quarta-feira, 23 de abril de 2008

A impunidade continua...



Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros absolvido no processo das praxes promovido por uma aluna

O Tribunal de Macedo de Cavaleiros ilibou de qualquer responsabilidade o Instituto Piaget, num processo movido por uma ex-aluna do estabelecimento de ensino, que exigia uma indemnização de 67 mil euros por danos morais e materiais sofridos depois de ter sido "vítima de praxes violentas" que, segundo a queixosa, a levaram a abandonar o instituto. O gabinete de Comunicação e Imagem do Piaget explicou, em comunicado, que a sentença proferida pelo tribunal reconhece que a instituição de ensino "não foi responsável pelos factos ocorridos em Setembro de 2002, durante a praxe da Escola Superior de Saúde", onde Ana Damião ingressou como aluna da licenciatura em Fisioterapia. A juíza considerou que "a aluna consentiu nas praxes a que foi sujeita", refere o comunicado, e que posteriormente "exagerou nas denúncias que formulou contra a escola". As praxes em causa, de acordo com o tribunal, "não ofenderam a moral pública e não chocaram com a consciência ou sentimento ético-jurídico da comunidade, não se podendo formular um juízo de censura ou reprovação dirigido ao Instituto Piaget". A advogada da queixosa, Elisa Santos, confirmou a sentença. "Já comuniquei a decisão à minha cliente e espero que ela me diga se vamos recorrer ou não para o Tribunal da Relação", acrescentou. Este desfecho surpreendeu a causídica que, em Julho de 2007, se mostrava bastante confiante, depois de conhecer a matéria dada como provada pelo tribunal. Por exemplo: "Ficou provado que a direcção Piaget tinha conhecimento e aceitava com naturalidade a existência e o conteúdo das praxes no instituto; conheceu os factos ocorridos com a aluna; que a Ana ficou revoltada, triste e humilhada, na sequência do ocorrido; a degradação do estado de saúde da Ana, consequência de todo o processo, levou-a a abandonar a faculdade."

23.04.2008, Ana Fragoso, Público

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Que respondes tu?

Estou perturbada pelo tema do "incidente do telemóvel", mas ao contrário do que se tem ouvido, a minha perturbação vem exactamente da análise que se tem feito do caso.
As palavras "autoridade", "família", "punição" (palavras muito usadas durante o Estado Novo), que têm entrado em quase todos os discursos (e que transformam as "pessoas mais novas" como pessoas inferiores) são tão antigas e obsoletas quanto o sistema de ensino.


Será normal que a Escola continue a ser apenas um local de reprodução e não de renovação de ideias? Esperamos nós que a Escola "ponha as crianças na linha" em vez de as ajudar a encontrar autonomia e autodeterminação? Queremos que saiam da Escola bons profissionais (precários, claro, que os tempos não estão para melhor) em vez de pessoas com ideias, capacidades e vontades de reinventar a sociedade?

Será que queremos impor desde cedo a estratificação da hierarquia que "nos manda obedecer" (aos pais, aos professores, aos patrões, aos polícias)?
Esperamos nós que a Escola seja um local de medo e retracção, vigiado por polícias e colegas, em vez de um espaço de liberdade onde as diferenças se respeitam?
Queremos que se ache normal que os professores roubem os telemóveis dos alunos, em vez de querermos que a Escola se reinvente e se adapte ao presente?

Eu respondo a tudo que não.


Ana Feijão