Postámos há uns dias, aqui, um exemplo da persuasão usada para arrastar caloiros para as praxes. Eram bastante evidentes nesta passagem - "Isto porque já não têm que estudar e não admitimos qualquer tipo de desculpa. Estão já avisados que quem não for à praxe esta semana as consequências não vão ser as melhores, porque os doutores esforçam-se por vocês e vocês são uns ingratos (...)"-, três formas típicas de persuasão:
1º "criminalização" da falta à praxe - "Isto porque já não têm que estudar e não admitimos qualquer tipo de desculpa"
2º retaliação pela falta à praxe - "Estão já avisados que quem não for à praxe esta semana as consequências não vão ser as melhores"
3º Chantagem emocional - "porque os doutores esforçam-se por vocês e vocês são uns ingratos"
A reacção não tardou, e os visados vieram que nem damas ofendidas contestar aquilo que constatávamos. Contestar, como quem diz, porque não se viram argumentos nem contra-argumentos, apesar de apresentarmos um raciocínio suficientemente coerente para qualquer um perceber.
Mas passando à frente, porque a vontade que os visados demonstraram em fazer valer as suas opiniões foi nula - um acto típico de bárbaros -, encontrámos este aviso, que se reproduz abaixo.
É um bom exemplo da retaliação à falta à praxe. Evidente; claro como água; incontestável. Sendo assim, fica a questão:
Mas porque faltam os caloiros à praxe?
AVISO
Soube que na última praxe , a qual adiámos para quinta-feira porque na quarta-feira tinham que estudar, que foram apenas 6 caloiros. Por este motivo e não só, esta praxe valerá por 2, e nas próximas praxes em que tal aconteça vão começar a valer mais. Aviso também que nunca mais serão mudadas praxes por causa dos caloiros, quando houver praxe há e ponto final.
Informo também que haverá praxe do CV, esta quinta-feira dia 2 de Dezembro, fiquem atentos aos avisos na entrada da AE.
10 comentários:
Caríssimo,
Como me sugeriste li os mais recentes posts. A questão continua a ser a mesma. Tenho alguns amigos que estão na UP e de facto a praxe lá era dura e às vezes tocava no ridículo, conclusão: alguns desses meus amigos desistiram da mesma. Simples. O meu ponto é: se a praxe não magoa, não ofende, porquê acabar com ela?
Como já referi, sou agora uma 'doutora' e tenho os meus 'caloiros' e às vezes são 'necessárias' certas práticas de persuasão para trazer os caloiros até à praxe. Não se obriga ninguém a nada, nem sequer a comparecer, mas a verdade é que ninguém gosta de ter 5 ou 6 caloiros na praxe. Não por ferir o nosso ego de 'super doutores' mas simplesmente porque só com um número mínimo de caloiros não dá para fazer jogos nem coisas engraçadas.
Mas, o mais relevante nesta minha observação, é falar da minha experiência como caloira. Era das caloiras mais assíduas na praxe. não faltava a uma. Não por imposição dos meus doutores na altura, mas sim porque realmente gostava de lá estar e gostava das pessoas com quem estava. Devo ainda mencionar que não deixei uma única cadeira para trás e ainda tinha tempo para certas actividades extra curriculares: dois cursos de línguas, ballet clássico e escrevia para o Jornal da Academia.
Não devemos por certo deitar a culpa às praxes se os prórpios alunos não sabem gerir o seu tempo, pois na praxe que eu conheço, não circulam folhas de presença.
O teu comentário tem várias pontas por onde se lhe peguem.
- "a praxe lá era dura e às vezes tocava no ridículo" e, portanto, os teus amigos "desistiram da mesma". Então que significa uma praxe dura e ridícula e porque é que ela acontece/existe? "Desistiram" e o que é que lhes aconteceu?
- "às vezes são necessárias certas práticas de persuasão para trazer os caloiros até à praxe". Não achas isto contraditório com a livre vontade que os teus amigos tiverem em abandonar a praxe? Imagina que tinham persuadido os teus amigos a participarem naquelas praxe duras e ridículas. Acharias bem?
- Não consideras adjectivos como duras, ridículas, engraçadas demasiado subjectivos para que, por exemplo, uma praxe que tu aches engraçada e queiras fazer aos teus caloiros persuadindo-os de tal forma que participem nessa praxe pessoas que não achem a tua praxe engraçada mas sim ridícula e dura?
- Lá está, o mais relevante nesta discussão não é a tua experiência enquanto caloira ou doutora. Esta é uma falácia enorme. Tu estás emocionalmente ligada à praxe e o teu discurso nunca conseguirá ser neutro. Nunca poderás mostrar-me uma perspectiva da praxe que seja livre de sentimentos apegados àquilo por que passaste e que nessa altura poderás até nem ter gostado, mas que fizeste ou deixaste que te fizessem. Isto é, admitir que fizeste algo que não quiseste é interpretado por ti e pelo teu ego como um sinal de fraqueza, de incapacidade de admitir que se errou e que aqueles que te fizeram passar determinada provação e que são, agora, teus amigos, te fizeram passar por determinado mau momento. Compreendes?
- na praxe que conheces "não circulam folhas de presença". Pois, mas isso acontece em muito sítios e funciona como uma espécie de ameaça, de persuasão à falta. É semelhante a outras formas que poderás ter usado nas tuas praxes. A persuasão é um sintoma da má fé da praxe. E é uma forma inconsciente de admitir que aquilo que se vai fazer com os caloiros pode não ser muito divertido. Se não porquê marcar faltas? Se é divertido quem perde são eles! Se eles não se querem divertir é lá com eles! Não se têm de justificar!
Mas a verdade é que não é assim tão divertido, não é? Porque tu até conheces outras formas de te divertires com os teus amigos, certo?
Enfim, e daria para continuar...
Eu continuo sem perceber isto: "Simples. O meu ponto é: se a praxe não magoa, não ofende, porquê acabar com ela?"
Deixo então o ponto 3 da minha resposta a um comentário que apareceu aqui - http://blogdomata.blogspot.com/2010/11/maravilhoso-para-mostrar-o-discurso-de.html:
"- Terceiro, não é por as pessoas aderirem alegres e contentes à praxe, como praxados ou praxantes, que eu acho que a praxe é "fixe". O tom autoritário da praxe, onde uns mandam e outros fazem, o tipo de "brincadeiras" que se fazem, o tom xenófobo, onde a diferença é motivo de exclusão (quem não quer ser praxado é muitas vezes empurrado para um canto) ou de gozo (cantam-se hinos homofóbicos e, por vezes, racistas, sempre de uma mentalidade sexista e muito machista), o carácter catártico e destruidor da personalidade de cada indivíduo, de uniformização das pessoas, dos seus modos de pensar e agir (e isto é muito visível sempre que se discute praxe com pessoas que praxaram ou foram orgulhosamente praxadas), da ausência total de um discurso construtivo ou de reflexão da sociedade, nem que meramente simbólico, etc, é suficientemente degradante para eu não gostar dela e decidir fazer um discurso crítico a ela."
Proponho-te ainda que leias este post, http://blogdomata.blogspot.com/2010/11/praxes-academicas-sim-ou-nao.html, nomeadamente as repostas do MATA às perguntas da IMPROP.
Então mas a praxe não ofende? Porque é que os novos alunos são intitulados de bichos, vermes, ou bestas? E cantam músicas obscenas? E são regados com leite azedo?
E não magoa? Andam de joelhos, fazem flexões até não poder mais e rebolam?
É isto que eu não entendo.
@Ângela & Rita
O teu discurso parece um pouco confuso. Primeiro dizes que a praxe dos teus amigos foi dura e depois ainda tens coragem de vir defender a praxe. E se pensas que a praxe não necessita de ser dura talvez devas aprofundar essa linha de pensamento e pensar para que é a praxe existe? Não poderiam as coisas ser feitas de outra forma? Claro que podiam, dá é trabalho questionar. Mas não te preocupes que o MATA já fez o trabalho de casa por ti. Só tens que ler.
Segundo, referes que a praxe é livre, e de seguida falas em persuasão. Será a praxe assim tão livre?
Não me parece, senão não eram precisas essas tácticas. Se fosse assim tão bom as pessoas iam de livre vontade sem ser preciso tácticas subliminares.
E agora diz-me: - se os teus amigo fossem (ou são?) desprezados por não terem feito praxe achavas bem?
E quase de certeza que existe sempre algum pequeno desprezo escondido e latente na mente, por as pessoas que desistem ou que não são praxadas, não é senhora "dotora"?
É isso que a praxe faz, divide. Cria assimetrias onde elas não deviam existir. Amplifica sentimentos sintéticos que não deviam existir, sentimentos que não seguem um rumo natural e que foram simplesmente impostos.
A praxe não faz o mínimo sentido nos dias de hoje. É apenas um resquício purulento que necessita de ser extirpado. É sangue ruim que precisa de ser sangrado até deixar de circular.
A praxe era apenas um ritual de iniciação.
Os estudantes antigamente chegavam como animais ignorantes e crédulos e faziam-se homens (ou ainda mais animais). Isto numa sociedade parola e ignorante em que os valores eram totalmente desprovidos de sentido quando comparados com os de hoje.
Hoje em dia não é necessária praxe. A sociedade está em constante evolução, existe progresso. As pessoas não precisam de ser integradas para nada (não dessa forma), isso é apenas uma das grandes falácias da praxe. E se precisarem, existem outras formas de o fazer sem ser com praxe.
Integração aos berros?!! Mais um bocado e estás-me a dizer que violação é amor.
A praxe serve apenas para os "dotor@s" se divertirem. Para subir egos, porque a sua vida é demasiado insignificante por si só. É apenas aquele pequeno prazer de mandar e rebaixar.
Ou estarão demasiado embrenhados no seu mundo de fantasia para verem que o que fazem está completamente errado? Que todas essas premissas são falsas?
A negação é apenas o primeiro passo no caminho até a aceitação. Pensa um pouco sobre isto.
E claro que o tempo gasto nas praxes servia para outras actividades mais enriquecedoras.
E lá porque tu consegues fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo não quer dizer que os outros consigam. Nem toda a gente tem as mesmas capacidades. Culpares a falta de gestão de tempo, e não a praxe é que me parece algo completamente absurdo.
Já agora o que é que se aprende de tão útil na praxe, para que queiras que ela não termine?
Que valores são esses assim tão essenciais?
Cheira-me a que vem aí a história da integração no seio académico e da camaradagem.
Apesar de tudo espero que tenham lido o texto que publicámos do Leandro Vichi sobre as manifestações em Itália, pois é mais interessante e instrutivo do que este. É, neste momento, mais importante pensar e debater o que se deve fazer pela defesa de um Ensino Superior público, democrático e universal que tem estado a ser destruído sem grandes reservas e num curto período de tempo (em menos de uma década e, muito ferozmente, nos últimos cinco anos). Organizem-se nas vossas faculdades. Façam tertúlias, discutam o que tem sido feito. Informem-se.
O que se passa, pelo menos na UA é que quem nao quer ser praxado nao é, sem represalias, desistem quando querem se quiserem. Mas pelo que conheço, a praxe la tem vindo a ser cada vez mais subtida a novas regras para evitar exageros desagradaveis, coisa que ja deixou de acontecer. E que eu saiba se alguem faltar a praxe nao é o fim do mundo.
Em relação a aliciar os caloiros a irem as praxes, nunca vos aconteceu terem de aliciar nem que seja um amigo pa fazer algo convosco, entao mas se sao amigos isso nao devia ser necessario... Assim estao a forçar o vosso amigo, onde esta a sua liberdade??
E falando da minha propria experiencia, gostei de se praxada, apesar de ter tido de faltar a praxes. Gostei de se praxada porque as praxes eram divertidas, porque apos ficarmos a conher os praxantes eram ainda mais divertidas e "relaxadas", porque graças as praxes conheci gente do meu curso que muito provavelmente nao teria conhecido de outra forma. Para alem disso, as praxes unem sempre mais os caloiros, nem que seja para se queixarem das praxes.
Mas ja agora, sao tao contra a "tradiçao academica" porque? chegaram a experimentar a praxe?
E quem é neutro na vossa opiniao? Pessoas anti-tradiçao academica? Porque a meu ver as pessoas que nao querem participar nessas coisas, na sua grande maioria sao contra, e quem participa, voces tambem nao as consideram neutras.
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