Associações académicas protestam contra sistema de atribuição de bolsas
Texto de
Lusa, 20/12/2011
Associações de Estudantes do Ensino Superior iniciam protesto de três dias contra o sistema de atribuição de bolsas
As Associações de Estudantes e Académicas do Ensino Superior iniciam
hoje, 20 de Dezembro, três dias de protesto contra o sistema de
atribuição de bolsas, culminando na quinta-feira com uma acção de
sensibilização no Parlamento.
A 10 de Dezembro, reunidas em Braga num Encontro Nacional de
Direcções Associativas (ENDA) extraordinário, as associações estudantis
aprovaram para hoje, quarta-feira e quinta-feira acções públicas como
“forma de protesto” contra o actual Regime de Atribuição de Bolsas para o
Ensino Superior, sob o mote “o Natal está negro”.
Em declarações à Lusa, o presidente da Federação Académica do Porto
(FAP), Luís Rebelo, alertou que “com os contínuos atrasos no pagamento
das bolsas, com as famílias a passar mais dificuldades, com os cortes
salariais, com a taxa de desemprego e quando o sistema de acção social
não consegue dar resposta a estas problemáticas sociais, naturalmente
haverá mais pessoas a abandonar o ensino superior”, tendo este número já
ultrapassado os seis mil estudantes este ano lectivo, em termos
nacionais.
As acções começaram hoje “com a divulgação de uma imagem corporativa
que faz referência a um natal difícil por parte dos estudantes do ensino
superior”, sob o mote ‘o Natal está negro’, sendo esta uma “imagem
muito marcada, com a presença muito forte da cor preta” que vai estar
presente nos jornais, redes sociais, nos sites institucionais das
associações académicas e de estudantes.
“Na quarta-feira teremos acções de sensibilização a nível local que
passarão, em muitas cidades, pela colocação de árvores de natal com
faixas negras, fazendo alusão a essa frase de que o Natal está negro no
ensino superior. É uma acção que se vai replicar em diversas cidades:
Braga, Porto, Coimbra, Lisboa, Setúbal, Faro”, anunciou o dirigente
estudantil.
Acção na Assembleia da República
Segundo Luís Rebelo, para quinta-feira está marcada “uma acção única a
nível nacional, em que os dirigentes associativos, em representação dos
estudantes do ensino superior, se deslocarão a Lisboa para uma acção de
sensibilização na Assembleia da República, que passará também por uma
vigília, fazendo alusão aos mais de seis mil estudantes que, pelas
contas das instituições, já abandonaram o ensino superior” este ano.
“Também faremos uma paragem na secretaria de Estado do Ensino
Superior para sensibilizar para estes problemas. Mais uma vez os atrasos
crónicos na atribuição das bolsas de estudo. É impensável que, ano após
ano, as pessoas continuam a receber as bolsas extremamente tarde”,
condenou.
Para o presidente da FAP “os atrasos são o problema mais crónico do
processo de atribuição de bolsas”, sendo também feita “alusão à questão
dos estudantes do primeiro ano que, ao contrário de todos os outros, só
tiveram uma única fase para fazer o requerimento à bolsa de estudo”.
“Durante a tarde de quinta-feira faremos também, na Assembleia da
República, a entrega de um pequeno manifesto aos partidos que estiverem
disponíveis para receber, no qual daremos conta de algumas posições do
movimento associativo face ao actual ano e aos actuais procedimentos de
requerimento de bolsa de estudo”, antecipou.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Que se passa no ensino superior? (3)
Publicada por serraleixo em quinta-feira, dezembro 22, 2011 0 comentários
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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Que se passa no ensino superior? (2)
Cortes levam universidades a apostar em donativos de alunos
Texto de
Samuel Silva
26/11/2011
Pedir dinheiro a alunos e ex-alunos é uma das soluções que as
instituições de ensino superior estão a começar a explorar como
alternativa aos cortes do financiamento público. A Universidade do Porto
(UP) será a primeira a criar um gabinete de angariação de fundos, em
2012. Em projectos mais específicos, há outras instituições nacionais a
enveredar pelo mesmo caminho.
A instituição em que esta modalidade de financiamento alternativo
ganha principal expressão é a UP, que está a ultimar a criação de um
gabinete de angariação de fundos. O objectivo é "profissionalizar" o
contacto com os potenciais interessados, especialmente os antigos
alunos, estreitando a relação com estes e tentando explorar o sentimento
de "gratidão" com a universidade em que se formaram.
A UP vai criar, em Janeiro de 2012, uma estrutura dependente da
reitoria dedicada apenas a esta função. O modelo de funcionamento estará
definido até ao final do próximo mês e, em breve, duas ou três pessoas
vão começar os contactos com os antigos estudantes.
Antigos alunos são alvo preferencial
A criação deste gabinete de angariação de fundos surge na sequência
de uma primeira experiência bem-sucedida na instituição. No início de
2011, a universidade desafiou a comunidade académica a contribuir para o
financiamento das comemorações do seu centenário. "Os resultados foram
muito interessantes", salienta Raul Santos, coordenador do projecto.
Mais de 600 pessoas responderam ao apelo com uma média das contribuições
de 100 euros. Ao todo, foram angariados cerca de 50 mil euros.
O financiamento das universidades através de donativos de ex-alunos é
prática corrente nos países anglo-saxónicos. Só nos EUA, estima-se que
estas receitas representem anualmente mais 20 mil milhões de euros nos
cofres das universidades. E as instituições portuguesas começam agora a
olhar para esta fonte de receitas como alternativa aos cerca de 600
milhões de euros a menos que vão receber do Orçamento do Estado.
Em 2010, quando foi preciso reabilitar a torre da Universidade de
Coimbra, a instituição pediu ajuda aos antigos estudantes. Recebeu cerca
de 10% dos 300 mil euros que custaram as obras de donativos de
particulares - os restantes foram pagos por uma instituição bancária.
Publicada por serraleixo em sexta-feira, dezembro 09, 2011 0 comentários
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Que se passa no Ensino Superior?
Dificuldades económicas forçam desistências no Ensino Superior
Novo regulamento das bolsas de estudo pode vir a agravar número de desistências
Texto de Ana Chaves 06/12/2011
O número de estudantes que abandona o ensino superior terá tendência a
aumentar. Marta Coelho, de 22 anos, conhece bem as dificuldades de
prosseguir os estudos com dificuldades económicas. Iniciou o percurso
académico aos 17, mas já foi obrigada a interrompê-lo várias vezes.
Em 2006 ingressou na Licenciatura em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
Com uma situação financeira débil, Marta conta que havia períodos em
que não conseguia comparecer às aulas por não ter dinheiro para almoçar.
A residir em Santa Maria da Feira, a prioridade no início do mês era
tirar o passe. Quando tinha aulas todo o dia a solução era almoçar na
faculdade. Porém, dias existiram em que “nem um euro tinha na carteira.”
Era uma amiga que a ajudava: “Quando me emprestava cinco euros, eu
almoçava na cantina e o que sobrava levava para casa. Dois euros e meio
já davam para o meu pai pôr gasolina e ir trabalhar.”
Nunca reprovou a nenhuma cadeira. Acompanhava as aulas com os
documentos que os professores disponibilizavam e mesmo com estes
percalços formou-se com média de 16 valores.
"Se não fosse a bolsa, não tinha tirado o curso"
Com um agregado familiar numeroso, Marta e as irmãs sempre tiveram
bolsas de estudo ou bolsas de mérito. Quando terminou a licenciatura
viu-se obrigada a parar durante um ano. Fazia trabalhos esporádicos e
tentava amealhar dinheiro para um dia voltar a estudar. E assim foi.
Actualmente é mestranda em Sociologia na FLUP, mas desta vez não
conseguiu sequer frequentar as cadeiras do primeiro semestre.
Resiliente, e com receio de ter de protelar os sonhos uma vez mais,
envia currículos para todo o lado. “Eu só quero um trabalho, já nem peço
o Euromilhões, nem sequer um emprego. Gostava de chegar ao fim do mês
com algum dinheiro, pouco ou muito... tanto faz.”
"Percebi que não podia continuar"
Já Carolina Araújo, de 23 anos, não teve o mesmo destino. Frequentava
o terceiro ano da licenciatura em Ciências da Comunicação na
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, mas a crise acabou por ditar um término definitivo.
Em entrevista telefónica ao P3, Carolina, que não era bolseira,
percebeu, durante uma conversa com o pai, que não podia continuar na
faculdade, ainda que estivesse no último ano.
Nunca chegou a pedir ajuda, embora o pai tenha precisado de contrair
empréstimos. Foi ao cinema, diz, duas ou três vezes e não comprava "bens
pessoais" como roupa, por exemplo. Entre outras medidas de austeridade,
almoçava sempre em casa, fumava menos e evitava tirar fotocópias:
"Perguntava aos professores se não podiam pôr [a matéria] online, porque
as fotocópias eram muito caras."
Actualmente, Carolina é administrativa, reside em Lisboa e emigrar
não faz parte dos seus planos - pelo menos a curto prazo. Não pensa,
também, voltar à faculdade, mas tem pena de não poder trabalhar na área
da comunicação.
O novo regulamento das bolsas de estudo pode agravar o cenário: cerca de 30 mil pedidos foram indeferidos. Em 2012 a situação deverá agravar-se, consequência dos cortes
que ultrapassam os 178 milhões de euros no Ensino Superior. Segundo o
Diário Económico, em Janeiro e Fevereiro de 2011, os cancelamentos de
matrículas e desistências aumentaram em 20%, valor que ultrapassa os
números registados em todo o ano de 2010.
Publicada por serraleixo em sexta-feira, dezembro 09, 2011 0 comentários
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