Encontrei este texto do Renato Teixeira sobre a praxe, no blogue 5Dias. Vale a pena ler.
Há três argumentos que quem defende a Praxe recorre. São eles: a tradição, a integração e a igualdade, e não se lhes conhece mais nenhum. A distância entre a letra e a prática destas três ideias é gritante, senão vejamos.
O paradigma tradicionalista, que se defende com a História começa por esquecer que é tão tradicional a defesa da praxe como o seu combate. A praxe é tradicionalista no pior dos sentidos. A cada tempo dos vários tempos dos últimos 150 anos, a praxe esteve sempre contra as mudanças estruturais dos sistemas políticos e sociais. Com a Monarquia contra a República, contra a Revolução e pelo Estado Novo. Nas duas principais revoluções do último século da nossa História a praxe foi suspensa, não só como forma de luta, mas acima de tudo por ela ser absolutamente contraditória com os ideais progressivos que floram nesses períodos. Outro lado pernicioso quanto ao carácter das tradições académicas é o facto de elas perpetuarem e ampliarem sempre as características mais conservadoras da sociedade. Se a sociedade é machista, homofóbica, classista, punitiva, e hierárquica, sob a batuta da estranha selecção do darwinismo social, a praxe ainda amplifica cada um destes defeitos. As mulheres não podem ser duxas nem cantar o fado, o conselho é de veteranos, os gays são figuras de gozo e de chacota (como de resto as derivas à “normalidade”), o caloiro é bicho e animal, “figura infra-humana para o gáudio dos doutores” com mais umas quantas matriculas e o código da praxe viola, sem sufrágio, direitos, liberdades e garantias consagradas na lei de todos.
O paradigma da integração justifica que se cite um livro curioso. Intitula-se “Coimbra Boémia”, livro este que como tantos outros livro de memorias da cidade velha, podemos constatar a violência dos relatos de antigamente, sem cosméticas nem falsas retóricas. Diz o livro: “o caloiro é para saciar os desejos dos doutores, é para entreter”. Integrar, é uma palavra que vem na praxe sempre com um duplo sentido, e são os relatos que o confirmam. No Coimbra boémia, dos anos 40, percebe-se bem o terror das repúblicas praxistas, as perseguições, as milícias, a arrogância ante os trabalhadores (futricas) bem como a simpatia do fascismo pelas trupes e vice-versa. O argumento da integração, usado muitas vezes pelos românticos da praxe, não é mais do que isso mesmo, uma visão romântica, sem nenhum facto da realidade que o suporte. Mandar, rapar, bater, humilhar, perseguir a diferença, nada tem de romântico e muito menos inclui. Permite isso sim, que a violência fique disponível nas mãos de tantos que para ai andam tão pouco sensatos, e que usam da praxe como uma auto-estrada rumo à cura das mais recônditas frustrações. Bateram-me…, pois baterei; raparam-me…, pois raparei, e assim sucessivamente, olho por olho dente por dente, até à derrota final, no ano da cartola e do juízo.
Por último o paradigma da igualdade. Com o traje todos somos iguais. Pobres e ricos serão iguais aos olhos da Academia. A última e a mais hipócrita das mentiras. Os trajes, sejam eles quais forem, foram feitos para diferenciar umas pessoas das outras, não para as unificar. Como se o poder económico não estivesse antes na carteira e nas suas potencialidades. Entre os estudantes, por mais que todos andassem trajados, distinguir-se-ia o carro, a casa, o trabalho que teriam que ter (ou não), os litros de álcool no sangue por semana (e o tipo de álcool que lá circula), os outros consumos e vícios que poderiam ter ou não, as férias em família, na Indochina ou o trabalho precário na costa balnear mais próxima. Quanto à principal diferenciação que o traje impõe, é entre a cidade e os estudantes. Entre quem estuda e faz o pão, os cafés, as refeições, a limpeza da casa, das ruas ou da própria escola, constrói os estádios, as universidades e os hospitais, em quem no fundo garante a vida, e os estudantes, que regra geral, sem reconhecimento e com vaidade exacerbada, em nada retribuem.
A praxe é feia e a praxe é tola e só agrada verdadeiramente, aqueles que querem treinar para senhores, que querem praticar a opressão e a falta de humanidade. São os senhores dos senhores do amanhã de amanhã. E devem por isso também ser combatidos desde tenra idade.
O paradigma tradicionalista, que se defende com a História começa por esquecer que é tão tradicional a defesa da praxe como o seu combate. A praxe é tradicionalista no pior dos sentidos. A cada tempo dos vários tempos dos últimos 150 anos, a praxe esteve sempre contra as mudanças estruturais dos sistemas políticos e sociais. Com a Monarquia contra a República, contra a Revolução e pelo Estado Novo. Nas duas principais revoluções do último século da nossa História a praxe foi suspensa, não só como forma de luta, mas acima de tudo por ela ser absolutamente contraditória com os ideais progressivos que floram nesses períodos. Outro lado pernicioso quanto ao carácter das tradições académicas é o facto de elas perpetuarem e ampliarem sempre as características mais conservadoras da sociedade. Se a sociedade é machista, homofóbica, classista, punitiva, e hierárquica, sob a batuta da estranha selecção do darwinismo social, a praxe ainda amplifica cada um destes defeitos. As mulheres não podem ser duxas nem cantar o fado, o conselho é de veteranos, os gays são figuras de gozo e de chacota (como de resto as derivas à “normalidade”), o caloiro é bicho e animal, “figura infra-humana para o gáudio dos doutores” com mais umas quantas matriculas e o código da praxe viola, sem sufrágio, direitos, liberdades e garantias consagradas na lei de todos.
O paradigma da integração justifica que se cite um livro curioso. Intitula-se “Coimbra Boémia”, livro este que como tantos outros livro de memorias da cidade velha, podemos constatar a violência dos relatos de antigamente, sem cosméticas nem falsas retóricas. Diz o livro: “o caloiro é para saciar os desejos dos doutores, é para entreter”. Integrar, é uma palavra que vem na praxe sempre com um duplo sentido, e são os relatos que o confirmam. No Coimbra boémia, dos anos 40, percebe-se bem o terror das repúblicas praxistas, as perseguições, as milícias, a arrogância ante os trabalhadores (futricas) bem como a simpatia do fascismo pelas trupes e vice-versa. O argumento da integração, usado muitas vezes pelos românticos da praxe, não é mais do que isso mesmo, uma visão romântica, sem nenhum facto da realidade que o suporte. Mandar, rapar, bater, humilhar, perseguir a diferença, nada tem de romântico e muito menos inclui. Permite isso sim, que a violência fique disponível nas mãos de tantos que para ai andam tão pouco sensatos, e que usam da praxe como uma auto-estrada rumo à cura das mais recônditas frustrações. Bateram-me…, pois baterei; raparam-me…, pois raparei, e assim sucessivamente, olho por olho dente por dente, até à derrota final, no ano da cartola e do juízo.
Por último o paradigma da igualdade. Com o traje todos somos iguais. Pobres e ricos serão iguais aos olhos da Academia. A última e a mais hipócrita das mentiras. Os trajes, sejam eles quais forem, foram feitos para diferenciar umas pessoas das outras, não para as unificar. Como se o poder económico não estivesse antes na carteira e nas suas potencialidades. Entre os estudantes, por mais que todos andassem trajados, distinguir-se-ia o carro, a casa, o trabalho que teriam que ter (ou não), os litros de álcool no sangue por semana (e o tipo de álcool que lá circula), os outros consumos e vícios que poderiam ter ou não, as férias em família, na Indochina ou o trabalho precário na costa balnear mais próxima. Quanto à principal diferenciação que o traje impõe, é entre a cidade e os estudantes. Entre quem estuda e faz o pão, os cafés, as refeições, a limpeza da casa, das ruas ou da própria escola, constrói os estádios, as universidades e os hospitais, em quem no fundo garante a vida, e os estudantes, que regra geral, sem reconhecimento e com vaidade exacerbada, em nada retribuem.
A praxe é feia e a praxe é tola e só agrada verdadeiramente, aqueles que querem treinar para senhores, que querem praticar a opressão e a falta de humanidade. São os senhores dos senhores do amanhã de amanhã. E devem por isso também ser combatidos desde tenra idade.
25 comentários:
Renato Teixeira... de Coimbra? Não era um tipo de barba, acho que da Figueira, que tinha ideais bem de esquerda e vivia como um pequeno burguês aos fins de semana longe dos olhos dos pasmados admiradores.
Se for, digo, esse senhor tem uma dialética e um discurso incrível! Não ouve dia em Coimbra que, podendo parar para o ouvir, eu não tenha realmente parado. Era um discurso bonito, conciso, lógico e havia paixão!
Claro que quando acabava eu voltava a realidade e ao mundo imperfeito povoado por seres humanos que devido a falha da espécie seriam incapazes de funcionar nos paradigmas e teorias do Renato, mas...
Quanto ao conteúdo do post. Por acaso gostei da forma como ele coloca a praxe... "A praxe é feia e a praxe é tola e só agrada verdadeiramente, aqueles que querem treinar para senhores, que querem praticar a opressão e a falta de humanidade. São os senhores dos senhores do amanhã de amanhã. E devem por isso também ser combatidos desde tenra idade."
Eu andava um bocado desapontado com a praxe, mas é isso mesmo! É essa a paixão, que só o Renato Teixeira conseguiria tirar que me faz gostar novamente da praxe! Era exactamente essa idéia, esse gênese que eu sentia e não sabia colocar.
Não sei em qual sentido o Renato Teixeira o escreveu, mas graças a essas belas palavras, a essas tão bem postas palavras, essa síntese do que é um ser humano... voltei a ter fé.
Obrigado Renato!
Se fôr esse.
Tem provas de que é? Não tem.
Portanto devia averiguar se é ou se não antes de lançar um comentário (que tanto mais soa a veneno construído à medida do que o poster original escreveu) e confirmar se é ou não verdade antes de estar a construir um texto na tentativa... VÃ, de desvalorizar e desacreditar quem quer que seja.
Senão tudo o que escreve não passa de pura especulação sobre alguém que muito provavelmente nem é a pessoa de que fala.
Não... na verdade é ele mesmo. Entrei no blog 5Dias e tem lá o perfil.
É o Renato Teixeira que conheço! Com suas palavras de experiências e sabedoria de quem realmente conhece a alma humana.
Bastian. Não gostei do teu comentário sobre desacretidar quem quer que seja. Como disse, respeito muito a inteligencia do Renato Teixeira.
Se em vez de postar uma mensagem tivesse ido ao blog 5 dias e lido o primeiro post do Renato Teixeira veria que eu não disse nada que ele proprio não diga.
O que ele disse sobre a praxe é a verdade da verdade, nem mais, nem menos. È a verdade nua e crua.
E mesmo assim, é bonito.
Os senhores do MATA podem não gostar da PRAXE, mas ela é bonita por ser feia.
São costumes da sociedade, que apenas exteriorizam o que as pessoas tem dentro delas próprias. E é disso que são feito os sonhos.
O MATA pode ser contra a praxe, mas negar a praxe é negar a sua desumanidade.
Manuel, a sua esquizofrenia é fantástica. Você devia ser estudado por um perito. Ou já está a ser?
"Os senhores do MATA podem não gostar da PRAXE, mas ela é bonita por ser feia.
São costumes da sociedade, que apenas exteriorizam o que as pessoas tem dentro delas próprias. E é disso que são feito os sonhos.
O MATA pode ser contra a praxe, mas negar a praxe é negar a sua desumanidade."
Eu é que agradeço este comentário. Ainda bem que existe praxe, tal como a guerra, a xenofobia ou a pobreza. Ainda bem, porque assim mostramos a nossa desumanidade.
Fazer alguma coisa contra isto não faz sentido, mais vale gostarmos disto. O que seria do mundo assim? Cómodo?
É mais comodista ;)
Não é comodista... como eu posso explicar isto.
Acho que tudo começou quando eu parei de me importar com as pessoas e comecei a amar o ser humano.
Existem diferentes rituais sociais que são simplesmente inúteis, são um apêndice sem valor, contudo, do mesmo modo são fascinantes.
A praxe, os rituais de idade adulta das tribos africanas, os rituais de iniciação maçonicos, os tribunais, o governo, o casamento... ficções do ser humano.
A guerra é algo muito simples de se explicar, caso dois entes queiram a mesma coisa ao mesmo tempo, ou há cedência (raríssimo), ou resolvem isso determinando quem é o mais forte. Isso existe no mundo animal e é a base do ser humano, base essa escondida por uma mínima camada de verniz chamada autruísmo.
A Xenofobia/Racismo/Homofobia já faz parte de um conjunto que só funciona com seres humanos, chama-se idiotisse. Se um ente não colhe benefícios com o trabalho que tem em algo é um idiota e deveria ser darwiniziado do mundo.
Os rituais servem para criar laços entre os entes. Os macacos catam as pulgas, carraças e piolhos uns dos outros como forma de criar laços entre os indivíduos. Os alunos do ensino superior praxam.
Os macacos poderia arrumar forma melhor de criar laços entre os indivíduos? Sem dúvida! Mas qual seria o propósito? Ora, existe um paradigma em funcionamento, ele atinge os fins a que se propõe e até agora ninguém porpos um paradigma novo e melhorado.
A renovação social é muito simples. Uma coisa para de estar em uso quando algo melhor aparece. As rodas de caroças de madeira e ferro feitas pelos abegões desapareceram quando as rodas pneumáticas apareceram. Ora, a sociedade própria criou uma melhoria e essa foi implementada. Seria estúpido apenas acabar com as rodas de carroça sem que exista algo melhor para substituir.
Senhores, parem com as vossas fantasias de experiências sociais. Nem Deus, nem Amo, a sociedade dos seres humanos funciona como um sistema de causas e efeitos regido por regras muito simples.
E mais, vocês não são melhores que ninguém... São tão desumanos como qualquer outro ser humano! Basta pensar que para que os senhores fiquem felizes atingindo o vosso objectivo - acabar com a praxe - implica em deixar infeliz quem gosta dela.
Novamente, resolvem isso pelos princípios que regem a guerra, vão descobrir quem é mais forte.
Simples... Simples...
Eu gostava de saber quais são os argumentos para se ser anti-praxe, além de ser um coitadinho que não gosta de brincar e conhecer novas pessoas de uma maneira totalmente diferente...
Manuel, eu gostava de contra-argumentar contigo, mas é impossível. Tu consegues fazer o impossível: agrupas uma série de palavras numa sequência sem qualquer linha de raciocínio e achas que é uma ideia, juntas premissas ignobis para tirar conclusões ilúcidas, fazes uma espécie de malabarismo com as palavras ou um ilusionismo de cartola, somas alhos com bugalhos e usas filosofia de algibeira, dizes uma coisa e seu contrário.
Que se passará nessa cabeça??
Comes uma série de coisas que ouviste e cospes uma amálgama ininteligível. Que vieste aqui fazer, pergunto-te eu?
Sr. Anónimo,
garanto-lhe que o coitadismo e ter cara séria não são premissas para se ser contra a praxe. Aliás, ninguém aqui é contra a praxe propriamente dita, mas contra aquilo que se faz nela.
Claro que é fácil de confundir uma ideia com a outra quando se vem para aqui cuspir algum gafanhoto mal pensado, sem antes ler as ideias, baseando-nos apenas no preconceito.
Ah, mas há uma coisa que, garanto-lhe, é fundamental para a troca de ideias ser válida: dar a cara. Ou pelo menos assumir um nome ;)
Eu nem me tinha incomodado a ler o que o Manuel tinha escrito, além da resposta do Serralves.
Mas quando vou a fazer scroll down e de repente vejo algo que mais se parece... uma amálgama de... algo.
O Serralves conseguiu descrevê-lo lindamente!
Eu queria só lembrar o Bastian (que diz "ninguém aqui é contra a praxe propriamente dita")que o nome da vossa agremiação, instituição clube, associação que dá o nome ao Blog é: Movimento Anti Tradição Académica.(M.A.T.A.)Vocês são contra TUDO o que diga respeito à Academia, e suas tradições. Boas ou más, senão seriam o Movimento Anti Tradição Académica Mas Só As Que Nós Achamos Um Abuso, E Afins.
Não tentem mascarar as coisas. Assumam pelo menos, não há mal nenhum nisso. Vocês sendo do MATA não podem ser a favor das Praxes boas porque para vocês isso não existe. Para o MATA a Praxe por si só é um atentado contra o Ser Humano. Sejam pelo menos coerentes nos vossos discursos.
Antes de mais esclarecer que vêm a este blogue várias pessoas com opiniões diversas - umas mais favoráveis à praxe outras menos. Algumas destas pessoas fazem parte do MATA, ou seja, discutem e organizam-se em torno de uma estrutura que existe, há já muitos anos, e por onde passaram já muitas pessoas. Desta forma, a opinião do MATA é uma coisa que não existe. Existe sim a opinião de pessoas que fazem parte do MATA.
É natural que quem faça parte do MATA, no sentido descrito atrás, tenha uma aversão pelo dogma que é imposto aos estudantes sob a forma da "tradição académica".
A minha opinião pessoal sobre a tradição académica, e nisto entendendo, as praxes, as tunas, o traje, a bênção e a queima das fitas, tem a ver talvez não tanto com o seu conteúdo, apesar de obviamente também, mas com a sua natureza e a sua pretensão:
- A natureza hierárquica, que distingue estudantes iguais em direitos e deveres pelas leis nacionais;
- A natureza elitista, que pretende distinguir os estudantes do ensino superior das outras pessoas da sociedade, através de rituais e trajes;
- A sua natureza uniformizadora e massificadora, que pretende definir e reivindicar o modo como os estudantes se devem comportar entre si e com o resto da comunidade, dizendo como estes devem produzir cultura, como se devem vestir, o que podem ou não fazer (seja não olhar nos olhos de quem está acima hierarquicamente, seja outra coisa qualquer), impondo uma série de regras que impedem, mais ou menos, outras formas de comportamento, de integração, de relacionamento, logo apresentando uma natureza castradora das liberdades de expressão, cultural, artística, intelectual, de cada indivíduo;
- a sua natureza impositiva de valores morais conservadores e retrógrados, sexistas, homofóbicos, que discriminam e gozam a diferença de cada um (espelhados, por exemplo, nos cânticos que se ouvem nas praxes, ou em algumas tunas);
- a praxe e a tradição académica revelam a faceta mais desumana de cada um e tornam isso "normal", desconstruindo personalidades a ferro, substituindo quaisquer outros valores mais altos como a liberdade, a igualdade, ou a fraternidade, e por imposição de uma "maioria" que faz parte desse grupo que se vê a braços com um "poder-mandar" que não sabe nem deve gerir. Na praxe e na tradição académica, não se questiona como se deve fazer, faz-se como sempre se fez, como é "tradicional" fazer. E esta carga "tradicional" confere-lhe uma autoridade e uma auto-justificação de existência, aparentemente impune, embora nunca tenha existido senão em Coimbra, e nunca da forma actual (muito pior, diga-se de passagem), e apesar de ter sido sempre combatida resultando sempre na sua proibição em diversos momentos históricos (ressurgindo em alturas de retrocesso).
- outra característica da praxe é de fraccionar em pequenos grupos, como se de claques de clubes de futebol se tratassem, os diferentes cursos. Apesar de provavelmente a maioria dos estudantes não levar a sério que o seu curso seja melhor do que outro da mesma faculdade (pelo menos assim espero), dificulta o relacionamento entre pessoas de cursos diferentes, pois a praxe na maioria dos sítios é feita por curso. Há também as tunas femininas e as masculinas. Há as turmas de anos diferentes. Tudo barreiras artificiais ao relacionamento entre as pessoas. Subsititui-se ao relacionamento por interesses intelectuais, culturais, artistícos, por objectivos comuns, por necessidades comuns,... Notei na minha faculdade, por exemplo, que a generalização das praxes coincidiu com a diminuição da participação dos estudantes nos núcleos temáticos (núcleo de fotografia, de astronomia, ..., acabaram), ou na vida associativa (fazer uma lista para a AE, organizar uma manifestação, e o que lhe antecede, contra o RJIES ou Bolonha ou o aumento das propinas, tornou-se cada vez mais difícil). Os estudantes estão cada vez mais iguaizinhos uns aos outros e cada vez mais amorfos, menos reivindicativos, mais amansados, se possível fosse.
As transformações que o Ensino Superior passou nos últimos poucos anos passaram despercebidas pela maioria dos seus alunos. Porque será?
ser.r.alves, muito bem escrito.
O que pensam vocês da "marcha pelo ensino superior" da próxima terça, dia 17? Terá alguma adesão já que é organizada pelas associações académicas e está a ter, comparada com outras acções, alguma divulgação?
Manuel Gonçalves Dias Rodão, é sempre um desafio lê-lo. Os seus "raciocínios" são tão imperceptíveis que me dá gozo tentar acompanhá-los. Tarefa que se tem vindo a mostrar bastante difícil. Misturar alhos com bugalhos dá sempre mau resultado e, acima de tudo, parece-me que lhe falha análise objectiva dos posts que comenta. Se não percebe, é melhor não escrever nada.
"Eu gostava de saber quais são os argumentos para se ser anti-praxe, além de ser um coitadinho que não gosta de brincar e conhecer novas pessoas de uma maneira totalmente diferente..." - Anónimo
Isso já foi mais que respondido um pouco por todo o lado. Se gostavas de saber então procura - e pensa.
"O que pensam vocês da "marcha pelo ensino superior" da próxima terça, dia 17? Terá alguma adesão já que é organizada pelas associações académicas e está a ter, comparada com outras acções, alguma divulgação?" - zetkin
As acções de luta por um ensino superior público, gratuito, onde exista uma igual representatividade dos estudantes em relação aos professores e funcionários não docentes, e de qualidade fazem todo o sentido - sejam promovidas por quem forem. As Associações Académicas e de Estudantes não fazem mais que o seu dever - promover essa luta.
Claro que existem muitas deficências: a pouca propaganda existente, a falta de divulgação, o fosso entre AEs e os estudantes - que dificulta a discussão sobre o que se passa. E a praxe está relacionada com isso. Enquanto os estudantes se entretêm com a praxe, o ensino superior público é desmantelado sem que estes dêem por isso.
Eu queria só lembrar o Bastian (que diz "ninguém aqui é contra a praxe propriamente dita")que o nome da vossa agremiação, instituição clube, associação que dá o nome ao Blog é: Movimento Anti Tradição Académica.(M.A.T.A.)Vocês são contra TUDO o que diga respeito à Academia, e suas tradições
E eu quero apenas lembrar ao Nuno, que se fôr a ler correctamente como se escreve M.A.T.A. repara que é Movimento Anti "Tradição" Académica, e não Movimento Anti Tradição Académica.
É que a diferença no uso das aspas apenas indica a ironia que é chamar a algo recém-implantado (e coberto duma demagogia impressionante) de tradição.
"E eu quero apenas lembrar ao Nuno, que se fôr a ler correctamente como se escreve M.A.T.A. repara que é Movimento Anti "Tradição" Académica, e não Movimento Anti Tradição Académica.
É que a diferença no uso das aspas apenas indica a ironia que é chamar a algo recém-implantado (e coberto duma demagogia impressionante) de tradição."
O que quer dizer com isto? Que é contra a toda a Praxe ou não? É que fiquei sem perceber.
Em todos os comentários vejo que a Praxe tem de ser abolida independentemente de ser mais ou menos dura, e depois vejo que "ninguém é contra a praxe propriamente dita". Agora a explicação são umas aspas? Curiosa explicação.
Bem, Nuno, já te expliquei, em dois comentários seguidos aqui um pouco atrás. Vê se és um pouco mais honesto e respondes ao que interessa, por favor, que neste caso é uma resposta a algo que questionaste.
MGDR: "Renato" de Coimbra e não da "Figueira", se é que isso importa, e de "barba" com "ideais muito de esquerda", nesse tempo e agora.
Ainda bem que gostou de me ouvir na adolescência, pena não o ter conseguido convencer de nada, nem mesmo recorrendo a "um discurso bonito, conciso, lógico" e onde no seu entender "havia paixão". É uma pena só lhe poder retribuir o último dos seus elogios.
Já que lhe tirei o sono tenho o prazer de o elucidar: estou algures entre o "pequeno-burgês" e o traidor de classe. Espero que nenhuma das condições me arruinem os fins-de-semana.
Ainda bem que estamos de acordo sobre a praxe, de outra maneira nem saberia o que lhe dizer...
Valha-o a fé mas não a agradeça.
ser.r.alves eu fiz apenas o comentário ao post do Bastian, e a pergunta também era neste caso para ele. Não preciso saber qual é a motivação do MATA, eu já a sei. O próprio nome o indica. Eu queria saber apenas se o Bastian era realmente contra todas as praxes ou se existem Praxes boas e más.
A pergunta podes voltar a fazê-la? É que no meio do teu último testamento não consegui descobrir.
Já agora não ser honesto é perguntar?
Bem no teu penúltimo comentário parece que fingiste que eu não tinha dito nada pois voltas a repetir uma interpretação tua do que é a posição do MATA em relação às praxes. Pelo menos era disso que se estava a falar nos comentários... agora dizes que estás interessado na posição do Bastian (que eu desconheço quem seja).
Daí ter-te acusado de não teres respondido ao que interessava que era a minha resposta dirigida a ti. Desta forma, pareceu-me que tinhas desviado desonestamente a conversa para outro lado, para um que te seria mais conveniente.
Quer-me parecer que o M.A.T.A. não defenda o extermínio das praxes, mas a mudança destas para algo que não seja o constante abuso que se vê, da diferenciação entre estudantes, da pseudo-hierarquização e pseudo-integração revestida de actos de violência física e psicológica.
Conforme já disse anteriormente: quando a turma do meu curso quis acolher os alunos do primeiro ano, chamou-os para um jantar e saída à noite, não precisou de fazer nenhum circo como habitual e tristemente se vê nas faculdades acontecer.
E, repito: anti-"tradição" e não anti-tradição, porque conforme pessoas que são mais velhas do que os actuais defensores da praxe nos recordam constantemente: isto que hoje em dia acontece, é recente e tão pouco uma tradição a sério.
Tradição é aquilo que os defensores da praxe actualmente mais alegam na defesa daquilo que fazem, e que no fundo não passa duma "tradição" - um circo, algo fajuto travestido de tradição apenas da boca para fora.
Bastian esclareceste-me, afinal andei enganado este tempo todo e pensei que o MATA era contra as praxes. Obrigado.
ser.r.alves o Bastian é este utilizador que me respondeu agora à minha pergunta.
Bem, Nuno, está difícil fazer-te compreender. Mas pronto fica na tua. Não estou com paciência para repetir tudo de novo.
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