sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Testemunho de uma praxe

O seguinte testemunho chegou à caixa de correio electrónico do MATA. Depois de se pedir autorização à pessoa que o enviou publica-se agora no blogue. A gravidade da situação é gritante.
(a identidade do autor do testemunho e a faculdade foram ocultadas)

«Olá eu sou um aluno do de uma faculdade de Lisboa, estou a escrever-vos para expor e dar dum desabafo de situações que ocorreram devido às praxes praticadas neste estabelecimento de ensino.
 
Eu tive e ainda ando a ter uma muito má experiência devido às praxes.
Na minha faculdade é muito frequente haver cânticos muito homofóbicos com nomes como p******** e afins, simulações de actos sexuais onde a homossexualidade é tida com uma coisa negativa e repugnante, e essa homofobia acaba por ser transposta para todo o ambiente académico/escolar.
Acontece que eu descobri a minha homossexualidade quando já estava no 2º ano na minha faculdade, apesar de estar no 1º ano do curso por eu ter mudado de curso, e o que eu senti foi uma enorme repressão e um enorme pânico. Devido a toda a homofobia que se vive senti que ia ser excluído e mal tratado se fosse descoberto. Senti-me mal em estar na faculdade, senti que não era bem vindo lá, senti que lá eu não podia ser "eu" sob pena de ser excluído. Devido a isso tudo o meu rendimento escolar desceu imenso.
Entretanto, acabei por me assumir e contei ao pessoal as razões porque eu me sentia mal, e o resultado foi muito negativo, disseram que não iam parar os comentários só por haver um gay na faculdade e nós tínhamos de apanhar com aquilo e aguentar, cheguei a falar e expor a minha situação a pessoal que pertence à comissão de praxes tendo obtido o mesmo resultado.
Devido a essas situações, fui pedir apoio ao gabinete de apoio ao aluno na minha faculdade, o qual me pediu para expor o caso por escrito ao presidente da faculdade. Assim o fiz e não obtive resultados práticos nenhuns. Devido a isso decidi fazer uma denúncia do que se passava à inspecção geral do ensino superior onde expus o meu caso, e daí resultou um auto de declaração que foi enviado à faculdade, tendo resultado num inquérito onde são confirmados esses cânticos homofóbicos, mas esses são considerados aceitáveis, por supostamente não serem dirigidos a ninguém e de serem tradição lá há muito tempo. Para além disso relatei o caso ao observatório da educação da rede ex aequo, onde o meu caso apareceu referido no seu último relatório e onde foi noticiado na comunicação social.
Resultado, agora ando a sofrer uma grande retaliação verbal e psicológica, com ameaças indirectas a minha integridade física, o pessoal passa a vida a mandar-me bocas e apontar-me o dedo, os meus supostos amigos abandonaram-me completamente, sinto uma grande hostilidade no ambiente na faculdade e sinto-me completamente sozinho, não tenho apoio nenhum por parte da faculdade, e até tenho receio vir a ser prejudicado nas notas. O que vale é que tenho tido apoio de verdadeiros amigos de fora e que se não fossem eles eu não estaria aqui hoje.»

O mais grave nisto tudo, para além de mais uma prova da homofobia presente na maioria das praxes conhecidas que lhes confere um carácter retrógrado, discriminatório e extremamente ofensivo, é a falta de capacidade das instituições em lidar com um caso criminoso, de discriminação com base na sexualidade de uma pessoa, punível por Lei, evidente e até confirmada por um inquérito que ocorreu e continua a ocorrer nas praxes.
A praxe está fora da Lei e isso é inadmissível!