Praxe: o desejo de obedecer hoje para comandar amanhã
Texto de Mariana Correia Pinto, Público, 30/01/2012
"Praxis", curta de Bruno Moraes Cabral, tenta fazer um retrato "quase sociológico" das praxes nas universidades portuguesas. Uma prática que se generalizou, mas que não é consensual
Depois de poucos dias de filmagem, já nada surpreendia Bruno Moraes
Cabral. O realizador da curta-metragem "Praxis" andou por 19 faculdades,
nas universidades de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Évora e Beja, durante
três meses. Em todo o lado as mesmas brincadeiras, as mesmas palavras de
ordem, os mesmos jogos. Em todo o lado o mesmo sentimento latente:
“Independentemente de tudo o que me aconteceu, de bom e de mal, no
próximo ano vai ser a minha vez”.
A interpretação de Bruno Moraes Cabral parte de uma observação “quase
sociológica”, sem conceitos previamente definidos. O que o jovem
realizador de 32 anos quis mostrar não foi a praxe camuflada, foi aquilo
que “os estudantes fazem no dia-a-dia nas praxes e acham que faz parte
[do ritual normal]”.
Os extremos não fazem parte de "Praxis",
vencedor do prémio de melhor curta-metragem no Doc Lisboa em 2011.
Sempre que chegava a uma faculdade, Bruno Cabral dirigia-se aos
“doutores” e pedia autorização para filmar. O pedido foi quase sempre
aceite - "Houve uma ou outra vez em que pediram para voltar noutro dia,
em Évora só pudemos filmar uma vez e a noite de Coimbra foi mesmo
barrada, disseram-me que nem imaginava o que podia acontecer".
Semelhanças entre faculdades
A palavra praxe surge pela primeira vez em 1863 e começa por ser uma
prática na Universidade de Coimbra; hoje, é um ritual “que se
generalizou em todas as universidades”. Durante as filmagens, uma das
coisas que mais surpreendeu Bruno e Carlos Isaac, da direcção de
fotografia, foi a semelhança dos rituais entre diferentes universidades:
"O tipo de cerimónia, jogos e palavreado era muito parecido entre
faculdades, muito mais do que o que estava à espera."
Para Bruno, havia um grande desafio: fazer com que as pessoas que
estão mais envolvidas nas praxes conseguissem ver-se com algum
distanciamento através no filme. E levar à reflexão: "Por que é que
alguns [alunos] sentem mesmo necessidade deste tipo de processos para se
integrarem nas universidade? É claro que há muitas formas de integração
nas universidades, a praxe é apenas uma delas".
Na Escola Superior de Teatro e Cinema que Bruno Cabral frequentou não
existia praxe. Mas, e se tivesse existido? "Se fosse nesta base de os
mais velhos me obrigarem a fazer coisas que não acho que sejam muito
interessantes para desenvolver um espírito crítico e de reflexão,
provavelmente até me oporia."
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Praxis, de Bruno Cabral
Publicada por m.a.t.a. em segunda-feira, janeiro 30, 2012
Etiquetas: Bruno Cabral, comunicação social, Doclisboa 2011, documentário, Notícias, praxe, Praxis
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