sábado, 31 de março de 2012

E acontece outra vez...


A violência da praxe não acontece por acaso. Acontece porque é dito, a uns, que mandam e, a outros, que obedecem. Acontece porque a praxe é arbitrária e quem praxa quer sempre ir um pouco mais longe. Não é por acaso, não é porque há pessoas que "não sabem praxar". A violência física é só o lado mais obscuro e chocante de uma prática violenta em toda a sua expressão, desde a sua génese. Olhar para o chão, estar de joelhos, ser pintado, fazer coisas a mando de outros, ser berrado aos ouvidos, ficar com a roupa do avesso, simular relações sexuais, levar colheradas nas mãos, ser rebaixado, ser intitulado de besta, odiar os outros cursos, odiar as outras faculdades, as outras cidades e aprender a aceitar tudo isto sem responder. Isto é praxe, isto também é tão ou mais violento do que se descobre pelos jornais, em notícias com esta. A tradição que não é e que se repete todos os anos. A cultura ao mais baixo nível. A expressão pior do individuo. A perda da individualidade. O corpo acéfalo que se cria e a que se quer pertencer. A integração na falsidade e no engano. Uma entidade homogénea que não questiona, apenas obedece e reproduz, ano atrás ano, sem saber por quê, para quê. Apenas preconceitos e chavões. Isolamento da realidade, fuga da realidade.

Praxe suspensa em Coimbra após agressões a duas alunas

31.03.2012 - 17:51 Por PÚBLICO

O Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra decidiu suspender “todas as actividades” relacionadas com a “praxe de gozo e de mobilização”, depois de ter tomado conhecimento de “atitudes que no mínimo se podem classificar como desviantes”. O Jornal de Notícias diz que a decisão se deve à agressão violenta de duas alunas.


As duas “caloiras” do curso de Psicologia foram esbofeteadas e cabeceadas por um aluno mais velho, que conduzia uma praxe na madrugada de quinta-feira da semana passada, escreve o Jornal de Notícias. Segundo as testemunhas anónimas citadas pelo diário, as alunas recusaram-se a participar, devido à hora avançada, o que não foi aceite. De seguida, o colega tê-las-á obrigado a assinar um documento que as impediria de participar em futuras actividades académicas.

A violência usada pelo aluno mais velho levou as duas “caloiras” ao hospital, para receber cuidados médicos, e depois à apresentação de uma queixa formal na polícia contra o agressor. As jovens, que foram ainda examinadas no Instituto de Medicina Legal, pretendem levar o caso a tribunal.

Sem referir o caso, o Magnum Consilium Veteranorum – ou seja, o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra – emitiu um comunicado, ainda na quinta-feira, no qual dizia ter chegado ao seu conhecimento “que alguns doutores/as desta universidade, no que diz respeito à praxe, andam a ter atitudes que no mínimo se podem classificar como desviantes dos princípios e orientações da Praxe Académica da Universidade de Coimbra”.

No texto, partilhado na página do Conselho no Facebook, é “decretada a suspensão imediata de todas as actividades praxísticas no que diz respeito à chamada ‘praxe de gozo e de mobilização’”. “Como consequência, em nenhuma situação pode neste momento e até à revogação desta decisão, existir qualquer praxe de gozo ou mobilização de ‘caloiros’ desta Universidade”, continua o comunicado, que é assinado pelo “dux veteranorum”, João Luís Jesus, responsável máximo pela praxe em Coimbra.

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Também no JN.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estamos quase em Abril e o ritual das praxes não dá tréguas.
Cabe perguntar, quando começará o ano lectivo?
Esta semana no Largo Camões em Lisboa:
http://anti-praxe.blogs.sapo.pt/

Karlos disse...

"De seguida, o colega tê-las-á obrigado a assinar um documento que as impediria de participar em futuras actividades académicas."

Quer dizer, não ficam impedidas de participar em futuras praxes. Ficam impedidas de participar em Actividades Académicas.
Esta gente tem de ser travada. As praxes tem mesmo de acabar, não sei como.