segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A felicidade.

‹‹No Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), ouvem-se as vozes autoritárias dos veteranos e os cânticos ensaiados dos caloiros. Usam as calças do avesso e as T-shirts amarelas onde se pode ler "caloiro do ISEL", o único sítio onde podem ser pintados. Fazem concursos de talento no palco improvisado com estrados forrados de alcatifa vermelha, e garraiadas num pequeno recinto formado por vedações de metal da Câmara de Lisboa.

Daniela Vieira, caloira de Química, com 18 anos, diz que esperava pior. "Chamam-me teimoira porque respondi mal a um veterano. Puseram-me de castigo a fazer agachamentos dizendo 'eu não responderei mal aos meus veteranos'", conta sem ressentimentos. Já a fizeram andar com um ovo na mão durante uma hora, rebolar no chão enquanto dizia "eu sou um porco no espeto" e beber água sem pegar no copo. Exigências que não a preocupam. Hulk é Diogo Fernandes. Tem 19 anos e esteve presente em todos os dias de praxe. "Eu adoro as praxes, se não não estava aqui", sintetiza.

Já na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa não é permitido praxar dentro da escola. "É por isso que estamos do outro lado da estrada", resume Frederico Sequeira, de 24 anos, um dos responsáveis pela praxe de Engenharia Informática. Os veteranos inspiraram-se no filme 300 para criar a sua "legião", incutindo nos caloiros um espírito de "união, humildade e inteligência". "Praxe é integração, não humilhação", sublinha. "Nós respeitamos a integridade dos caloiros. Não os pintamos nem sujamos. Eles usam o chapéu para os identificarmos e não obrigamos ninguém a estar aqui. Não é, Já Chega?", pergunta dirigindo-se a Pedro Batista, um dos caloiros. "Sim", responde confiante, com as mãos atrás das costas e o olhar fixo em frente. Está aqui para conhecer os colegas, com quem já trocou contactos e a quem se junta rapidamente, para ensaiar os gritos e formações para as batalhas de cursos. "Nós somos os melhores. Eu mostrava o cu pelo meu curso", declara sem hesitar.››

Notícia do Diário de Notícias.

3 comentários:

Anónimo disse...

Claro, como é uma notícia boa acerca da praxe, ninguém comenta!

Comento eu!

A praxe nunca morrerá, por mais que tentem acabar com ela!

Anónimo disse...

A praxe tem, indubitalvemente, muita diversão e convívio em si mesmo. Por essa mesma razão é que a maioria dos estudantes (falo pelo meu curso, Medicina Veterinária na UTAD) gostou sinceramente da praxe...e podendo parecer estranho, muitos deles afirmam que gostaram mais de terem sido praxados do que de praxar. Os abusos devem ser combatidos, mas vejo a praxe como algo interessante e que espero que permaneça muitos anos.

Anónimo disse...

Claro, é tudo uma questão de divertimento. Os romanos também se divertiam muito indo ao coliseu ver homens lutar contra leões e coisas do género. Ser divertido não é um argumento a favor da praxe.
Gostar mais de ser praxado do que praxar pode significar:
- primeiro, dá trabalho "praxar bem" e portanto pouca gente o quer fazer. A consequência seria que muita gente praxa mal porque não tem paciência para mais.
- segundo, é mais fácil ser submisso do que autoridade pois é só preciso deixar-se ir. A consequência é que com a praxe estaremos a formar uma quantidade de pessoas incapazes de questionar a autoridade.