terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Veteranos, membros das comissões de praxe, praxistas são exemplos de nomes que se podem dar a quem pratica as “praxes”. Mas as regras que esta dita são regras e não sugestões, brincadeiras flexíveis, acordos ou interacções espontâneas.
Pelo menos, é isso que se tem ouvidos, nos últimos anos, das bocas daqueles que “praxam”.

Mas este julgamento, que teve hoje a segunda sessão, vem abalar estas quase-certezas. Pela primeira vez, as praxes estão a ser postas em causa publicamente e, ao contrário do que seria de esperar, pelos próprios defensores.



Hoje, o “dux”* Vítor da Escola Superior Agrária de Santarém, aluno desta escola desde 1995, e testemunha de defesa (dos arguidos, claro) neste processo, levou a plateia a concluir a inutilidade do “código de praxe” – que existe desde 1998 (que contribuições terá tido este aluno na sua elaboração?) –, documento que a “comissão de praxes” utiliza para orientar a sua relação com os “caloiros”: afinal o que diz o código não é aplicado (por exemplo, os caloiros afinal só são bestas se o consentirem, afinal não serão caçados nas aulas no caso de se terem escapado às praxes, e afinal as praxes de Santarém não são necessariamente as piores do país). Este aluno afirmou várias vezes que o código serve apenas para assegurar os direitos dos “caloiros”.
Foi também dito várias vezes também por outras testemunhas, hoje como na primeira sessão do julgamento, que os “caloiros” não são obrigados a fazer o que não querem nem a entrar nas brincadeiras e que não existem ordens, mas sim propostas e sugestões, que os primeiros podem recusar livremente, desde que assinem a “declaração anti-praxe”.

Outro dado novo que sai desta sessão é que, aparentemente, o contacto directo (e directo, neste caso, é ser untado) com dejectos de origem animal é natural, desejável e próprio do universo de uma escola agrícola e do mundo rural (uma das testemunhas nem foi capaz de negar que as pessoas do mundo rural não se barram com excrementos animais, querendo levar a crer que isso de facto poderá acontecer).

Depois dos argumentos, uma breve opinião.
As praxes, neste julgamento, são um grande faz-de-conta paranóico. Faz de conta: que alguém manda, que todos gostam de cumprir, que existem leis, que é tudo uma brincadeira de convívio, que o cenário é diferente da realidade (como uma grande peça de teatro), que quem diz que não gosta está a brincar.
Mas os argumentos são os da realidade. Há indivíduos superiores a quem se deve respeito, que determinam que todos os alunos a partir do acto de inscrição são inferiores, que tomam decisões sobre o comportamento dos outros, que decidem os pontos de contacto entre as “brincadeiras” e a sociedade exterior à escola, e que até impõem uma assinatura a quem se quer excluir deste “mundo (não) paralelo”.

Estes comportamentos estão a ser postos em causa e a entrar em contradição. Os poderes que se querem afirmar dentro das escolas de ensino superior não têm legitimidade (como sempre foi dito pelos oponentes a estas práticas), e isto foi afirmado (ainda que indirectamente) por quem reivindica esses poderes.
A “tradição” afinal não é suficiente para a afirmação dos comportamentos que não são (felizmente, neste caso) socialmente aceites.

* O “dux” é, supostamente, o grau mais alto da hierarquia, na “tradição académica”.

2 comentários:

Ponnette disse...

Isto é realmente incrível... E tão ridículo que uma pessoa quase se chega a sentir triste por ter a necessidade e a vontade de fazer parte de um movimento "anti-tradição académica". É que as praxes e o tipo de pensamento que vai nas cabeças dessa minoria universitária e praxista... não cabem na cabeça de ninguém! E pura e simplesmente não deviam acontecer neste mundo. Só fazem sentido numa espécie de Idade Média obscura (que se calhar nunca existiu...)
Agora estou curiosa com as decisões do tribunal... Aos meus olhos parece-me claro que os culpados estão a meter os pés pelas mãos! ... para além de serem bastante foleiros quando atiram as responsabilidades para os "caloiros" que subjugaram nesse ano e que, a mando dos veteranos, andaram a barrar de bosta uma colega. Mas... será que isto é claro para toda a gente? Se é, por que continuam a passar-se estas coisas?

Anónimo disse...

Para vossa informação o codigo de praxe vai sofrendo alterações ao longo dos anos! logo este aluno CONTRIBUIU SIM para a elaboração do codigo de praxe!
Quando ñ sabem ñ falem!
Tenho pena dessa menina que parece ter-se esquecido que se aleijou num braço a dançar em cima duma coluna numa discoteca (tal ñ era o entusiasmo!! coitadinha devia estar a ser obrigada)e que foram esses veteranos que a ajudaram, que foram esses veteranos que a levaram ao hospital e que lhe pagaram os medicamentos! é feio cuspir no prato onde se come!