e a UGT realizam hoje uma greve geral conjunta contra as medidas de austeridade, anunciadas pelo Governo em setembro, que têm como objectivo consolidar as contas públicas, entre as quais os cortes de salários nos trabalhadores do Estado, o congelamento das pensões em 2011 e o aumento em dois pontos percentuais do IVA.
Esta é a segunda greve geral marcada pelas duas centrais. A primeira realizou-se há 22 anos contra o pacote laboral.

Faculdade de Letras de Universidade de Lisboa
Precários Inflexíveis
Grupo de Estudantes com o apoio da direcção da Associação de Estudantes estão em piquete na Faculdade de Letra da UL. O piquete garante que não há aulas na faculdade.
O pessoal não docente também fez greve (a rondar os 80%) enquanto que o pessoal docente está quase completamente ausente, aderindo à greve perto de 100% dos professores da faculdade.

FCSH Lisboa :: PSP identifica estudantes com justificação de que estudantes estão a fazer manifestação
Precários Inflexíveis
Os agentes da PSP justificam que estão a identificar os estudantes porque estes estão a realizar uma manifestação não autorizada pelo Governo Civil.
Portanto, o ridículo que os agentes Flávio Simões e Jorge Arnauth da PSP assumem, confronta o mais lato entendimento de democracia e liberdade num dia de Greve Geral.

FCSH Lisboa :: PSP identifica estudantes e monta aparato policial sem justificação legal
Precários Inflexíveis
A faculdade garante que não chamou a policia. Quem o terá feito? O aparato é ridículo. Duas viaturas e meia dúzia de agentes.

FCSH Lisboa :: PSP entra na faculdade e identifica estudante
Precários Inflexíveis
O número de agentes da PSP a pressionar os estudantes em piquete na FCSH aumentou para 4. Desta vez, os agentes identificaram alguns estudantes apenas por estes estarem no piquete de contacto, algo que não está a coberto da lei. Para além desse facto, 2 dos agentes entraram na faculdade sem qualquer pedido de qualquer responsável, e inclusivamente foram "convidados" a sair pelo Director da faculdade e por um responsável do Conselho Pedagógico.
A pressão da polícia sobe assim de gravidade na FCSH mas os estudantes mantêm-se firmes e determinados, garantindo que até ao momento não existam aulas a funcionar.

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL :: Colectivo A Garra com piquete de greve com 20 estudantes
Precários Inflexíveis
Os estudantes d'A Garra em piquete/concentração na Greve Geral na porta da FCSH, apontam para uma greve total às aulas.
Os serviços mínimos para abertura das aulas na FCSH não estão garantidos com cantina fechada. Também o bar da faculdade - Sabor a Nova - se manterá fechado.
80% de greve nos funcionários auxiliares e de limpeza.

Universidade de Coimbra com aulas mas menos almoços
24.11.2010, Por Maria João Lopes, Jornal Público
Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC), hoje de manhã o calendário ainda marcava 23 de Novembro. Faltou alguém para virar a folha para 24, dia de greve geral em que, naquele edifício situado na alta universitária, se registou uma adesão de 40 por cento. À porta, um papel afixado avisa os frequentadores do espaço dos constrangimentos: a biblioteca estará encerrada durante a hora do almoço e, ao fim do dia, em vez de fechar as portas às 22h00, fá-lo-á às 17h30. Além disso, não é possível fazer requisições de livros para levar para casa.

“Está tudo a funcionar, mas com o horário reduzido. E também não temos empréstimos domiciliários por insuficiente número de pessoas nos depósitos. Eu sou a favor da greve, estou cá a trabalhar porque tem que ser. E não acho justo pedir a quem vem trabalhar que faça mais do que o costume”, diz o director-adjunto da biblioteca, Maia Amaral, à porta do edifício.

Por voltas das 10h00, ainda há muitos lugares livres para se estacionar no pólo I da universidade – coisa rara. Também as pessoas que passam naquela alameda – à excepção dos turistas – são menos. Houve estudantes não apareceram nas faculdades, embora grande parte dos professores tivesse ido dar as aulas. Alguns em protesto contra a situação do país, como o docente de Direito Constitucional, João Loureiro, que levou duas t-shirts com frases estampadas como “restaurar a democracia, acabar com a partidocracia”.

“Vim dar as aulas normalmente, não quero que haja confusão com a minha atitude. Mas não posso concordar com esta vergonha. Eu até defendo os cortes, pode é não ser nestes moldes…Se viesse sem nada, podia ser confundido como concordante com o estado das coisas”, diz o docente.

Na escadaria da Faculdade de Letras da UC, um grupo de alunos de Estudos Artísticos apanha os ainda tímidos raios de sol da manhã. Estão a fazer uma pausa: “Tivemos aulas normalmente. Acho que os professores não estão a faltar”, diz Diogo Pinto, de 19 anos, acrescentando, porém, que estão menos alunos nas salas.

Os corredores das Letras estão mais desertos do que o habitual, embora, de uma forma geral, os serviços estejam a funcionar. Foi o vigilante Valdemar Madeira, funcionário de uma empresa subsidiária que trabalha para UC, quem abriu a porta de manhã.

O director da Faculdade de Letras, Carlos André, garante que, entre os 80 funcionários não docentes da faculdade de letras, a adesão ficou-se pelos 36 por cento - apenas no gabinete que se dedica às questões informáticas é que aderiram todos os trabalhadores. “Agora, os serviços académicos, o gabinete de apoio ao director, que é por onde entra e sai todo o correio, isso está a funcionar”, acrescenta. Quanto ao bar, à limpeza, ao serviço de fotocópias e à livraria - serviços que funcionam em regime de concessão, não incluem funcionários da UC – também não se fizeram notar grandes efeitos.

Na Faculdade de Letras há, porém, algumas salas de leituras encerradas, entre as quais a de História da Arte, por exemplo. “Mas os professores têm a chave de acesso”, ressalva o director. Quanto aos docentes, não há, para já, números definitivos. Em 200, apenas cinco entregaram uma carta a comunicar que estão em greve, mas o director sabe que o número será superior. Ainda assim, Carlos André reconhece que “a faculdade está muito morta”, até porque muitos alunos faltaram, por suspeitarem que poderia não haver aulas.

Não foi o caso de Mariana Mendes, de 19 anos: “Só tinha uma aula de três horas, mas o professor não faltou”, diz a aluna de Direito, sentada numa paragem de autocarro. “O meu pai trouxe-me de manhã, mas, como vi o 103 a passar, estou à espera…”, acrescenta.

A hora de almoço aproxima-se e é precisamente nas cantinas, que são geridas pelos Serviços de Acção Social da UC, que mais se sentem os efeitos da greve. A maior parte delas está fechada: a do Pólo II, as Cantinas Amarelas, as Azuis, a Sereia… A funcionar, só há duas: a das Químicas e a do Pólo III.

Os estudantes de engenharia André Cardoso, Joni Sousa e Vítor Sousa foram às aulas de manhã, mas à hora de almoço esbarraram no aviso que está à porta da cantina no Pólo II. Os refeitórios que estão abertos ainda são longe e há poucos autocarros a passar…“É uma boa questão, onde vamos comer?”, diz, entre risos, o estudante de informática de 20 anos, Joni Sousa. Na Faculdade de Ciências e Tecnologia, onde se encontram os cursos de engenharia, a adesão à greve, no período da manhã, de docentes e funcionários não docentes foi de 20, 97 por cento. Também no Pólo III, dedicado à área da saúde, os maiores prejuízos sentem-se na cantina. Depois das aulas, as alunas de medicina de 18 anos, Daniela Sanches e Catarina Silva, põem-se na fila. À frente têm cerca de 55 pessoas, menos do que habitual. E à disposição têm apenas o “prato social” – a ementa mais barata -, uma vez que o bar e o snack (mais caro e com mais pratos) estão encerrados.

“Só na cantina é que se nota a greve… Eu tive todas as aulas teóricas da manhã”, diz Anaísa Bartolomeu, estudante de Ciências Farmacêuticas, enquanto aguarda vez para tirar fotocópias na biblioteca.

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