O seguinte testemunho chegou à caixa de correio electrónico do MATA. Depois de se pedir autorização à pessoa que o enviou publica-se agora no blogue. A gravidade da situação é gritante.
(a identidade do autor do testemunho e a faculdade foram ocultadas)
«Olá eu sou um aluno do de uma faculdade de Lisboa, estou a escrever-vos para expor e dar dum desabafo de situações que ocorreram devido às praxes praticadas neste estabelecimento de ensino.
Eu tive e ainda ando a ter uma muito má experiência devido às praxes.
Na minha faculdade é muito frequente haver cânticos muito homofóbicos com nomes como p******** e afins, simulações de actos sexuais onde a homossexualidade é tida com uma coisa negativa e repugnante, e essa homofobia acaba por ser transposta para todo o ambiente académico/escolar.
Acontece que eu descobri a minha homossexualidade quando já estava no 2º ano na minha faculdade, apesar de estar no 1º ano do curso por eu ter mudado de curso, e o que eu senti foi uma enorme repressão e um enorme pânico. Devido a toda a homofobia que se vive senti que ia ser excluído e mal tratado se fosse descoberto. Senti-me mal em estar na faculdade, senti que não era bem vindo lá, senti que lá eu não podia ser "eu" sob pena de ser excluído. Devido a isso tudo o meu rendimento escolar desceu imenso.
Entretanto, acabei por me assumir e contei ao pessoal as razões porque eu me sentia mal, e o resultado foi muito negativo, disseram que não iam parar os comentários só por haver um gay na faculdade e nós tínhamos de apanhar com aquilo e aguentar, cheguei a falar e expor a minha situação a pessoal que pertence à comissão de praxes tendo obtido o mesmo resultado.
Devido a essas situações, fui pedir apoio ao gabinete de apoio ao aluno na minha faculdade, o qual me pediu para expor o caso por escrito ao presidente da faculdade. Assim o fiz e não obtive resultados práticos nenhuns. Devido a isso decidi fazer uma denúncia do que se passava à inspecção geral do ensino superior onde expus o meu caso, e daí resultou um auto de declaração que foi enviado à faculdade, tendo resultado num inquérito onde são confirmados esses cânticos homofóbicos, mas esses são considerados aceitáveis, por supostamente não serem dirigidos a ninguém e de serem tradição lá há muito tempo. Para além disso relatei o caso ao observatório da educação da rede ex aequo, onde o meu caso apareceu referido no seu último relatório e onde foi noticiado na comunicação social.
Resultado, agora ando a sofrer uma grande retaliação verbal e psicológica, com ameaças indirectas a minha integridade física, o pessoal passa a vida a mandar-me bocas e apontar-me o dedo, os meus supostos amigos abandonaram-me completamente, sinto uma grande hostilidade no ambiente na faculdade e sinto-me completamente sozinho, não tenho apoio nenhum por parte da faculdade, e até tenho receio vir a ser prejudicado nas notas. O que vale é que tenho tido apoio de verdadeiros amigos de fora e que se não fossem eles eu não estaria aqui hoje.»
O mais grave nisto tudo, para além de mais uma prova da homofobia presente na maioria das praxes conhecidas que lhes confere um carácter retrógrado, discriminatório e extremamente ofensivo, é a falta de capacidade das instituições em lidar com um caso criminoso, de discriminação com base na sexualidade de uma pessoa, punível por Lei, evidente e até confirmada por um inquérito que ocorreu e continua a ocorrer nas praxes.
A praxe está fora da Lei e isso é inadmissível!
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Testemunho de uma praxe
Publicada por m.a.t.a. em sexta-feira, setembro 30, 2011
Etiquetas: abusos, Discriminação sexual, ISEL, praxe
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10 comentários:
Oh meu deus.. lá vem mais estupidez. nao que concorde que essas cantorias têm haver com praxe. Mas obviamente que as pessoas não iam acabar com algo que sempre fizeram, é até uma maneira de não o discriminar por isso, pois estão a dar pouca relevância as letras das músicas em si.
Se acabassem é porque assumiam claramente que aquilo era um ataque homofóbico, algo que facilmente se repara que repara que não passa de uma canção como tantas outras.
Teriam também assim que acabar com as músicas das 5 7 20 putas do cabaret, porque mais de metade da população feminina é isso mesmo uma cambada de putas e iam-se sentir ofendidas.
Obrigado pelo teu comentário. Também ele é revelador da mentalidade de quem anda por aí a praxar.
(Uma pergunta, se as músicas em vez de gozar com homossexuais - e as letras normalmente são ofensivas usando adjetivos como panilas, ou paneleiro, e, portanto, bastante discriminatórias, ao contrário do que tu dizes - gozassem com judeus ou ciganos - como também as há - ou negros ou chineses, parecer-te-ía bem?)
Estupidez é o continuarem a haver cânticos de teor homofóbico e que estes passem como aceitável. Da mesma forma que não fazem uso de cânticos que comparem africanos a macacos ou fazem outras conotações racistas, porque é que o têm de fazer à comunidade homossexual. Acham que é por ventura o único que frequenta a faculdadE? Infelizmente é o único a ter coragem de se assumir.
O facto de dizer que "mais de metade da população feminina são uma cambada de putas" revela muito pouco de si. Certamente que não conhece mais de metade da população feminina da faculdade, tão pouco a da cidade de Lisboa para se pronunciar. Conhece as mulheres da sua turma, as que são suas amigas e as da sua família...
Quer dizer que se pegarmos na sua mãe e na sua avó certamente "metade delas" é uma puta. Quer elucidar-nos sobre qual delas?
Da próxima ficaria também muito bem da tua parte assinares e dares a entender quem és. Pelos vistos não passas de mais outro alarve que tenta justificar o injustificável atrás do anonimato. Cobarde e de muito baixo nível.
Aqui o que está em causa não é a utilização de vernáculo. Isso é comum em várias músicas, algumas até com alguma graça (vide Quim Barreiros).
O problema são as expressões que fomentam o ostracismo e a exclusão. Usar a palavra "paneleiro" é diferente de usar a expressão "aqui não entram paneleiros". A palavra é apenas vernáculo enquanto que a expressão desagrega e promove a exclusão.
Em relação ao exemplo rácico, é fácil pensar que o uso da palavra preto não representa em si um problema. Todavia, dizer "aqui não entram pretos" já não se pode considerar aceitável.
Isto é mais um exemplo de como a praxe é anacrónica e não está minimamente ajustada à modernidade.
1 - Gostava de saber em que contexto se pode utilizar a palavra paneleiro sem ser de uma forma depreciativa ou ofensiva. Se me souberes responder, agradeço, João.
2 - Se a homossexualidade for utilizada nos cânticos da praxe da forma como tu dizes, João, gostava de saber o que tem de especial para eles o fazerem. (Por exemplo, substitui a palavra paneleiro ou panilas por branco ou outra coisa que te parece "normal" e vê o que achas desses cânticos)
Que te parece, João?
Não te parece que esses cânticos homofóbicos são apenas uma evidência de que a praxe é retrógrada, conservadora e discriminatória?
O final do teu comentário, se não me levas a mal, é uma treta completa.
Não era a praxe sinónimo de integração e respeito? Onde é que eu li isto? Devo ter sonhado...
Aconselho-te a ler novamente o meu comentário, porque não parece que o tenhas percebido serraaleixo. De qualquer forma, farei um esforço para explicar o meu ponto de vista da forma mais objectiva possível:
1- O uso de expressões como "paneleiro" e "preto" não é, necessariamente, um acto ofensivo. Tenho amigos homossexuais com quem brinco e uso a expressão e tenho amigos negros a quem chamo de pretos. Nenhum deles se incomoda e também brincam comigo por outras questões relacionadas com diferenças. Porque se pode brincar com as diferenças humanas sem ofender.
2- Quando falo em expressões, refiro-me à praxe. É comum ouvir-se expressões como "aqui não entram paneleiros" e afins nas várias faculdades deste país. Depois, também não faz sentido utilizar determinadas palavras com pessoas que acabamos de conhecer. Se trato por preto alguém que já conheço há muitos anos, não farei o mesmo com alguém acabado de conhecer. É uma regra básica da convivência humana.
3- Treta pegada é a leitura selectiva que é feita, olhando para as palavras através de lentes distorcidas pelas convicções pessoais de cada um. Quando me refiro ao facto da praxe ser anacrónica, refiro-me ao fenómeno em si. É uma pseudo-tradição (não tem mais do que 20 anos) que não faz sentido nenhum actualmente. Então se olharmos para as faculdades como fontes promotoras do pensamento autónomo, ainda menos sentido faz.
Um conselho: em vez de antagonizarem quem tem opiniões diferentes com expressões como "treta pegada", convém argumentar de forma elevada e cordata. Senão correm o risco de aumentarem o fosso que vos separa dos interlocutores que é necessário convencer: quem defende a praxe.
Assinado: João, um estudante absolutamente contra as praxes.
João, percebi o teu comentário à primeira e percebi que não serias muito amigo da praxe. E estou a escrever de forma serena e não agressiva.
Seja como for, mantenho as minhas questões:
- de que forma pode uma orientação sexual ser usada como tema de um cântico qualquer sem ser de uma forma depreciativa ou pejorativa? Imagina que em vez de algo relativo à homossexualidade seria algo relativo à heterossexualidade.
Eu digo que, mesmo que fosse dito de uma maneira fofinha, usa de uma expressão distintiva de um tipo de sexualidade, seja ele qual for (ou outra característica qualquer, racial, religiosa, ideológica, de nacionalidade,...), é discriminatório. Se nesses cânticos abarcassem todas as sexualidades e fizessem paródia com isso, posso não achar piada, mas se calhar até aceito.
Quando dizes «Usar a palavra "paneleiro" é diferente de usar a expressão "aqui não entram paneleiros"» seja em que contexto for é discriminatório. Agora o teu amigo homossexual pode tolerar isso e perceber que estás a brincar com ele, e aí não ser ofensivo. Não é uma questão de transformar uma palavra (como paneleiro ou preto) em tabu. Mas é perceber que se está a fazer uma distinção que não se deveria fazer, pondo uns como "anormais" (os homossexuais, mesmo que tratemos de uma maneira fofinha) e os outros como "normais". E na praxe isso é gravíssimo, é retrogrado, e evidentemente discriminatório. Não vejo como na praxe se poderia usar a palavra da forma como tu dizes. Nem vejo porque alguém poderia querer ressalvar o uso não ofensivo da palavra paneleiro. Há coisas mais importantes a comentar nesta história, é isso que me parece (daí chamar treta).
E também por por isso, me pareceu uma treta completa (e peço-te mais uma vez desculpa pela expressão mas não consigo arranjar uma melhor) quando dizes «a praxe é anacrónica e não está minimamente ajustada à modernidade». Não, a praxe é o reflexo da sociedade decadente em que vivemos e mostra-o de uma maneira crua e selvática.
Agradeço o teu conselho, e espero que não me tenhas levado a mal.
As praxes são na sua maioria uma vergonha nacional e os denominados doutores que são por vezes mais estupidos que os analfabetos nem sabem do que se trata quando falamos de respeito e integração porque eles nem tem capacidade de fazer uma conversa normal apenas falam por siglas e palavrões e pensar que o país estará num futro mais ou menos próximo entregue a estas pessoas é verdadeiramente arrepiante !!!
As pessoas do BE são na sua maioria uma vergonha nacional e os denominados "lutadores pela liberdade" que são por vezes mais estúpidos que os analfabetos nem sabem do que se trata quando falamos de respeito e integração porque eles não têm capacidade de fazer uma conversa normal, apenas falam por ofensas e palavrões. E pensar que o país poderia alguma vez estar entregue a estas pessoas é verdadeiramente arrepiante !!!
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