O Diário de Notícias pediu um texto ao M.A.T.A. sobre a violência nas escolas, em particular sobre o caso em que uma aluna do Colégio Militar teve que ser hospitalizada devido a abusos cometidos durante a praxe. O texto escrito pela Daniela Gama pode ser consultado hoje, na edição de 24 de Janeiro de 2011.
«Que a praxe é militarista já se sabia, mas soube-se há uns dias que a praxe na Academia Militar levou ao internamento de uma aluna.
Como é habitual nos crimes praticados ao abrigo da praxe, pouco se sabe. No entanto, sabe-se que a Instituição de Ensino Superior Público, já identificou os agressores e promete uma sanção disciplinar à altura. O que gostaria de saber é se está prevista uma sanção penal. "O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, sempre que tenha notícia da prática de ilícitos nas praxes, dela dará imediato conhecimento ao Ministério Público. (…) lançará mão dos meios aptos a responsabilizar - civil e criminalmente, por acção ou omissão - os órgãos próprios das instituições do ensino superior, as associações de estudantes e ainda quaisquer outras entidades que, podendo e devendo fazê-lo, não tenham procedido de modo a procurar evitar os danos ocorridos.”, Mariano Gago em carta dirigida aos Reitores em 2009.
Nos últimos tempos temo-nos vindo a habituar a notícias várias sobre as ditas praxes violentas, invariavelmente recriminadas por quem praxa, por quem é praxado e por quem vê praxar. Por perceber fica que toda a praxe é violenta e não apenas aquela que parte um osso ou que faz sangue. A praxe é inerentemente violenta porque violenta a liberdade.
Todos os anos, reproduz-se e nasce, país fora, aquilo a que se vem chamando tradição académica, que se baseia em pressupostos hierárquicos de antiguidade e cujo principal alicerce argumentativo é a boa vontade da integração. Esta visão paternalista, tem vindo a integrar os novos alunos numa forma de estar acrítica, de reprodução amorfa, do cala e consente, num espaço – universidade – que devia ser de abertura, criatividade e visão crítica do mundo.
Segundo fontes do DN, a praxe na Academia Militar é uma "prática habitual ao longo do ano”, e também assim o é em tantas outras instituições de ensino superior. Durante todo um ano lectivo, alunos do primeiro ano ficam sob o jugo arbitrário dos “veteranos” com a conivência das escolas que cedem o seu espaço a este jogo do rei manda. Alguns dirão que só é praxado quem quer, ignorando o forte papel da coação e dos pressupostos enganosos que estão por trás da recusa. “Se não fores à praxe: não podes usar traje” – o traje está à venda em lojas e qualquer pessoa pode comprá-lo e usá-lo, sendo ou não estudante; “não farás amigos” – há 12 anos que se anda na escola e se faz amigos sem praxe, de igual para igual; “vais perder-te no enorme espaço que é a faculdade” – basta pedir indicações; “tens de assinar um papel a declarar-te anti-praxe” – ninguém tem de se declarar nada, nem assinar nada, este papel não é nenhum documento oficial, é uma invenção.
É inaceitável que em espaços democráticos de ensino público se exerçam práticas fascizantes à vista de todos e por todos permitidas. É inaceitável que nestes e noutros espaços se gritem palavras de ordem machistas, cantigas homofóbicas, que haja quem mande alguém rastejar no chão e haja alguém que acate essa ordem. É inaceitável que esta seja a “cultura” que o ensino superior tem para oferecer. É inaceitável que, activa ou passivamente, continuemos a perpetuar esta “cultura”.»
10 comentários:
Para todos aqueles que não sabem o que é a praxe será difícil compreender o que nós caloiros sentimos no gigantesco mundo das tradições académicas. Tal como me foi ensinado a praxe serve para uniformizar egos e quebrar manias, e quando este objectivo é finalmente concretizado somos melhores pessoas. A praxe académica, como a maior parte das pessoas pensam não tem como objectivo fazer encher até cairmos para lado ou até ir toda a gente para hospital, mas sim para criar laços entre nós, fazer de nós melhores pessoas, manter viva a uma cultura portuguesa, que ao longo dos tempos se foi perdendo.
É nas praxes académicas que se aprende o verdadeiro sentido de família, de união, de sacrifício, de entre ajuda até talvez por uma pessoa que acabamos de conhecer, mas que possivelmente no final do dia, após tanto sofrer se tornou uma amiga.
É verdade que o traje se encontra a venda em qualquer loja académica, mas outra verdade que também não foi mencionada é o que é o traje. O traje não é apenas uma peça de roupa que se veste de vez enquanto, um traje acarreta um grande peso e uma grande responsabilidade, e nem todos nós somos, enquanto pessoas capazes de representar tudo aquilo que acarreta, mais uma vez é para isso que a praxe serve, há que aprender a trajar e não só vestir-lo porque é bonito. O traje é o símbolo da nossa vida académica, das nossas vivências, daquilo que fomos durante aqueles anos todos, e qual seria o sentido de se chegar a uma loja e comprar um traje sem mais nem menos? Qual seria o significado que esse traje teria para a pessoa em questão? Significaria que estava na faculdade e que o preto até lhe fica bem? Ai é que esta a questão um traje não é isso, um traje é um amigo, é o amigo que quando eu não me lembro de algo ou de alguém, ele está lá para me lembrar de tudo o que já passei, o que já fui, entre tantas outras coisas… No que toca aos amigos, sim todos nós fazemos amigos sem necessitar da praxe, mas quando algum de nós precisa quantos deles é que verdadeiramente estão lá e eram capaz de sofrer por nós? Quantos deles são realmente a vossa família? Talvez poucos… Quanto ao papel de se declarar anti-praxe, esse papel existe apenas para que não venham a existir problemas mais tarde, como por exemplo, declararem-se anti-praxe e mais tarde trajarem por algo que nem acreditam, se querem tomar uma decisão ao menos sejam honestos, já que são anti-praxe não trajem e muito menos aparecem em eventos académicos, como semana académica, e tudo o que estes representam.
Para finalizar deixo-vos um paragrafozinho que todos vós devem conhecer, e resume tudo o que escrevi neste longo comentário.
"Dizem que para quem não acredita nenhuma explicação é possível e para quem acredita nenhuma explicação é necessária. Talvez seja isso que acontece com a praxe, para quem não a vive é Inconcebível, mas para quem a vive é incontestável."_ Antípodas Movimentos Antí-praxe
Mééééééé
Acho triste que aches que tenhas que sofrer para fazer amigos. Tenho amigos e não precisei de me rebaixar para os fazer.
"A praxe não serve para encher até cair para o lado". Então para que o fazem? Para que precisam de rebaixar os novos alunos? A verdade é que os "senhores doutores" gostam de se sentir superiores. Tão simples quanto isso. "Serve para quebrar manias". Mas que manias? O quê? Os novos alunos vão mesmo para a faculdade com a mania de que são os maiores? (Acho isso das coisas mais absurdas que já ouvi) E quê? É por serem rebaixados na praxe que perdem a mania (que por acaso tenham) para quando vão para outros sítios? Claro que não! As pessoas não mudam assim. É um pouco infantil acreditar que sim...
Eu não ligo nenhuma ao traje, não vou trajar e acho um desperdício de dinheiro. Agora, quem não é praxista, se o usar vai associar apenas ao seu estatuto como estudante universitário. Não era essa a ideia do traje originalmente? Tinha ideia que sim. Por isso tu podes associar à praxe se quiseres (e chamar de "amigo" - grande lol), mas supostamente não é isso que ele simboliza ( ou pelo menos só isso), portanto acho que não tens razão em ridicularizar quem o usa.
@Anónimo 25 de Fevereiro de 2011 21:42
Antes de mais, queria perguntar-te, se tens a noção de que és um ser xenófobo, e por acréscimo socialmente e intelectualmente inferior?
Gostaria que me respondesses a esta questão inicial, para que possamos debater mais um pouco as tuas convicções.
Obrigado.
SALVEM A TRADIÇÃO, OS TRAJES SÃO NOSSOS AMIGOS!
Não deves bater bem não...
A verdadeira imagem da praxe:
http://www.youtube.com/watch?v=Bv9dX1WFzS4
Entrevista exclusiva ao senhor doutor:
http://www.youtube.com/watch?v=_nnBLMdwbQQ&
comentário desnecessário, não?
Não sei qual o mais desnecessário, se o teu, se o meu.
ok
Parabéns Daniela, está óptimo.
Às vezes faz-me impressão de tão simples que parece toda esta questão, de tão naturais que são os valores que nos fazem ficar chocados com tudo isto.
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